quinta-feira, 26 de outubro de 2023

ÁGUIA DEPENADA!

 


"Esta águia, como dizia a expressão antiga, não tem ‘rabo para duas cadeiras’

A simples ideia de um Benfica incapaz esta época de competir na Europa a um nível, sequer, parecido com o da época passada pode realmente ser assustadora para o mais comum dos adeptos. Não é apenas o facto de ter somado ontem a terceira derrota em três jogos da Champions; é sobretudo a imagem de uma equipa demasiado frágil e demasiado vulnerável para evitar a segunda derrota em pleno Estádio da Luz e frente a adversários que, apesar das qualidades e virtudes, não são da primeira linha europeia.
Salzburgo e Real Sociedad foram, simplesmente, capazes de jogar como equipa, ao contrário das águias, que deixam, desta vez, à Europa do futebol a imagem de uma equipa longe ainda, como costumam dizer os treinadores, de ter um coletivo.
Dirão, certamente, os benfiquistas mais pessimistas que estas derrotas europeias não deixarão, porventura, de provocar inevitável mossa no futuro imediato da equipa; dirão os mais otimistas que sair, desta vez, da Europa poderá ser, quem sabe, a solução que leve a águia a encontrar a estabilidade que precisa e o foco indispensável à mais importante das competições, que é inegavelmente o campeonato, ainda mais numa época que qualificará diretamente apenas o campeão para voltar à Champions.
Compreende-se, naturalmente, a forte desilusão dos adeptos e o impacto negativo na própria equipa de mais esta derrota (será que foi assim tão surpreendente?) na grande prova europeia de clubes. O Benfica não está, na realidade, a saber gerir as expectativas criadas, e o momento das águias, afinal, parece dar razão aos que consideraram um feliz acaso as duas vitórias (importantes e significativas, sem dúvida) sobre o grande rival FC Porto.
As palavras do próprio Roger Schmidt, afirmando, na véspera de receber a Real Sociedad, que para as águias as vitórias mais importantes são as obtidas sobre os portistas, por mais intencional que tivesse sido o tom de brincadeira, não deixam de revelar o estado de espírito de um treinador que sabe, perfeitamente, que esta sua segunda versão da águia está (inexplicavelmente?) ainda longe de chegar aos calcanhares da primeira, por maior que seja a expectativa criada por reforços como Kokçu, Dí Maria ou mesmo o ainda desconhecido Arthur Cabral.
Este Benfica não parece ainda, na realidade, uma equipa e é isso, certamente, o que mais preocupa os adeptos. Em plena Luz, e sob o olhar de muitos milhares de benfiquistas, a águia teve ontem, não há outro modo mais objetivo de o dizer, momentos em que se viu a levar um autêntico banho de bola de um adversário espanhol que é forte, joga muito bem, tem um coletivo mais estável e há mais tempo construído, que começou em bom nível o seu campeonato apesar de, entretanto, já ter descido ao 5.º lugar, mas não é, de todo, uma equipa, volto a sublinhar, da primeira linha europeia, e esse facto penaliza ainda mais a pobre exibição do campeão português.
Há uns anos, sobre a ambição das equipas portuguesas nas provas europeias ao mesmo tempo que tinham de discutir os títulos nacionais, popularizou-se, de certo modo, a expressão ‘ter ou não ter rabo para duas cadeiras’. Pois agora, ao ver-se a águia tão depenada na Liga dos Campeões (três jogos e zero pontos e, pior do que isso, com dois jogos já realizados em casa!!!), o que me ocorre é a ideia deste Benfica em segunda versão de Schmidt estar a mostrar não ter, na verdade, ‘rabo para duas cadeiras’, e nesse sentido, por mais cruel que possa inicialmente parecer, talvez o melhor mesmo para as águias seja, desta vez, repito, dizer adeus à Europa e poderem, assim, focar-se nas competições internas, muito em especial no campeonato, evidentemente, porque, queiram ou não os mais saudosistas dos velhos sucessos europeus, é o campeonato a prova mais importante para qualquer dos nossos mais fortes competidores.
Uma palavra final, naturalmente, para a extraordinária réplica dada pelo SC Braga ao todo poderoso Real Madrid. Admito, aliás, que faça a águia corar um pouco mais de vergonha!"

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