"O resultado da reestruturação financeira da Sporting SAD em relação aos valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis (VMOC) só poderia passar por uma de duas opções: a inédita entrada no capital de uma SAD pelos bancos ou a liquidação do crédito por um preço perniciosamente mais baixo (com evidente prejuízo para os credores).
Guardo para mim, desde sempre, que a primeira opção jamais seria posta em prática por (todas e mais algumas) razões legais, contabilísticas, financeiras e até desportivas. Isto era fácil de perceber já há muito anos e confirmava-se com a mais severa das crises que fez estremecer o sistema bancário português entre 2010 e 2013. Os investidores estavam ansiosos e com aversão anormal ao risco com base nas perdas registadas na banca e com a dívida pública à altura a atingir um nível alto como resultado dos programas de estímulo de resposta à crise anterior e a resgates do setor financeiro. Resumindo, os bancos receberam ordem para fechar a torneira ao futebol em Portugal e tinha que se passar a resolver a exposição das SAD à banca.
No caso do Sporting, creio que a crítica deve centralizar-se na falta de transparência total pelo Novo Banco (NB) e BCP a par do problema concorrencial que o processo causou em relação às outras SAD rivais com base num perdão de dívida brutal (70% de desconto do NB e 71,98% do BCP) que permitiu sanar dívida ao preço da uva mijona e adquirir definitivamente in house a quase totalidade do seu próprio capital social para se tornar sexy para futuros investidores.
Já a SAD do Benfica teve um presidente que andou a lidar com a dívida ao NB a seu bel-prazer para benefício pessoal. Já com o BES morto, Vieira apressou-se a liquidar junto do NB, entre 2015 e 2018, uma dívida da SAD de € 264,081 M para €12,054 M quando a Euribor estava a zero. Ou seja, num período em que a lógica passaria por a SAD financiar-se para investir desportivamente e não antecipando o pagamento da dívida para apostar em equipas e títulos. Mas a figura utilizou a SAD para negociar a sua própria dívida pessoal pois o BES aprovara-lhe, entre 2002 e 2014, 750 milhões de euros em crédito. Algo que ainda hoje estamos a pagar."
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