sexta-feira, 1 de setembro de 2017

A TANGA


"Diz o dicionário Priberam sobre a palavra:
«1) Espécie de avental usado por negros para velar o corpo desde o ventre às coxas;
2) Cueca ou peça de fato de banho de pequenas dimensões:
3) Moeda asiática de valor variável;
4) (Portugal, informal) História fictícia e enganosa (ex: isso é tudo uma grande tanga). = Mentira, Peta, Treta».
Detenho-me nesta última definição. No futebol, a tanga é provavelmente das palavras mais utilizadas a seguir a bola. Basta lembrar a quantidade de problemas gástricos que assolaram os jogadores (imagino se não tivessem o acompanhamento de nutricionistas profissionais que trabalham para os clubes); ou as lesões chatas que não desaparecem enquanto as respectivas transferências não são concretizadas, mesmo que esses mesmos jogadores possam jogar pelas suas selecções (recordemos os casos de William Carvalho e Adrien Silva).
Sem ironias: em Portugal tenta esconder-se tudo, mesmo o que esteja à vista. Há um salto qualitativo ao nível das mentalidades que ainda não foi dado. Estamos à frente na metodologia de treino, no scouting ou na medicina desportiva mas ainda a anos-luz na comunicação.
Na era das plataformas próprias ao serviço dos clubes (tv, sites, contas oficiais nas redes sociais, paineleiros profissionais nas televisões privadas) comunica-se pior do que há 10 anos. Porque a mensagem é cada vez mais grito e menos substância. Tão distorcida que começa a ser uma distopia. É boa para os trumpistas da bola mas péssima para a modalidade. Havemos um dia de pagar por isso. Porque das ligas que estão agora acima da portuguesa no ranking da UEFA todas vendem o seu produto como um todo (na Ásia compra-se a Ligue 1, não o PSG de Neymar; na América do Sul é vendida a Bundesliga, não o Bayern de Arturo Vidal).
Só seremos realmente bons quando pensarmos global. Sem fake news. E olhem que não é tanga."

Fernando Urbano, in A Bola

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