terça-feira, 4 de agosto de 2020

"O COLUNA DAS COISAS SIMPLES"

"Era vaidoso, gostava de filmes de acção e de bolos e guardava com estima a bola que tinha rolado no seu jogo de despedida

Mário Coluna nasceu a 6 de Agosto de 1935, em Moçambique, e cresceu a brincar na rua. Desportista nato, deu um pezinho em várias modalidades antes de se decidir pelo desporto-rei. No início da adolescência descobriu o boxe e começou a entrar em combates amadores. Antes em Moçambique, foi um grande corredor e recordista de salto em altura e também jogou basquetebol! O futebol foi a modalidade que sempre esteve presente na sua vida, desde pequenino. O seu pai fundou o Grupo Desportivo de Lourenço Marques, uma filial do Benfica, e ali Coluna jogava a júnior de manhã e nos seniores à tarde. O seu talento chegou a Lisboa e os dois grandes, Sporting e Benfica, queriam-no nas suas equipas. A proposta foi igual: 100 contos. O factor decisivo foi o coração de Coluna, vermelho por natureza.


No dia da viagem para Portugal, Coluna sentia-se particularmente vaidoso, por isso escolheu vestir um fato de linho e até comprou uns sapatos especialmente para aquela ocasião. Mas a viagem durou umas intermináveis 34 horas e quando, finalmente aterrou, tinha o fato todo amarrotado e os pés tão inchados que não cabiam nos sapatos!
Jogou 16 épocas de águia ao peito, 7 das quais com a braçadeira de capitão. Venceu 10 Campeonatos Nacionais, 6 Taças de Portugal, 3 Taças de Honra e foi o primeiro africano a erguer a Taça dos Clubes Campeões Europeus. Mas, longe as luzes da ribalta, Coluna era um homem como os outros. Gostava de batatas fritas, de laranjas, de filmes de acção e de bolos. Numa entrevista dada ao Diário de Lisboa, no fim da sua carreira, foi apelidado de 'Coluna das coisas simples'. E era-o, de facto. Humilde, era muito apegado às memórias, mas já tinha perdido o rasto aos objectos acumulados. 'Tinha centenas de galhardetes que já nem sei onde andam', inclusivamente uma medalha de ouro, 'que o Brasil só dá por grandes feitos aos brasileiros que se tornam a modos que heróis. Eu tenho-a, deve estar por aí, numa dessas gavetas'. Mas havia um objecto que guardava com grande carinho: a bola que tinha rolado na sua festa de despedida do Benfica, autografada por todas as vedetas que foram jogar à Luz, '(...) tem um valor inestimável', confessou.


Saiba mais sobre os feitos de Coluna na área 23 -Inesquecíveis, no Museu Benfica - Cosme Damião."

Marisa Furtado, in O Benfica

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