terça-feira, 27 de março de 2018

FAZ DE CONTA


"Tem-se escrito tanto e tanto sobre o BES e o Novo Banco, navegando entre um extremo e outro do enaltecimento ou da reprovação, consoante os interesses pessoais de quem emite esses juízos de valor.
Num período em que o que podemos designar por Grupo Benfica deixa praticamente de ter qualquer dívida perante entidades bancárias, eis que surge uma notícia aterradora - O Novo Banco poderá ser o accionista 'trust' da Sporting SAD.
Que já o era já nós sabíamos pela singela razão dos célebres VMOC, ou, o que é a mesma coisa, dos Valores Mobiliários Obrigatoriamente Convertíveis. Como já estamos fartos de ver, esta convertibilidade obrigatória é daquelas obrigações muito à portuguesa - estás obrigado a fazer isto, mas nunca o vais fazer!
Por esta razão, eu preferia chamar a isto VMPB, ou, o que é a mesma coisa, Valores Mobiliários Para o Bochecho. Ainda acrescentaríamos infinitamente inconvertíveis. É bom que os legisladores criem um novo instituto jurídico com estas características.
A entrada de novos investidores na Sporting SAD estava prevista desde final de 2014, mas, até ao momento, mantém-se inalterada.
O Novo Banco terá emprestado 18 milhões de euros à Sporting SAD. O valor terá sido, disponibilizado à SAD até à entrada de um novo accionista com a garantia de que o banco pudesse reaver o dinheiro acrescido de juros de 1%. O novo accionista ficaria com 21,2% da sociedade.
A primeira pergunta que se coloca é a seguinte:
Como é possível que o Novo Banco, que resultou de uma resolução do Banco de Portugal, possa meter-se nisto e ainda por cima empresta dinheiro a 1% de juros?
Será que todos e cada um de nós não quereríamos empréstimos com taxas de 1%? Será isto legal?
O Novo Banco comunicou à Comissão de Mercado e Valores Mobiliários a venda da sua surcursal na Venezuela.


Na verdade, informou que o valor de venda dos activos e passivos da Sucursal na Venezuela do Novo Banco ao BANCA-MIGA, Banco Universal, C.A., da Venezuela, ascendeu a 11.707.500 mil bolívares venezuelanos (aproximadamente 272 mil euros ao câmbio DICOM-BCV de 28 de Fevereiro de 2018). Uma fortuna!
Curiosamente, ou não, o BES Miami foi vendido à Venezuela, por 10 milhões de dólares, cerca de 9,1 milhões de euros, ao grupo venezuelano Benacerraf.


Mas ainda existe a célebre história dos fundos venezuelanos ligados ao petróleo.
Em 2014, dois fundos estatais da Venezuela, o Bandes e o Fonden, investiram um total de 800 milhões de dólares em dívida ao Grupo Espírito Santo. Depois, quando começaram a tornar-se públicos os problemas com o risco de pagamento de dívidas de papel comercial, dois administradores do BES assinaram cartas conforto supostamente garantindo o pagamento de metade daquele investimento, 400 milhões de dólares. Logo que os auditores tornaram conhecimento dessas cartas de conforto, obrigaram o então BES a constituir uma provisão no mesmo valor, o que agravou os resultados do primeiro semestre de 2014, que conduziram ao reconhecimento de uma perda nas contas do BES no valor de 267 milhões de euros, com referência a 30 de Junho de 2014. Os 267 milhões de euros eram então o equivalente aos 400 milhões de dólares, sendo que mais 400 milhões de dólares estavam por garantir.
Só que, depois da cisão entre 'banco bom' e 'banco mau' (respectivamente, Novo Banco e BES), o Banco de Portugal considerou que as cartas de conforto não tinham validade jurídica enquanto garantia. E passou o crédito para o 'banco mau'.
O Grupo Novo Banco apresentou um resultado negativo antes de impostos de 355,6 milhões de euros em 30/9/2017.
Não nos podemos esquecer de toda a movimentação financeira do BES para o BES de Angola, que era gerido pelo detentor actual de uma participação substancial na Sporting SAD, a Holdimo, no valor de 20 milhões, correspondente a 30% do capital da Sporting SAD, conforme explicamos (...).
Quem andou, anda e vai andar a pagar isto tudo são os contribuintes, ou seja, todos nós.
Este tipo de situações são as mais corriqueiras num país que vive num estado de permanente guerra, ódio, inveja e faz de conta.


Faz de conta que nada se passa!
Faz de conta que somos todos amigos!


Faz de conta que somos ricos!
Faz de conta que arguido é condenado!
Faz de conta que a coisa se passou como a testemunha diz!
Faz de conta que não existem processos kafkianos!
Faz de conta que os condenados são culpados, e os absolvidos, inocentes!
Faz de conta que nós somos os mais, e aqueles, os bons!
Faz de conta que a economia é inteligente!
Faz de conta que somos todos donos do saber e da verdade!
Faz de conta que e tudo dr.!
Faz de conta que aquele tipo é porreiro!
Faz de conta que não desejamos mal uns aos outros!
Faz de conta que a Casa de Papel não é mais do que aquilo que todos somos!
Faz de conta que só os outros é que cometeram crimes e fomos sempre todos uns santinhos!
Faz de conta que se mente mais na rua que no tribunal!
Faz de conta que o dinheiro do Novo Banco não foi posto na Sporting SAD!
Faz de conta... faz de conta... faz de conta!

Até para semana."

Pragal Colaço, in O Benfica

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