domingo, 21 de abril de 2019

IR AO ESTÁDIO


1.Os números ajudam a colocar a questão em perspetiva. Em Portugal, gosta-se tanto de futebol que poucos vão ao estádios. Pior, não fora a contribuição dos trés grandes, a nossa primeira Liga assemelhar-se-ia a um campeonato secundário. os dados do CIES, o observatório do futebol, são impressivos. Numa análise das assistências ao longo das últimas 15 temporadas, os valores para Portugal até apresentam um crescimento (5%). Contudo, esta variação ocorreu a partir de uma base baixa. Como os atuais 11 mil adeptos que se deslocam em média aos estádios, a Liga portuguesa ocupa um modesto 17º lugar - aliás, superado por duas divisões secundárias (a germânica e a inglesa). Numa tabela liderada pelo Dortmund com 80 mil adeptos por jogo, o Benfica é o clube português com melhores assistências no último quinquénio (14ª posição global), seguido por Sporting (39º) e FC Porto (52º). No entanto, o valor mais preocupante, no caso português é o contributo dos trés grandes para as assistências. Neste aspeto,  encontramo-nos num desonroso terceiro posto, com 63% das assistências a serem em casa de Benfica, Sporting e FC do Porto. Se juntarmos os jogos fora destes clubes, não sobra quase ninguém a ir aos estádios. Há, certamente, muitas explicações para o fenómeno: os preços dos bilhetes, particularmente onerados pelo IVA: as péssimas condições da maior parte dos estádios: os horários das partidas à medida da televisão e incompatíveis com a vida dos adeptos, claro está, a qualidade do jogo, marcada pelas desigualdades de recursos entre clubes. Mas, imaginem, por um momento, um futebol português em que nas televisões se falava mais do futebol jogado em lugar de termos o "prime time" enxameado de discussões em torno do caso e do casinho, como se o futebol se reduzisse ao penálti que ficou por marcar ou ao golo mal anulado. será que não teríamos mais pessoas nos estádios se o debate sobre o futebol não estivesse tão estragado?
2. Ainda a propósito de idas ao estádio, as metarmofoses do público do Benfica têm sido notórias. Estádio cheio, bilhetes esgotados, a dimensão corporate plena de dinamismo, mas longe vão os tempos da velha Luz, feita de pedra, frio, chuva e sol, tão desconfortável como calorosa. Saudosismos à parte, que dizer de um público em que tantos parecem essencialmente empenhados em fazer "olas" e acender luzinhas nos telemóveis, entre diretos nas redes sociais, para depois saírem antes do apito final, a tempo de escapar ao trânsito da 2ª Circular? Pelo caminho, temos assobios com o Benfica a vencer e no momento de aplaudir os jogadores - que, a cinco finais do 37, devia servir para empurrar a equipa para o próximo jogo - as bancadas do estádio apresentam-se despidas. Espero que tenham chegado a horas a casa.

Pedro Adão e Silva

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