sábado, 30 de março de 2019

O CRIME QUASE PERFEITO


"“Através de um amigo lá de Gaia conseguimos aceder à correspondência do Benfica. Aquilo não diz grande coisa, mas se embrulharmos bem um ou dois mails até podemos gerar alguma polémica, e depois fazer o máximo de barulho. Vocês vão criar blogues para explorar o assunto, e infiltrarem-se em fóruns benfiquistas com dezenas de perfis falsos para causar ruído e desunião. Entretanto, arregimentamos um lote de jornalistas simpáticos, cirurgicamente colocados nos vários grupos de media, para dar eco ao que for sendo divulgado. Depois, com gente amiga, criaremos um conjunto de fake news que ajudem a construir a imagem que pretendemos: a de um Benfica corrupto.”
Terá sido mais ou menos isto que foi dito na célebre reunião secreta do Altis, entre as direcções de comunicação de Porto e Sporting.
O crime parecia perfeito, mas, como acontece nos filmes, falharam alguns detalhes. Primeiro, os benfiquistas não reagiram como eles esperavam e mantiveram-se unidos em torno do clube. Depois, o presidente do Sporting foi corrido. Por fim, o pirata foi descoberto e preso.
Quando lemos certas notícias, ou vemos algumas peças televisivas, verificamos que parte daquela estratégia ainda está de pé. E percebemos que a comunicação baixou a um nível nunca antes visto, entrando de cabeça na era da pós-verdade, em que os factos são o que um homem quiser.
Agora procura-se branquear o crime informático. Seja através de uma estação de televisão parceira do Der Spiegel (que comprou produtos do roubo), seja pela boca estridente de uma eurodeputada que fez carreira a gritar por quase tudo sem perceber de quase nada."

Luís Fialho, in O Benfica

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