"Mudam-se os tempos, alteram-se as vontades, transformam-se os cenários, modificam-se os contextos, diversificam-se os agentes, mas há sempre um vocábulo perfumado que veste bem e se apresenta para casar. Crise governamental, crise política, crise orçamental, crise social, crise sanitária, crise desportiva, crise comportamental, crise educativa, crise laboral, crise produtiva, crise climática, crise de valores, crise isto, crise aquilo e ainda mais crise.
Por estes dias, em consequência do ciclone que se intrometeu na arena política parlamentar da nação e também pelas tempestades marginais nos espetros partidários, sentido e espírito democrático são outras construções lexicais que nos invadem, em doses reforçadas, tanto pelos espaços de informação e análise, sobretudo generalistas, como pelo mundo das redes socias, um dos campos prediletos de exibição dos nossos espadachins.
Noutra frequência, a profusa mistura de perspetivas e de emoções dominou-me num daqueles momentos de 'transfer' que nos assaltam num pestanejar e os paralelismos ocorreram-me, ao género de desabafo de mim para mim, sugestionado que estava pelos acontecimentos-relâmpagos na ponta final do jogo disputado pela equipa B de futebol do Benfica no Estádio do Mar, ao final da manhã/início de tarde do passado 30 de Outubro.
Vivo e muito agradável de acompanhar, o Leixões-Benfica B, se nos cingirmos ao observado no interior das quatro linhas e nas principais áreas adjacentes, foi um promotor janota da Liga 2 e da sua competitividade. Concretizando um volte-face nos números do marcador, a jovem equipa do Glorioso triunfou e validou a posição de líder da prova, e fê-lo com o mérito e a felicidade que por norma acompanham os competentes.
Quem viu, sabe que a vitória não caiu do céu e percebe que o golo da vantagem decisiva, obliterado nas redes da equipa de Matosinhos aos 88' tenha gerado uma daquelas explosões de júbilo entre os triunfantes, pelo instante em que ocorreu. Alegria racionalmente compreensível, tudo pelo futebol, pelo jogo e pela cordilheira de emoções que este nos oferece, nada contra quem se sente afundar na súbita azia do golo sofrido ou do(s) ponto(s) perdido(s). Falar é fácil, escrever ainda mais, subscrevo, mas o limite das manifestações de desagrado é uma responsabilidade de cada um de nós."
João Sanches, in O Benfica
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