terça-feira, 1 de julho de 2025

BENFICA A 118 DIAS DE IR A VOTOS

 


As eleições nos clubes regem-se por preceitos muito particulares, que têm mais a ver com a emoção do que com a razão, e radicam, sobretudo, na conjuntura e não na estrutura.

O verão do Benfica vai ser quente, e o primeiro mês do outono, escaldante. São 118 os dias que nos separam das eleições dos Órgãos Sociais para o quadriénio 2025/29, candidatos de densidades diferentes, natureza vária e procedência diversa, não faltam – o que dá nota de como é apetecível o lugar agora ocupado por Rui Costa – e o início da época de 2025/26 será determinante para o apuramento do vencedor. As eleições no clube da Luz, tradição que remonta a anos em que o Estado português não era adepto de ir a votos, muito menos de forma democrática, sempre foram, e continuam a ser, um fator pontual de instabilidade, mas enquanto o modelo de clube de sócios prevalecer, este continuará a ser o pior sistema de escolha, tirando todos os outros. Numas eleições, por exemplo, para a Assembleia da República, normalmente é determinante a expetativa de bem-estar económico associada a cada candidato. Num clube, os padrões são diferentes, têm muito a ver com a conjuntura, e baseiam-se, em grande parte, em emoções e sensações. É por isso que as maiorias que elegem presidentes são sempre voláteis, vogando ao sabor dos resultados desportivos, porque ninguém vai ao Marquês celebrar Relatórios e Contas. Sem querer menosprezar nenhum dos anunciados candidatos (entre os quais há quem pretenda apenas demarcar território, a pensar no futuro), Rui Costa vai ter em João Noronha Lopes, que está no terreno a preparar uma campanha bem estruturada, um adversário formidável, pelas ideias de inovação e renovação que lhe estão associadas. Mas quem pensar que o atual presidente, apesar do sentimento de desilusão provocado nos benfiquistas por uma temporada de 2024/25 que soube a pouco, tem poucas hipóteses de ser reeleito, engana-se redondamente, porque estará a misturar a ‘bolha’ que frequenta as Assembleias Gerais, com um universo de votantes que deverá este ano chegar aos 50 mil. Rui Costa, ao contrário de Noronha Lopes, que só pode prometer, pode fazer, e tem um tempo útil - os tais 118 dias – para fazê-lo. Sejamos absolutamente objetivos: se o Benfica se apurar para a Liga dos Campeões, e começar bem a Liga, é minha convicção que Rui Costa sucederá a Rui Costa (e não meto a Supertaça Cândido de Oliveira na equação). Se algum destes pressupostos não se verificar, a insatisfação atingirá níveis que podem ser solo fértil para que a alternativa Noronha Lopes floresça.
Por tudo isto – e porque é sabido que cai mal entre os benfiquistas tudo o que possa perturbar e prejudicar a construção da nova equipa – parece inevitável que Rui Costa coloque a carne toda no assador das aquisições, e apresente argumentos desportivos, traduzidos em resultados, que lhe reforcem a vantagem de ser incumbente. Também se torna óbvio que o antigo maestro vai ter de se rodear de caras novas prestigiadas, que acrescentem à causa e retirem argumentos aos adversários. Aceito que digam que este processo emotivo que leva à escolha dos presidentes dos clubes é pouco sofisticado, e devia ser mais racional. Mas é o que é e continuará a sê-lo.
José Manuel Delgado, in a Bola

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