"Até quando? Até quando vamos ficar de braços cruzados? Até quando quem tem poder para resolver as coisas vai ficar a olhar, a assobiar para o lado enquanto matam, lentamente, o futebol? O que se passou nos últimos dias foi deprimente. Uma vergonha. Foi a prova de que por cá as coisas não mudaram tanto como se pensava que tinham mudado. E não se pense que quem está agora a denunciar e-mails e afins é menos culpado do que os outros. Nada disso, porque também não eram inocentes os que denunciaram casos semelhantes no passado. Porque não o fazem nem fizeram por quererem acabar com o jogo viciado. O que todos querem mesmo é ficar na cadeira do poder quando o vento mudar. Por isso sim, investigue-se. E puna-se for caso disso. Mas é hora de ir, de uma vez por todos, ao fundo da questão.
É hora de perceber que estamos perante um jogo de poder. Que só faz sentido enquanto os clubes puderem decidir matérias que não deviam estar nas suas mãos. Repare-se o que aconteceu na última AG da Liga, para discutir o Regulamento Disciplinar. Devia ser importante, certo? Mas em vez de se debaterem temas sérios, assistiu-se a uma luta entre os grandes para ver quem atingia melhor os outros: o valor limite das prendas aos árbitros (porque não se acaba de vez com elas e ponto final?), o saber se é lícito cuspir fumo ou outras substâncias na zona técnica ou se deve ser punido jogos à porta fechada quem apoia claques ilegais. Usam-se como soldados para chegar a vitórias que só festejam os clubes mais fracos, pagos por empréstimos de jogadores ou transferências que só servem para isso.
Conclusão: se tirarem aos clubes o poder de decidir sobre arbitragem e disciplina, deixando-lhes apenas margem para definirem os modelos organizativos da competição, o jogo de influências (que é de há muitos anos) deixará de fazer sentido. E assim começaremos a salvar o futebol. Que é, no fundo, o que nos devia interessar a todos."
Ricardo Quaresma, in a bola
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