"No agradecimento de Jonas percebemos bem que são verdadeiras as palavras de Shakespeare: «A alegria evita mil males e prolonga a vida»
1. Há momentos em que as palavras sofrimento e solidariedade se combinam. Sabemos com François Fénelon que «aqueles que nunca sofreram não sabem nada; não conhecem nem os bens nem os males; ignoram os homens; ignoram-se a si próprios». E com Clarence Darrow aprendemos que «o homem que luta por outro é melhor do que aquele que luta por si próprio». Face ao drama imenso que atinge Moçambique, em particular a cidade da Beira, Portugal está a dizer presente. O Estado, as organizações não governamentais, a sociedade civil, o mundo do desporto. A realização no próximo dia 30 - pelas 16 horas, no Estádio do Restelo, do primeiro dérbi entre Benfica e Sporting em futebol feminino e com a receita a reverter para a ajuda a Moçambique é um exemplo efectivo de solidariedade e de responsabilidade social. Este jogo organizado em boa hora pela nossa Federação terá em disputa o Troféu Vicente Lucas, um dos mais marcantes internacionais portugueses e nascido em Moçambique! E os exemplos de solidariedade multiplicam-se a muitos clubes e, também, à Fundação Benfica! Eu que conheci e senti, como académico, Maputo e guardo memórias de um saudoso Tio-Avô - o Almirante Rodoredo e Silva - que foi Presidente da Câmara da Beira, não deixo de saudar, por ser de elementar justiça, a imediata disponibilidade da Euro Atlantic, na pessoa do seu líder o Dr. Tomaz Metello, para a afectação de dois dos seus aviões para o envio de necessidades urgentes ao povo irmão de Moçambique. Sofrimento e solidariedade!
2. Ao escutarmos o sentido agradecimento de Jonas no momento da justa entrega de um prémio Cosme Damião percebemos bem que são verdadeiras as palavras de William Shakespeare: «A alegria evite mil males e prolonga a vida». Jonas encontrou no Benfica um acrescido sentido de Vida! Não desejado no Valência sentiu-se acarinhado no Benfica. Nele houve dor e hoje já prazer! Nele houve sofrimento e hoje há reconhecimento. E nele percebemos por aquela emoção que estremeceu o Campo Pequeno na quinta-feira que o reconhecimento não envelhece! É dito e é sentido. É assumido e em voz alta. E o verdadeiro desportista, e naturalmente cada benfiquista, sentiu-se tocado por aquelas palavras de profundo reconhecimento. Pela vida Vivida. Por tudo o que o Benfica lhe proporcionou. E cada um de nós aplaudimos, com idêntica emoção, todos os grandes momentos que Jonas nos concedeu nos relvados e, em particular, no Estádio da Luz. Como Miguel de Unamuno diremos que «quem não sente a ânsia de ser mais não chegará a ser nada». E Jonas, quase a fazer anos, - não é mentira! - foi e fez mais. Marcou e ajudou, abraçou e motivou, acreditou e honrou! E por tudo isto este jovem Jonas vai ser um dos eixos marcantes da ambicionada reconquista!
3. Mais uma vez iniciámos uma fase de grupos de acesso a um Europeu - como ocorreu com os dos Mundiais - sem o doce sabor de uma vitória. Na sexta-feira, com um Estádio da Luz cheio de muitas Famílias, não conseguimos ultrapassar a Ucrânia. Para alegria dos muitos (as) milhares de ucranianos (as) que trabalham em Portugal. E que não tiveram o coração dividido já que vibraram e muito com o saboroso empate alcançado, com mérito, pela sua selecção. Portugal foi a melhor equipa, mas a Ucrânia foi sólida e cautelosa. E mesmo no final foi ousada e quase que provocava uma grande surpresa. Segue-se amanhã a Sérvia sem Fejsa ou Matic, entre outros jogadores. Vai ser outro jogo sofrido. E em que acreditamos que Fernando Santos vai fazer cirúrgicas alterações do nosso onze inicial. Depois do empate frente à Ucrânia importa ganhar à Sérvia. Sob pena de mantermos o nosso registo de deixarmos as contas do apuramento para os derradeiros minutos! Com a singularidade de sermos os campeões da Europa em título e de ser relevante marcamos presença na fase final deste Europeu que vai abraçar muitas cidades desta Europa diferente e diversificada. E com o sonho de chegarmos a Londres no arranque do Verão de 2020. Mas antes de qualquer outro jogo para este Europeu teremos no Porto - e também em Guimarães - a final four da Liga das Nações! No final desta Primavera que já cheira a Verão!
4. Dyego Sousa foi o sétimo jogador não originariamente português a jogar pela Selecção Nacional de futebol. Em outras modalidades o número é bem mais expressivo e sem que haja nem grande nota pública nem mesmo aprofundaras abordagens. Depois de David Lúcio, Lúcio, Celso, Deco, Pepe e Liedson surge a vez, pela mão de Fernando Santos, do avançado do Sporting de Braga: Dyego Sousa. Vivemos tempos em que as duplas e triplas naturalidades se multiplicam. Neste mundo de erasmus as relações familiares são múltiplas. Os filhos nascidos dessas relações têm dois passaportes, falam as duas línguas dos seus progenitores mais a língua comum deste nosso tempo, o inglês. Mesmo com brexit! E esta tendência vai chegar, na sua integridade, ao desporto. E à realidade das selecções nacionais. Já que há muito chegou ao movimento olímpico e à busca do orgulho do ouro olímpico! Mas esta nova internacionalização na Selecção Nacional de futebol tem de ser vista como um marco deste tempo e não como uma renuncia a uma essência que o momento já não regista. Sob pena de o desporto ser, ainda mais, o espaço de nacionalismos perturbantes! O que sabemos é que Dyego Sousa chegou a Portugal, e para o Nacional da Madeira, ainda com 17 anos! Para já foi o sétimo! Acredito que ainda este ano teremos um oitavo! Sem drama! Melhor sem dramas! Mas sempre com a certeza que Pitigrilli nos legou: «Tudo deve ser discutido. Sobre isso não há discussão»!
5. A Federação Portuguesa de Futebol - mais a Liga, naturalmente - apresentou aos clubes participantes na principal liga das competições profissionais um estudo conducente à reestruturação do futebol português. Diria que implica reorganização das competições, alteração dos quadro competitivos, mecanismos de promoção dos jogadores formados localmente, incentivos fiscais e avaliação de modelo de redistribuição financeira mais solidária. Acredito que é urgente esta reflexão e que a curto prazo escutaremos relevantes vozes do futebol europeu que ajudarão a uma serena discussão. E sabemos, em particular neste momento religioso, as «as discussões são como as luzes de velas acesas na escuridão»!
6. Depois deste período de selecção teremos o regresso em exclusivo das competições de clubes. Internas e europeias. Temos de decisão. E com acrescidas exigências para a designação dos árbitros. Como a confiança, a face ao que dispõe, que importa dar ao Conselho de Arbitragem!"
Fernando Seara, in A Bola
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