sábado, 25 de abril de 2020

UM LINDO TRIBUTO À IMPARCIALIDADE ACTIVA


"Se o juiz Proença fosse da laia ética e moral do juiz benfiquista dos nossos tribunais civis, ter-se-ia recusado a dirigir os jogos do Benfica e, consequentemente, o Benfica estaria agora a lutar, pelo menos, pelo seu 40.º título de Campeão Nacional de Futebol.

O juiz adepto do Benfica que ia julgar o caso de Rui Pinto pediu escusa do processo, por motivos de o seu benfiquismo público e notório poder vir a inquinar a decisão. Fez lindamente. É assim mesmo. O meu avô, um sujeito bastante pessimista, sempre me disse que os piores juízes para o Benfica eram os juízes do Benfica. Referia-se, obviamente, aos juízes de campo, aos árbitros dos jogos de futebol confessadamente benfiquistas que decidiam maquinalmente contra o Benfica todos os lances capitais para provarem a martelo a sua isenção. O julgamento de Rui Pinto que está na origem da renúncia do juiz benfiquista não tem nada a ver com o Benfica - tem a ver com o assalto informático aos servidores do Sporting e da Doyen por parte do 'hacker' do cabelo em pé -, mas, por isso mesmo, é de aplaudir a escusa do juiz. De acordo com a teoria do meu avô, a sua decisão seria sempre favorável no tribunal aos interesses do Sporting para que desse episódio judicial saísse intacta a sua honorabilidade e a sua imparcialidade.
Era assim que as coisas deviam passar também no futebol no que a juízes confessadamente benfiquistas diz respeito. Tomemos, por exemplo, o caso prático do antigo juiz de campo Pedro Proença, um juiz confessadamente benfiquista e que actualmente é o presidente da Liga dos Clubes. Se o juiz de campo Proença, por amor à isenção e respeitabilidade do cargo que ocupou de apito, fosse da laia ética e moral deste juiz benfiquista dos nossos tribunais civis, ter-se-ia recusado a dirigir todos os jogos do Benfica para que foi nomeado ao longo da sua profícua carreira de árbitro, e consequentemente, o Benfica estaria agora a lutar, pelo menos pelo seu 40.º título de campeão nacional de futebol. Isto, sim, é que seria um lindíssimo tributo à imparcialidade prática e activa. Mas, lamentavelmente, não foi assim que as coisas se passaram. O meu avô tinha mais do que razão. Tinha premonição.
A Liga dos Clubes só admite o regresso do campeonato se for reduzida para 16,7% a capacidade total dos estádios dos clubes portugueses que competem entre si na divisão principal. Chama-se a isto optimismo a toda a prova, tendo em conta que a maioria dos clubes em compita regista assistências muito abaixo das apontadas como limite máximo pela via profiláctica da Liga, que é a mãe-organizadora da prova. Mas não há como não sermos optimistas numa circunstância como esta. Aponte-se, portanto, para um máximo de 16% de bilhetes vendidos, até porque não é todos os dias que o Benfica visita os campos dos seus adversários. O optimismo, mesmo nas suas vertentes mais absurdas.
O Carlos Secretário disse esta semana que 'se calhar tinha sido melhor ir para o Barcelona' em vez de ter ido para o  Real Madrid. Ora cá estamos nós outra vez no campo do optimismo imperativo, mesmo nas suas vertentes mais absurdas. Haja alegria."

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