A ditadura do relógio é a principal diferença entre a pré-época e a temporada oficial. Há uma coisa a fazer durante 90 minutos. Ganhar um jogo.
Há coisas que não entendo nas equipas grandes. Ou melhor, que são mais difíceis de explicar do que outras. Qualquer equipa que joga para ser campeã está metida numa ditadura: a do relógio.
Há uma expressão em inglês que define isto: ‘on the clock’. Por exemplo, quando as equipas profissionais norte-americanas estão no draft- simplificando, para quem não é familiarizado com o processo, onde se escolhem futuros jogadores - quando chega a sua vez têm x minutos para decidir. Estão, portanto, ‘on the clock’. No fundo, é uma contagem decrescente que limita o tempo de ação.
Há também uma frase de Michael Jordan que ecoa por aí, no desporto mundial. «Nunca perdi um jogo, apenas fiquei sem tempo.» Ora, não foi por falta de tempo que o Benfica perdeu em Famalicão. Foi mesmo pela falta de urgência!
A ditadura do relógio é a principal diferença entre a pré-época e a temporada oficial. Há uma coisa a fazer durante 90 minutos. Ganhar um jogo. Não é treinar, não é melhorar índices físicos, não é assimilar processos. É sair do campo com um triunfo sobre o adversário.
Idealmente, a jogar bem. A superiorizar-se aos adversários, a praticar um bom futebol. Mas até o Barcelona de Guardiola terá tido os seus momentos de menor beleza. No fundo, aquilo que sucede a qualquer equipa do mundo: jogar mal. Mas quando se joga mal é preciso vencer na mesma. Essa é a parte que distingue os campeões dos outros. E os campeões sabem-no e percebem-no. O Benfica, neste momento, parece estar longe de saber isso.
Aos 30 minutos de jogo, já era mais do que visível que era preciso agitar, que os futebolistas precisavam de despertar para essa tal urgência. 60 minutos parecem muito tempo no futebol, mas não são. Não são quando ninguém entende que é para se fazer no momento seguinte o que já se devia ter feito.
Devemos sempre discutir opções táticas, estratégias, mas o que me escapou no Benfica foi o lado emotivo. Só muito perto do final é que se viu alguma reação, energia. No resto, foi como se os jogadores tivessem todo o tempo do mundo. Não tinham. É o primeiro jogo, bem se sabe, mas a ditadura do relógio começou.
O Benfica tem de abrir os olhos para voltar a ter esse espírito competitivo. Não fui eu quem o disse, foi o capitão de equipa…
Luís Pedro Ferreira, in a Bola
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