quarta-feira, 18 de setembro de 2019

"É UM ANO EXCECIONAL E EMBLEMÁTICO


CLUBE
Pela primeira vez, o Clube ultrapassou os 300 milhões de euros em receitas.
A Sport Lisboa e Benfica – Futebol, SAD está a estudar vários cenários para aumentar a lotação do Estádio da Luz, cujo naming é um “processo que se mantém ativo”.
Em cima da mesa estão hipóteses como a venda de lugares em pé, admitiu Domingos Soares de Oliveira durante a apresentação do Relatório de contas relativamente ao exercício da época 2018/19, um ano que considera “excecional e emblemático”. O administrador executivo da SAD encarnada garante, no entanto, numa entrevista à BTV, que “não é expectável que o assunto seja resolvido num curto espaço de tempo”.
Na apresentação falou num ano excecional a nível financeiro e desportivo. É esta a melhor forma de resumir estes números?
É um ano excecional e um ano que eu diria que será emblemático. Ultrapassámos valores nunca antes alcançados de 300 milhões de euros em termos de receitas, conseguimos apresentar um resultado excecional de 29,4 milhões de euros, mas, sobretudo, conseguimos ultrapassar aquilo que era o valor do capital social – que são os nossos capitais próprios – pela primeira vez desde que a SAD foi constituída. Estes três fatores conjugados revelam que esta SAD conseguiu ultrapassar os anos mais difíceis no arranque deste século. Ao longo de seis anos teve resultados sempre positivos, com lucro todos os anos. Hoje é um dia de satisfação para todos os acionistas e para todos os Benfiquistas porque, efetivamente, o processo de recuperação está terminado.
Neste relatório não entram os números da transferência de João Félix…
Não. Do ponto de vista das receitas com jogadores, o João Félix não está incluído, só vai aparecer nas contas de 2019/20. Há três jogadores cuja venda aparece refletida nestas contas, que é o caso do Talisca e do Jovic – que já não estão dentro do plantel – e também o caso do Raúl Jiménez.

Domingos Soares de Oliveira
Os maiores parceiros do Benfica continuam a ser internacionais. Como estão essas ligações?
Renovámos o contrato com a Emirates, que é um contrato inicial de três anos e agora renovámos por mais três; renovámos o contrato da Central de Cervejas com mais cinco anos de contrato relativamente àquilo que era a data final. Depois temos uma série de outros contratos mais pequenos, com a PlayStation, com a EA Sports. Na realidade, não espero grandes variações de futuro, exceto se conseguirmos terminar o processo de venda do naming do Estádio e, eventualmente, o naming do Benfica Futebol Campus. Esse poderiam ser dois impactos.
O naming do Estádio é sempre aquela pergunta que surge…
O naming é um processo muito difícil. É mais fácil noutros países do que em termos nacionais. Temos o exemplo do mercado alemão, holandês, ou até do inglês, que são mercados muito mais maduros do ponto de vista de naming. Em Portugal a situação é mais complexa, até porque as empresas portuguesas têm muito mais dificuldade em aproximar-se dos números que o Benfica procura obter com esse naming. São negociações muito mais a nível internacional do que nacional. Temos conseguido ter partes interessadas, não temos conseguido fechar o negócio, mas garanto a todos os Benfiquistas que é um processo que se mantém ativo e em que as nossas forças comerciais estão a trabalhar com todo o entusiasmo.

Domingos Soares de Oliveira

O que é que está a ser projetado em termos de bilhética – contando que o Benfica está sempre na Liga dos Campeões – e qual a importância da presença europeia nas contas finais?
No ano passado tivemos um número excecional em jogos europeus, não me recordo de um ano em que tenhamos tido tantos. Tivemos quatro jogos antes da qualificação para a Liga dos Campeões – dois em casa e dois fora – e depois tivemos três jogos na fase pós-Liga dos Campeões, durante a Liga Europa. No total tivemos oito jogos europeus no nosso Estádio e mais oito fora, portanto foi um número absolutamente anormal em termos de competições europeias. Este ano, felizmente, não passámos pelo processo de qualificação para a Champions – um processo sempre de risco elevado como se viu com um dos nossos rivais –, mas temos uma expectativa de ultrapassar a fase de grupos da competição, mantermo-nos na Liga dos Campeões e, se assim for, cada estágio será mais complexo. Desejamos todos ir o mais longe possível, sem querer estar a definir objetivos.

Domingos Soares de Oliveira
Um dos números apresentados neste relatório eram os 80 milhões de euros em que o plantel estava avaliado. Como é que se explica isto?
O plantel está avaliado em 80 milhões nos livros e no balanço. O Transfermarket, que é normalmente a ferramenta mais utilizada para valorização dos plantéis, avalia o plantel do Benfica em 311 milhões – que já não incluem João Félix porque são números desta semana. Temos aqui uma disparidade gigantesca. Efetivamente é estranho, mas digamos que é a política mais conservadora que o normativo contabilista impõe a este tipo de Sociedades. A única forma de ultrapassar isto é fazer-se uma reavaliação do ativo. É chegar a um jogador da formação como por exemplo o Rúben Dias, o Ferro ou o Gedson Fernandes e dizer ‘este ativo no balanço está por um valor de 0 ou inferior a 1 milhão de euros, mas na realidade ele vale 40 ou 50 milhões’. Só que se isso faz algum sentido do ponto de vista natural quando as operações estão bem, isso também pode ser utilizado como uma ferramenta promíscua quando a situação não está bem. A última vez que o Benfica fez uma reavaliação dos seus ativos foi no período de Vale e Azevedo. Portanto, apesar de os números não refletirem a nossa realidade, porque 80 milhões de euros não é o valor do nosso plantel – e é bom relembrar que nesse valor estava João Félix que depois é vendido por 126 milhões –, nós não defendemos uma política de permanente reavaliação dos ativos. Entendemos que isso pode dar depois lugar a uma derivada populista que esteja permanentemente a reavaliar esses mesmos ativos.

Domingos Soares de Oliveira
Lotação do Estádio… Quais são perspetivas no que toca a um aumento da sua capacidade?
É a primeira vez que me fazem uma pergunta destas e eu apresento os resultados da Sociedade há 10/15 anos… e é interessante quando ela surge porque nós próprios olhamos para uma capacidade cada vez mais reduzida de disponibilizarmos mais lugares aos adeptos e aos Sócios que não têm RED PASS, e temos, é a nossa obrigação, de refletir sobre possíveis soluções. Há uma solução que nós já trabalhamos há algum tempo e, inclusivamente, já apresentámos sugestões na altura junto ao Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), quando este existia, que era a possibilidade de termos determinados sectores do Estádio com lugares de pé.
Como se fez por exemplo na Alemanha?
Sim, sendo que na Alemanha – e em Portugal provavelmente teria de ser a mesma solução – nos jogos domésticos são permitidos lugares em pé, mas nos jogos internacionais a UEFA não autoriza. Logo, teria de se encontrar uma solução em que o Estádio fosse moldável e teríamos de transformar esses lugares em pé em lugares sentados. Mas essa seria uma solução fácil de implementar uma vez que o nosso Estádio tem a capacidade de as cadeiras serem retiradas e colocadas outro tipo de cadeiras. Essa seria a solução mais fácil, mas a legislação ainda não o permite. Este não é um desejo só do Benfica, acho que todos os clubes gostariam de ter uma área do estádio com os adeptos em pé. Os próprios adeptos, não lhes vou chamar os mais fervorosos, mas efetivamente aqueles que se manifestam mais – e fizemos questionários e inquéritos –, também gostariam de ter lugares de pé.
Esse é um caminho alternativo e haverá outros. Haverá zonas nobres em que não poderemos colocar mais gente, haverá outras zonas onde, eventualmente, e através de uma compensação no preço, possam ser colocados mais lugares. Mas ainda é muito cedo para conseguirmos chegar a conclusões em relação a essa matéria. Este assunto tem dois/três meses de conversas internas e estamos longe de conseguir chegar a uma conclusão.

Domingos Soares de Oliveira
São assuntos que demoram muito tempo…
Demoram porque, no fundo, não têm a ver só com a nossa vontade, mas também com o que podemos dar aos nossos utilizadores. Por exemplo, se quiséssemos vender mais lugares para empresas teríamos de disponibilizar lugares de estacionamento… e nós não os temos. Se quisermos disponibilizar lugares para Sócios que queiram pagar mais pelo lugar do que aqueles que existem, nós temos de utilizar determinadas zonas do Estádio para reforçar o nosso catering e isso implica que hoje alguns dos espaços que são utilizados como escritórios passem a ser utilizados como apoio ao Sócio e ao adepto, ou até às empresas em dia de jogo.
Portanto, há muitas alterações. Não é expectável que o assunto seja resolvido num curto espaço de tempo e nem sequer era um assunto para se falar hoje, mas como a pergunta foi feita na apresentação das Contas tivemos de antecipar aqui um bocadinho as nossas reflexões sobre essa matéria.
Olhando já para as próximas contas a apresentar em 2019/20… Os adeptos dizem que estas serão melhores devido a João Félix. É assim?
Ainda não é 100% garantido porque, no fundo, a venda de João Félix e o que aparece nas contas em termos de receita é o valor da venda deduzido dos custos dessa mesma venda e das amortizações que existam com o ativo. Contabilisticamente falando, a venda do João Félix vai ter um impacto nas contas próximo dos 107 milhões de euros… Se olharmos para as vendas de 2018/19, elas foram de 97 milhões de euros, portanto, ainda não há uma grande diferença e, se não houver mais vendas até ao final do ano, pode haver variáveis das nossas receitas que sejam aqui impactadas negativamente. Por exemplo, se na Liga dos Campeões fizermos menos pontos ou se não continuarmos na Liga dos Campeões ou na Liga Europa, isso terá um impacto do ponto de vista da redução da receita.
Ainda é cedo para dizer que vamos ter um ano idêntico ou melhor, mas os números não mentem, e tenho a absoluta certeza de que vamos apresentar resultados positivos.

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