"Excepção feita a Dias da Cunha, não me recordo de ver um presidente do Sporting a denunciar aberta e sistematicamente a podridão do futebol português fomentada por um FC Porto desde há décadas orientado para a guerrilha sob as mais diversas formas e vontades.
Frederico Varandas, o actual presidente leonino que agora muitos elogiam por, no calor do momento ter tecido declarações tão inflamadas quanto certeiras, é o mesmo que ainda há poucos meses, no conforto do seu gabinete, patrocinou um acordo com o FC Porto de cedência mútua de jogadores por montantes hipervalorizados face ao valor de mercado (por exemplo, o constante no site Transfermarkt), com consequências, no imediato, muito positivas a nível contabilístico param ambos os clubes.
Passar tão depressa de parceiro num negócio destes para um mártir da denúncia pública não cola. Ou será que os tais quarenta anos de Pinto da Costa no futebol português até são úteis para alguma coisa?
Proferir, ocasionalmente, uma afirmação inflamada é curto e inconsequente. Não chega, por certo, para paladino da insurreição nem proto-regenerador-mor do futebol português, muito menos é um acto heroico de quem, nos anos que leva de presidência do Sporting, sendo certo que em duas ocasiões se insurgiu publicamente contra o estado das coisas, no resto do tempo assobiou para o lado. Como, aliás, o fez sempre que o Benfica foi a vítima do terceiro-mundismo recorrente naquele estádio do quando o terrorismo comunicacional feito ao Benfica não incomodou minimamente, até por serem evidentes os benefícios colaterais dessa canalhice para o Sporting.
Não quero com isto dizer que Varandas deva tomar as dores do Benfica. Mas considero uma piada de mau gosto ler e ouvir tantos elogios a quem, na posição em que se encontra, tenha optado pelo silêncio conivente quanto ao maior ataque, para mais despudorado e ilícito, alguma vez empreendido por um clube a outro em Portugal.
Varandas tem razão quando fala em 40 anos, é pena que só lhe ocorra quando lhe dá jeito."
João Tomaz, in O Benfica
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