"Houve muitos jogadores chamados Eusébio. Mas só Eusébio da Silva Ferreira, da Mafalala para Lisboa, de Lisboa para mundo, soube ser verdadeiramente Eusébio. Ia para lá das estrelas.
Eusébio é um nome para a lenda!
Por causa de Eusébio, o nosso Eusébio, Eusébio da Silva Ferreira, de Mafalala a Lisboa, de Lisboa para o mundo.
Eusébio foi, até, nome de papa, o 31.º, nascido na Grécia no ano de 255 e eleito pontífice no dia 18 de Abril de 309. O seu pontificado durou apenas quatro meses, em consequência de actos de violência na Igreja. Morreu no exílio, na Sicília.
Vários jogadores se chamaram Eusébio e ganharam um lugar de destaque na história do futebol. Aqui ficam alguns: Eusébio Castigliano (9 de Fevereiro de 1921 - 4 de Maio de 1949), centro-campista do grande Torino dos anos 40, chegou a ser 7 vezes internacional pela Itália; morreu no acidente de aviação de Supertaça (4 de Maio de 1949), no qual pereceram todos os jogadores do Torino que regressavam a casa depois de terem disputado, em Lisboa, frente ao Benfica, um jogo de homanagem ao capitão Francisco Ferreira. Eusébio Ramon Tejera (6 de Janeiro de 1922 - 9 de Novembro de 2002) foi um central de físico impotente que jogou no Nacional de Montevideu e na selecção uruguaia, fazendo parte daquela célebre equipa que no dia 16 de Julho de 1950, em pleno Estádio do Maracanã, venceu o Brasil por 2-1 e se sagrou campeã do mundo. José Eusébio Soriano Barco foi um guarda-redes peruano (nascido em 19 de Abril de 1917) que ficou marcado a letras de ouro no futebol argentino por ter sido o guarda-redes da famosa equipa do River Plate que ganhou a alcunha de 'La Maquina' na qual brilharam Muñoz, Di Stéfano, Moreno, Pedernera, Labruna e Loustau. Finalmente, Eusébio Bejarano Vilaro, nascido em Badajoz, no dia 6 de Maio de 1948. Defesa, fez a sua carreira no Atlético de Madrid, entre 196 e 1979. Curiosamente veio a encontrar-se frente a frente com Eusébio, em Badajoz, no III Torneio Ibérico, em 28 de Junho de 1969, e em Cádis, no dia 21 de Agosto de 1971.
Eusébio encontra Eusébio
Pois é tantos Eusébios, e a verdade é que só um foi autenticamente Eusébio.
Eusébio que vestiu a camisola encarnada do Benfica na final da Taça dos Campeões Europeus frente ao Real Madrid, em Amesterdão, marcando dois golos e encantando os mais exigentes jornalistas da Europa.
Há Eusébios e Eusébios.
O Eusébio dos quatro golos à Coreia do Norte no Mundial de Inglaterra fica lá no alto da parede branca da memória, num quadro pendurado acima de todos os outros.
Reparem: na época de 1981-81, o Rio Ave teve dois Eusébios. Dois jogadores chamados Eusébio. Ah! Mas nenhum era Eusébio. Nunca ninguém foi Eusébio como Eusébio.
Há um episódio que eu gosto de contar.
Em paris, em Março de 1973, havia dois Eusébios no Victoria Palace Hotel onde a selecção nacional e o Santos se cruzaram por umas horas, onde Eusébio e Pelé se reencontraram por momentos e deram um abraço para a fotografia.
Havia Eusébio, Eusébio, Eusébio da Silva Ferreira, filho de D. Elisa Anissabana, nascido no bairro da Mafalala, em Lourenço Marques, no dia 25 de Janeiro de 1942.
E havia Carlos de Jesus Eusébio, nascido em Santa Bárbara do Oeste, interior do estado de São Paulo, Brasil, em 1952, não tendo eu conseguido saber nem a data certa nem o nome da excelentíssima senhora sua mãe.
Carlos de Jesus Eusébio: professor primário com ambições a jogador de futebol, à experiência no Santos, incluído numa das mil e uma digressões da equipa de Pelé pelas frinchas mais recônditas do Planeta, acabadinha de chegar da Austrália e de aterrar em Paris.
- Só vi jogar Eusébio na televisão confessava Carlos de Jesus Eusébio.
E concluía:
- E só nos jogos que Portugal fez na Minicopa. Mas sei bem quem é Eusébio, e tornara um dia poder ser como ele.
Não foi. Nem perto. Carlos de Jesus Eusébio não passou de um episódio curioso. No mesmo dia, à mesma hora, esteve no mesmo hotel que Eusébio, em Paris. Nada mais tiveram em comum. A não ser um nome sonoro como poucos.
Eusébio, o nosso Eusébio, ficava para lá das estrelas..."
Afonso de Melo, in O Benfica
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