As sombras da Luz
Fonte: zerozero
De onde vem e para onde vai o Sport Lisboa e Benfica?
A segunda premissa é a dúvida constante a cada recomeço. É o mesmo que profetizar o estado de glória ou de lamúrias num espaço temporal que percorre nove meses - mais semana, menos semana - a cada temporada desportiva. Para o Benfica, a resposta já foi mais óbvia. Mas dificultou-se com o passar do tempo. Agora surge sempre envolta em sombras de um passado que pressiona um presente incapaz de lhe seguir o passo de conquistas. Vem aí mais um ano.
É preciso dizê-lo, porque afinal já vamos lançados em 2012. Tão célebres como os sucessos de cadência regular das décadas de 60, 70 e 80, são as dúvidas e incertezas dos benfiquistas nos anos 90 e 2000. Os números comprovam-no: as sombras de um passado dourado e glorioso atormentam a nova águia que tarda em reafirmar-se como potência máxima do futebol português. As exigências continuam as mesmas. Mas serão elas ajustadas?
O passado e o presente. Duas unidades de tempo que o Benfica procura conciliar ©Carlos Alberto Costa
Pedro Henriques viveu cinco épocas de mudança na Luz. Começou por chegar a uma equipa principal «que ainda tinha um leque de jogadores com grande qualidade e que tinham sido campeões em 1993/1994», mas rapidamente a coisa mudou de figurino: «Depois houve a troca de treinadores, com a chegada do Artur Jorge, e a partir daí, com o Manuel Damásio, as coisas nunca mais endireitaram. Saíam 15 e entravam 15 e ninguém parecia acertar», conta ao zerozero.pt.
Uma situação que preocupava mais os «meninos da Luz». «Era mais difícil para mim e para os meus colegas da formação, porque sentíamos mais o clube e percebíamos que os interesses do Benfica não estavam a ser defendidos. Lógico que havia alguns jogadores com qualidade, mas depois havia outros que eram muito piores que alguns jogadores da formação. E isso estava aos olhos de toda a gente. Houve pessoas que serviram os próprios interesses durante muitos anos.»
Vieira recuperou a ‘marca’
Para o antigo defesa, «Vieira tem defeitos como todos os outros», mas enaltece o trabalho de recuperação da credibilidade feito pelo atual líder: «Por muito que isso não ganhe títulos, vale muito e tem a capacidade de construir equipas boas», diz Pedro Henriques. «Agora, o Benfica tem de ter sempre como objetivo conquistar todos os troféus, mas é preciso dar valor ao FC Porto – que tem sido o maior rival – porque soube aproveitar os erros do Benfica e construir grandes equipas.», acrescenta.
Números que «assustam» os adeptos
Na vitrine da Luz repousam 80 troféus (incluindo a Taça Latina), e este “exercício” recua 22 anos no tempo, até ao apito inicial da temporada de 1990/1991. Pelo meio, e descendo de 2011/2012, contam-se 12 títulos oficiais conquistados pelos homens da Luz. Desses, apenas quatro são de campeão nacional, o supra-sumo dos títulos internos. Seguem-se três Taças de Portugal, uma Supertaça e quatro Taças da Liga, que em pouco ajudam a apaziguar a alma esfomeada do mais devoto dos benfiquistas.
Servindo como base de comparação a estes dados, só na década de 1980 (de 80/81 a 89/90) o Benfica conquistou 13 títulos oficiais, mais um que nos 22 anos seguintes. Desses 13, cinco são de campeão nacional, outros cinco de vencedor da Taça de Portugal e três Supertaças Cândido de Oliveira.
em outubro há novas eleições na Luz. Os sócios decidem ©Catarina Morais
Presidências instáveis e com poucos títulos
De 90/91 até aos dias de hoje, o orgulho encarnado viveu sob o domínio turbulento e instável de seis presidências. João dos Santos Ribeiro passou o testemunho a Jorge de Brito, este a Manuel Damásio que “entregou” os destinos do clube ao mais polémico de todos os presidentes: João Vale e Azevedo, derrotado em 2000 por Manuel Vilarinho, o antecessor do atual líder, Luís Filipe Vieira. Uma linha temporal feita de tempestades, fins anunciados e pouco sucesso desportivo, o “pai” de todos os males que atormentam o Benfica há 22 anos.
No trono desde 2003/2004 – mas parte integrante da direção desde 2000/2001 -, Luís Filipe Vieira tem sido o mais duradouro dos presidentes nas últimas duas décadas. Mas a contestação aumentou na última temporada, e logo em ano de eleições. Vieira defende-se com a «obra feita» mas não pode evitar um olhar ao currículo do futebol. São oito troféus, mas apenas dois de campeão nacional. Estatisticamente, é o líder menos bem-sucedido em termos desportivos no Sport Lisboa e Benfica.
O último a opor-se à regência de Vieira foi Bruno Carvalho, nas eleições de 2009, mas um cenário idêntico em outubro próximo é difícil, porque «os estatutos foram alterados para impedir que sócios» na situação de Bruno Carvalho «não possam ser candidatos», diz o crítico de Vieira. A falta de títulos no futebol é também um preocupação de Carvalho - «Vieira ganhou dois campeonatos e perdeu sete! É o presidente que perdeu mais títulos na história do clube» afirma -, mas não só.
«Vi o Benfica pela primeira vez na sua história a jogar só com estrangeiros. Não conheço outra equipa que faça isso, a não ser, talvez, o Arsenal... que também não tem tido grandes resultados. Fizemos um campeonato sem um único golo português, o que é uma coisa absolutamente escandalosa e ofensiva para o Benfica», lamenta, por fim, Bruno Carvalho.
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