quinta-feira, 15 de maio de 2025

ERROS MEUS... MAIS FORTUNA

 


"Não haverá um grande campeão esta temporada, já o sabíamos há algum tempo, mas no final é sempre assim: quem ganha celebra e quem perde justifica-se. E é mais que provável, ao dia de hoje, que o Sporting celebre e o Benfica tenha de se justificar uma vez mais. As águias voltaram a investir muito para conquistar pouco e acumulam um só título de campeão nas últimas seis épocas. Dá que pensar.
Ambos os clubes cometeram erros relevantes. Anoto dois (ou três) no Sporting: a troca de Ruben Amorim por um João Pereira totalmente inexperiente - mesmo se considero o último mais vítima que culpado - e um mercado de janeiro falhado, que deixou o meio-campo sem alternativas quando já não havia muitas opções e, não tendo Pote para mais alguns meses, um ataque reforçado apenas com Biel (e está tudo dito). Se acontecer o que parece provável, a época pode acabar muito bem, com o título, ou em glória, com uma dobradinha, mas os erros fizeram parte dela e não foram pequenos. O terceiro pode ter sido a escolha de Rui Borges, que nunca apresentou grande rendimento coletivo, tomou opções muito discutíveis (depois do que se criticou Roberto Martínez, que dizer do técnico leonino a propósito de Quenda?) e teve momentos de comunicação muito infelizes (sobre Harder ou o Gil Vicente). Não provou, por enquanto, ser treinador para o Sporting e (ainda) corre o risco de falhar um campeonato tendo Gyokeres no plantel, o que dificilmente se perdoaria. Contudo, se se confirmar campeão, terá o seu cantinho na história, como outros antes. Isso e a responsabilidade de preparar a próxima época, verdadeiramente a primeira depois de Amorim.
O Benfica cometeu erros no plural, mas um deles condicionou quase tudo o resto: a insistência absurda em Roger Schmidt como treinador, que aqui critiquei desde sempre. Rui Costa teimou num treinador que já tinha demonstrado ir de mal a pior, o que redundou numa série de decisões absurdas desde o início, como contratar Beste para lateral esquerdo por não acreditar em Carreras, assumir Barreiro como jogador de nível Benfica (que não é) colocando Kokçu como secundário ou despachar um talento no auge de rendimento como David Neres para celebrar o fim da carreira de Di María. Nesta última, bem como na contratação disparatada de Renato Sanches, o presidente tem, no mínimo, responsabilidade repartida com o treinador alemão. E provavelmente vai pagar por ela, agora a meias com Bruno Lage.
Lage melhorou o rendimento coletivo e, beneficiando da saída de Amorim para Inglaterra, devolveu os encarnados à luta pelo título, mas nunca conseguiu que o modelo de jogo encarnado fosse mais robusto que as suas preocupações estratégicas e, mesmo tendo ganho vários duelos com equipas fortes, falhou na abordagem do jogo em que não podia falhar. Aí, o estatuto de Di María foi mais forte que a estratégia que se recomendava e os 45 minutos de abordagem errada comprometeram a vitória indispensável, mesmo se o Benfica podia ter sido mais feliz quando Pavlidis acertou no poste. Mas é neste ponto que volto ao início: se não acontecer no sábado o que hoje parece mais provável (mais que provável, até), os erros não se apagam, apenas a fortuna, boa ou má, terá mudado de campo. E tivesse qualquer das equipas sido um pouco mais competente e não precisaria da sorte para nada.

PS: Schjelderup tem 20 anos e está longe de ter um talento banal. A jogar entrelinhas é mesmo capaz de ser o mais competente entre os médios ofensivos do plantel encarnado. Atirar sobre um jovem que nem sequer é titular num momento de fracasso coletivo é muito injusto, além de revelar uma ignorância atrevida."

Carlos Daniel, in ZeroZero

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