quinta-feira, 17 de novembro de 2022

BENFICA: EUFORIA E RISCOS DO SUCESSO DESPORTIVO

 


"Lá vamos até ao Mundial e os benfiquistas como eu, "de barriga cheia", impantes na liderança do campeonato, apurados para os oitavos na Champions e na Taça de Portugal, num percurso de 25 jogos sem mácula! Os nomes do sucesso são conhecidos, todos os jogadores em primeiro lugar, porque são eles que chutam à baliza adversária ou defendem a nossa, excelentemente liderados por Schmidt (e seus adjuntos) e… Rui Costa!
Os encómios são tantos, escritos durante estas semanas, que me escuso a referir muito mais porque tudo já foi dito. O ritmo de jogo, a pressão alta, a verticalidade e intensidade do jogo, levam a uma euforia generalizada entre os adeptos (onde me insiro), conforme se lê nas redes sociais e se nota nos estádios, jogue onde jogar o Benfica.
Dizer que me congratulei com a contratação por Rui Costa de um técnico estrangeiro, é completamente secundário, mas claramente precisávamos de alguém mesmo de fora para quebrar os ciclos derrotistas e por isso expressei a minha total concordância, logo eu que discordei da sua lista de continuidade de LFV, como é público desde que me afastei do BBM (mas jamais do Benfica)!
Se eu esperava que Rui Costa acertasse tanto neste Schmidt, com estes jogadores? Claro que não. Ambos superaram largamente as minhas expectativas, para gáudio dos benfiquistas. Se vai ser assim até ao final da época? Bem o desejo, mas são tantas as incertezas pela frente que me causam forte preocupação e são a razão deste artigo.
Comecemos pela vertente desportiva. O notório sucesso desportivo torna-se impossível não ser notado no mundo da bola, leia-se os "malfadados" tubarões, com acessos a fundos inesgotáveis, seguramente exógenos ao futebol. Jogando os nossos contra o PSG, apurados para os oitavos como líderes do grupo, os holofotes estão todos em cima da nossa equipa, em particular dos jogadores talentosos mais jovens, sobretudo os que vão ao Mundial.
A dúvida hoje está instalada: após o Mundial, em janeiro 2023, haverá saídas dos principais jogadores do plantel, por exemplo António ou Enzo? Ninguém sabe, mas existe o sério risco de, subitamente, esses tais clubes baterem as cláusulas de rescisão, pagando fortunas inatingíveis para qualquer clube português. Se há pessoa que não precisa de avisos nesta matéria é Rui Costa, jogador do Mundo como foi, um Presidente internacionalmente reconhecido. Certamente que estará de sobreaviso, procurando alternativas de qualidade em mercados acessíveis para quaisquer surpresas que certamente já não o serão.
Outro tema que me preocupa (e vou ser claro) é o da possibilidade da saída do Dr. Domingos Soares de Oliveira (DSO), na minha opinião um profissional de gabarito. As notícias publicadas indiciam existir um movimento com origem dentro do Benfica (Clube), acionista maioritário da SAD, por razões que desconheço. Sinceramente, sem acesso a qualquer informação privilegiada, a minha leitura é simples: para os dirigentes do Clube, DSO deixou de ser peça fundamental, tornando-se descartável, existindo seguramente a convicção de que poderá ser substituído com facilidade.
Os mais informados sabem que (i) fui o único (pequeno) acionista na Assembleia Geral da SAD que votei contra a sua nomeação como Administrador, exatamente por, na altura, ser adepto do Sporting; (ii) sobretudo desde 2014 quando LFV celebrou uma parceria estratégica com Jorge Mendes que me afastei da Direção e posteriormente apoiei Rui Gomes da Silva à Presidência, cilindrado por LFV nas eleições; (iii) fiz parte do BBM, um movimento que juntou uma plêiade de potenciais dirigentes, incluindo um putativo substituto para DSO, e do qual me afastei pela decisão dos seus dirigentes integrarem a lista de Rui Costa. Ou seja, concluindo, considero estar à vontade para estranhar esta saga persecutória, quando o objetivo deveria ser manter uma estabilidade, em todos os campos, para garantir o sucesso desportivo.
Aliás, convém não esquecer que tivemos eleições no Clube há cerca de 13 meses, na sequência das quais foram nomeados novos órgãos sociais a SAD, com muitas mudanças na Administração, mas em que DSO foi reconduzido. Podem explicar-me o que mudou em tão curto espaço de tempo? Haveria um DSO e agora haverá outro? Ou tudo se resumirá, especulando eu, a lutas de poder entre o Clube e a SAD, no sentido de saber quem se sobrepõe?
Sejamos claros, os cemitérios estão cheios de insubstituíveis, mas há alguns que fazem mais falta do que outros. Outra verdade irrefutável é que ninguém é eterno e sempre fui defensor da rotação em determinados lugares (ex: sempre defendi a limitação de mandatos na presidência do Benfica). Assim, para mim, a questão essencial nesta matéria não é o substituir DSO, mas o "timing" da sua substituição, absolutamente desnecessária nesta altura e, como se tem comprovado, foco de indiscutível perturbação.
Estou de fora, mas suficientemente por dentro para temer consequências de emoções na área da gestão e uma coisa posso afirmar sem receio de me enganar: o lugar tem de ser ocupado por um profissional de elevada competência porque fogachos todos fazem (fazemos), mas, se não existir essa competência que defendo, será questão de tempo até surgirem as debilidades estruturais mais que certas em certos lugares e este é, indiscutivelmente, um deles. Se pensam aproveitar a paragem do Mundial para correr com DSO, crendo que não terá impactos substanciais nas finanças e organização interna, por muito bom que seja quem o substitui, só tenho um comentário a fazer: ou é inconsciência, ou irresponsabilidade ou grave incompetência.
Concluindo o tema: façam o que entendam porque foram eleitos para tomarem decisões, mas não me (nos) estraguem o sucesso no futebol."

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