Benfica, Sporting e FC Porto: o endividamento e mais problemas Análise às contas dos três grandes
Benfica, Sporting e FC Porto apresentaram as contas da última época e, se os resultados finais dos três grandes são muito diferentes, eles apresentam sinais comuns. E não são positivos. Continuam a gastar mais dinheiro do que aquele que conseguem gerar no dia a dia, excluindo as receitas com vendas de jogadores, e aumentaram o endividamento.
António Samagaio, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) de Lisboa, analisa no Maisfutebol os principais dados das contas dos grandes, depois de todos terem divulgado os relatórios e contas, publicados no site da CMVM. Com 14,2 milhões de lucro para o Benfica, 368 mil euros de lucro para o Sporting e 40 milhões de prejuízo para o FC Porto.
«A primeira ideia forte tem a ver com o aumento do endividamento. A dívida financeira aumentou mais de 100 milhões, juntando as três entidades. No atual contexto em que se vive, atendendo à capacidade dos clubes de gerar receitas, é preocupante», observa: «Basta ver que o negócio em si não consegue gerar receitas suficientes, os clubes continuam a gastar mais do que conseguem receber no dia a dia.»
«Para além disso», prossegue, «este resultado foi conseguido com a manutenção, sobretudo no caso do Benfica, da política de investimento em novos jogadores, o que aumenta a necessidade de contrair mais dívidas», observa ainda: «O Benfica ganhou 75,6 milhões com jogadores e mesmo assim só conseguiu lucrar 14 milhões. Numa época em que ganhou tudo em termos desportivos, só 14 milhões não são sinais animadores. Basta a época não correr tão bem, e esta época foi extraordinária, para estar novamente na zona de prejuízo.»
Benfica: 14,2 milhões de lucro
O Benfica, o último a divulgar o Relatório e Contas, revela que no total o saldo com transferências de jogadores é positivo em 37,6 milhões de euros, o que, subtraído aos ganhos de 75,6 milhões em transferências, dá gastos de 38 milhões com aquisição e outras despesas relacionadas com atletas. Os encarnados gastaram mais do que na época passada com pessoal, o que atribuem ao investimento no plantel e pagamento de prémios. E, se revelam valores recordes de receitas televisivas, através da Benfica TV, não deixam claro quais os ganhos líquidos nesse item, embora as contas doMaisfutebol apontem para custos de 11 milhões de euros.
«Mesmo o Sporting teve um aumento de endividamento», observa, numa análise a um exercício dos leões que envolve o processo de reestruturação financeira do clube levada a cabo pela direção de Bruno de Carvalho: «A reestruturação financeira tem reflexos nos resultados que o Sporting apresenta. O relatório diz a certa altura que a reestruturação financeira teve consequências na redução da taxa média de juros. Se estivesse igual às de Benfica e FC Porto, estaria em situação de prejuízo. Tem determinadas condições que os outros não têm.»
Sporting: 368 mil euros positivos
O Sporting atribuiu precisamente a melhoria nos resultados, depois dos mais de 40 milhões de prejuízo no exercício passado, à «forte política de redução de custos na Sporting SAD, decorrente do programa da reestruturação financeira e operacional», referindo poupanças na ordem dos 36 milhões de euros.
A segunda ideia forte que António Samagaio destaca é a dependência da venda de jogadores. «Claramente, sobretudo o Benfica e o FC Porto, dependem muito de conseguir no fim da época vender», nota.
«O FC Porto também depende bastante das vendas de jogadores, a níveis que para mim são um bocado preocupantes. Basta ver o orçamento para a nova época, que tem previstos 60 milhões só em vendas de jogadores. Só atingiu esse valor uma vez, quando coincidiram as vendas de James, Moutinho e Hulk numa só época», reforça: «São realidades que não são fáceis de reproduzir. Os clubes continuam num caminho de bastante risco. Maior contenção talvez pudesse ser útil, sobretudo se olharmos para um histórico de prejuízos.»
FC Porto: 40 milhões de prejuízo
O FC Porto assume que os avultados prejuízos resultam essencialmente do valor muito menor nos ganhos com transferências de atletas, em relação a uma época que gerou 76,4 milhões de euros de receitas nesse campo, contra 23.907 neste ano. Há outros fatores, como a não entrada direta na Liga dos Campeões.
«Os três clubes têm prejuízos acumulados, desde a constituição das SAD, superiores a 100 milhões de euros cada um», observa António Samagaio: «O Sporting é o recordista, com mais de 200 milhões, são números que não se coadunam com a realidade dos clubes.»
Exposição ao BES «aumentou»
Estes números acontecem numa conjuntura de várias situações que podem ter repercussões nas finanças dos clubes. A começar pela implosão do BES, agora Novo Banco.
No primeiro caso, a principal questão é a do financiamento. Em julho, António Samagaio estimava, em declarações ao Diário Económico, que a exposição dos três grandes ao BES fosse de mais de 215 milhões de euros. E, diz agora aoMaisfutebol, os relatórios e contas da época passada demonstram que ela aumentou no último exercício, antes da intervenção do Banco de Portugal sobre o banco, que aconteceu em agosto.
«Tanto o Benfica como o FC Porto aumentaram a exposição ao BES. A 30 de junho ela tinha aumentado. Com a intervenção sobre o banco há toda uma reorganização. Já foi dito que se pretende rever essa ligação ao mundo do futebol», nota.
«Se quisessem reaver totalmente o dinheiro agora, seria difícil os clubes conseguirem pagar», admite, notando no entanto que o negócio com o futebol também foi benéfico para as instituições bancárias: «Com tempo, os clubes vão ter de procurar alternativas, sabendo que antemão que o FC Porto e o Benfica têm empréstimos obrigacionistas e pagam taxas atrativas para as instituições financeiras, não tem sido um mau negócio nesse domínio.»
António Samagaio diz que não é possível pôr um número na exposição atual dos clubes ao agora Novo Banco, nomeadamente pelo facto de o Sporting não ter apresentado as contas consolidadas, mas apenas as que dizem respeito à SAD: «No Sporting parte da dívida está relacionada com a construção do estádio e não aparece nas contas da SAD. No caso quer do FC Porto quer do Benfica aumentou.»
Parte das dívidas bancárias dos clubes prende-se ainda com a construção dos novos estádios, mas ela é mais pesada para Benfica e Sporting do que para o FC Porto, diz: «O estádio do FC Porto está praticamente pago. Como foi inserido no projeto Euroantes, o clube não teve que se endividar tanto como Benfica e Sporting.»
A maior dívida bancária de todas está na Luz: «O Benfica tem uma dívida bancária de 317 milhões, entre banca e empréstimos obrigacionistas.»
Os clubes vão, de resto, «ter que procurar alternativas de financiamento», constata António Samagaio: «O FC Porto já começou a ter financiamento do BIC. Também tem de entidades europeias.»
«Depois têm sempre a vertente dos empréstimos obrigacionistas, que têm tido níveis de procura bastante superiores ao que o clube está a oferecer. Embora seja uma forma de financiamento que tradicionalmente tende a ser mais cara do que aquilo que estava a ganhar», nota ainda.
António Samagaio enfatiza esta questão e a sua importância, numa analogia com a situação do país: «O que se tem passado é que os adeptos querem é saber de resultados desportivos. A questão é que um dia a fatura chega. Como aconteceu com o país, estávamos contentes por termos hospitais e auto-estradas, mas o país estava-se a endividar.»
A PT e patrocinadores alternativos
Outra questão com impacto no futebol é a situação da PT, um dos grandes investidores no futebol nos últimos anos. O FC Porto, por exemplo, já assumiu o final do patrocínio da empresa, falando na procura de alternativas, eventualmente no mercado externo.
Aqui é uma questão de procura de receitas comerciais, e não é fácil, defende António Samagaio: «É um desafio encontrar patrocinadores que sejam capazes de pagar 5,6 milhões de euros por ano. A PT entrava com um nível de patrocínios significativo.»
Em termos comerciais o nosso é um mercado que não tem grande expressão. Na Alemanha, por exemplo, mais de 50 por cento das receitas dos clubes vêm de sponsorização, de publicidade. Cá não temos esse tecido económico», observa, notando como os principais novos investidores no futebol têm sido das economias emergentes, da Arábia, Ásia ou países do Leste.
«Não sei se Portugal tem poder para atrair esses mercados. O campeonato português joga-se à hora de outros campeonatos. Conseguirá ser atrativo na Ásia?», questiona, defendendo que este era um assunto que os dirigentes do futebol português deviam trabalhar em conjunto: «É um trabalho de fundo que devia ser feito, tentar promover o futebol português lá fora. Eu já sugeri uma ideia, fazer a fase final da Taça da Liga num país do Médio Oriente, onde as pessoas possam ter contacto direto com o futebol português. Mas para isso é necessário que as pessoas dos clubes se entendam.»
E ainda a questão dos fundos
Depois há outro dado na equação, a intenção da FIFA e da UEFA de limitar a intervenção no futebol dos fundos de investimento e nomeadamente dos passes divididos com essas entidades.
António Samagaio admite que esse movimento obrigue os clubes a mudar a forma como fazem os negócios, ao mesmo tempo que lembra como os riscos de envolvimento dos fundos são essencialmente de verdade desportiva
«Estes fundos eram sempre vistos como formas de conseguir alavancar os clubes para chegar a determinados jogadores. Para mim a questão central por trás da intenção da FIFA e da UEFA, tem a ver com quem é verdadeiramente a entidade por trás do fundo. É relevante, porque pode criar muitas dúvidas do ponto de vista desportivo, e o futebol precisa de uma imagem de credibilidade», observa: «Quando há um jogador de quem o clube tem 90 por cento e o investidor 10, é claro que quem manda é o clube. Mas quando é detido em 75 por cento pelo investidor, este não quer ver o seu ativo parado. Podem criar-se problemas ao nível da gestão de um plantel. Pode haver alguma pressão do fundo no sentido de que os seus próprios jogadores têm de jogar.»
Na opinião de António Samagaio, a proibição da propriedade por terceiras partes (Third Party Ownership, em inglês), «vai originar que efetivamente os clubes tenham que iniciar um processo de adquirir os passes de forma faseada, vai obrigar os clubes a investir». «O Benfica já comprou os direitos do Benfica Stars Fund», nota, constatando ainda que «quem está com maior exposição» a esta situação «é o Sporting».
António Samagaio nota ainda que deverá haver um período de transição que permita mitigar os efeitos da decisão: «Se a UEFA der um período de 4, 5 anos há maior margem, se for apenas de seis meses é mais complicado.»
Principais indicadores das contas dos três grandes
Resultados consolidados
Benfica: 14,2 milhões de euros (prejuízo de 10,4 ME em 2012/13)
Sporting: 368 mil euros (prejuízo de 43.816 ME em 12/13)
FC Porto: 40.701 milhões de euros negativos (20.356 ME positivos em 2012/13)
Rendimentos operacionais (excluindo transações atletas)
Benfica: 105 ME (85.941 em 12/13)
FC Porto: 72.613 ME (78.441)
Sporting: 35.3 milhões ME (32 milhões)
Gastos operacionais
Benfica: 109.156 ME (92.573 em 12/13)
Sporting: 41.9 ME (66)
FC Porto: 95.175 ME (96.585)
Ativo consolidado
Benfica: 440.7 ME (mais 5.8%)
Sporting: 146.8 ME (139.5 em 12/13)
FC Porto: 200.4 ME (227.853)
Passivo consolidado
Benfica: 449,1 milhões ME (440.480)
Sporting: 264.7 ME (258.873)
FC Porto: 233.463 ME (220.225)
Receitas correntes:
UEFA
Benfica: 22.407 ME (21.708 em 12/13)
Sporting: Não teve (1.908 em 2012/13)
FC Porto: 9.552 ME (20.390)
Direitos TV
Benfica: 28.176 ME (8.175 em 2012/13)
Sporting: 15 ME (11,5 em 2012/13)
FC Porto: 15.928 ME (13.185)
Bilheteira
Benfica: 6.523 ME (8.462 em 12/13)
Sporting: 6.4 milhões ME (5 milhões em 2012/13)
FC Porto: 6.228 ME (6.521)
Patrocínios:
Benfica: 19.066 ME (16.920)
Sporting: 7 ME (8.9 em 2012/13) Item junta patrocínios, publicidade, merchandising e licenciamento
FC Porto: 13.594 ME (13.067) Item junta publicidade e sponsorização
Custos com pessoal
Benfica: 61.181 ME (50.431)
Sporting: 25.000 ME (42.000)
FC Porto: 48.885 ME (54.065)
Demonstrações financeiras:
Benfica
Sporting
FC Porto
António Samagaio, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) de Lisboa, analisa no Maisfutebol os principais dados das contas dos grandes, depois de todos terem divulgado os relatórios e contas, publicados no site da CMVM. Com 14,2 milhões de lucro para o Benfica, 368 mil euros de lucro para o Sporting e 40 milhões de prejuízo para o FC Porto.
«A primeira ideia forte tem a ver com o aumento do endividamento. A dívida financeira aumentou mais de 100 milhões, juntando as três entidades. No atual contexto em que se vive, atendendo à capacidade dos clubes de gerar receitas, é preocupante», observa: «Basta ver que o negócio em si não consegue gerar receitas suficientes, os clubes continuam a gastar mais do que conseguem receber no dia a dia.»
«Para além disso», prossegue, «este resultado foi conseguido com a manutenção, sobretudo no caso do Benfica, da política de investimento em novos jogadores, o que aumenta a necessidade de contrair mais dívidas», observa ainda: «O Benfica ganhou 75,6 milhões com jogadores e mesmo assim só conseguiu lucrar 14 milhões. Numa época em que ganhou tudo em termos desportivos, só 14 milhões não são sinais animadores. Basta a época não correr tão bem, e esta época foi extraordinária, para estar novamente na zona de prejuízo.»
Benfica: 14,2 milhões de lucro
O Benfica, o último a divulgar o Relatório e Contas, revela que no total o saldo com transferências de jogadores é positivo em 37,6 milhões de euros, o que, subtraído aos ganhos de 75,6 milhões em transferências, dá gastos de 38 milhões com aquisição e outras despesas relacionadas com atletas. Os encarnados gastaram mais do que na época passada com pessoal, o que atribuem ao investimento no plantel e pagamento de prémios. E, se revelam valores recordes de receitas televisivas, através da Benfica TV, não deixam claro quais os ganhos líquidos nesse item, embora as contas doMaisfutebol apontem para custos de 11 milhões de euros.
«Mesmo o Sporting teve um aumento de endividamento», observa, numa análise a um exercício dos leões que envolve o processo de reestruturação financeira do clube levada a cabo pela direção de Bruno de Carvalho: «A reestruturação financeira tem reflexos nos resultados que o Sporting apresenta. O relatório diz a certa altura que a reestruturação financeira teve consequências na redução da taxa média de juros. Se estivesse igual às de Benfica e FC Porto, estaria em situação de prejuízo. Tem determinadas condições que os outros não têm.»
Sporting: 368 mil euros positivos
O Sporting atribuiu precisamente a melhoria nos resultados, depois dos mais de 40 milhões de prejuízo no exercício passado, à «forte política de redução de custos na Sporting SAD, decorrente do programa da reestruturação financeira e operacional», referindo poupanças na ordem dos 36 milhões de euros.
A segunda ideia forte que António Samagaio destaca é a dependência da venda de jogadores. «Claramente, sobretudo o Benfica e o FC Porto, dependem muito de conseguir no fim da época vender», nota.
«O FC Porto também depende bastante das vendas de jogadores, a níveis que para mim são um bocado preocupantes. Basta ver o orçamento para a nova época, que tem previstos 60 milhões só em vendas de jogadores. Só atingiu esse valor uma vez, quando coincidiram as vendas de James, Moutinho e Hulk numa só época», reforça: «São realidades que não são fáceis de reproduzir. Os clubes continuam num caminho de bastante risco. Maior contenção talvez pudesse ser útil, sobretudo se olharmos para um histórico de prejuízos.»
FC Porto: 40 milhões de prejuízo
O FC Porto assume que os avultados prejuízos resultam essencialmente do valor muito menor nos ganhos com transferências de atletas, em relação a uma época que gerou 76,4 milhões de euros de receitas nesse campo, contra 23.907 neste ano. Há outros fatores, como a não entrada direta na Liga dos Campeões.
«Os três clubes têm prejuízos acumulados, desde a constituição das SAD, superiores a 100 milhões de euros cada um», observa António Samagaio: «O Sporting é o recordista, com mais de 200 milhões, são números que não se coadunam com a realidade dos clubes.»
Exposição ao BES «aumentou»
Estes números acontecem numa conjuntura de várias situações que podem ter repercussões nas finanças dos clubes. A começar pela implosão do BES, agora Novo Banco.
No primeiro caso, a principal questão é a do financiamento. Em julho, António Samagaio estimava, em declarações ao Diário Económico, que a exposição dos três grandes ao BES fosse de mais de 215 milhões de euros. E, diz agora aoMaisfutebol, os relatórios e contas da época passada demonstram que ela aumentou no último exercício, antes da intervenção do Banco de Portugal sobre o banco, que aconteceu em agosto.
«Tanto o Benfica como o FC Porto aumentaram a exposição ao BES. A 30 de junho ela tinha aumentado. Com a intervenção sobre o banco há toda uma reorganização. Já foi dito que se pretende rever essa ligação ao mundo do futebol», nota.
«Se quisessem reaver totalmente o dinheiro agora, seria difícil os clubes conseguirem pagar», admite, notando no entanto que o negócio com o futebol também foi benéfico para as instituições bancárias: «Com tempo, os clubes vão ter de procurar alternativas, sabendo que antemão que o FC Porto e o Benfica têm empréstimos obrigacionistas e pagam taxas atrativas para as instituições financeiras, não tem sido um mau negócio nesse domínio.»
António Samagaio diz que não é possível pôr um número na exposição atual dos clubes ao agora Novo Banco, nomeadamente pelo facto de o Sporting não ter apresentado as contas consolidadas, mas apenas as que dizem respeito à SAD: «No Sporting parte da dívida está relacionada com a construção do estádio e não aparece nas contas da SAD. No caso quer do FC Porto quer do Benfica aumentou.»
Parte das dívidas bancárias dos clubes prende-se ainda com a construção dos novos estádios, mas ela é mais pesada para Benfica e Sporting do que para o FC Porto, diz: «O estádio do FC Porto está praticamente pago. Como foi inserido no projeto Euroantes, o clube não teve que se endividar tanto como Benfica e Sporting.»
A maior dívida bancária de todas está na Luz: «O Benfica tem uma dívida bancária de 317 milhões, entre banca e empréstimos obrigacionistas.»
Os clubes vão, de resto, «ter que procurar alternativas de financiamento», constata António Samagaio: «O FC Porto já começou a ter financiamento do BIC. Também tem de entidades europeias.»
«Depois têm sempre a vertente dos empréstimos obrigacionistas, que têm tido níveis de procura bastante superiores ao que o clube está a oferecer. Embora seja uma forma de financiamento que tradicionalmente tende a ser mais cara do que aquilo que estava a ganhar», nota ainda.
António Samagaio enfatiza esta questão e a sua importância, numa analogia com a situação do país: «O que se tem passado é que os adeptos querem é saber de resultados desportivos. A questão é que um dia a fatura chega. Como aconteceu com o país, estávamos contentes por termos hospitais e auto-estradas, mas o país estava-se a endividar.»
A PT e patrocinadores alternativos
Outra questão com impacto no futebol é a situação da PT, um dos grandes investidores no futebol nos últimos anos. O FC Porto, por exemplo, já assumiu o final do patrocínio da empresa, falando na procura de alternativas, eventualmente no mercado externo.
Aqui é uma questão de procura de receitas comerciais, e não é fácil, defende António Samagaio: «É um desafio encontrar patrocinadores que sejam capazes de pagar 5,6 milhões de euros por ano. A PT entrava com um nível de patrocínios significativo.»
Em termos comerciais o nosso é um mercado que não tem grande expressão. Na Alemanha, por exemplo, mais de 50 por cento das receitas dos clubes vêm de sponsorização, de publicidade. Cá não temos esse tecido económico», observa, notando como os principais novos investidores no futebol têm sido das economias emergentes, da Arábia, Ásia ou países do Leste.
«Não sei se Portugal tem poder para atrair esses mercados. O campeonato português joga-se à hora de outros campeonatos. Conseguirá ser atrativo na Ásia?», questiona, defendendo que este era um assunto que os dirigentes do futebol português deviam trabalhar em conjunto: «É um trabalho de fundo que devia ser feito, tentar promover o futebol português lá fora. Eu já sugeri uma ideia, fazer a fase final da Taça da Liga num país do Médio Oriente, onde as pessoas possam ter contacto direto com o futebol português. Mas para isso é necessário que as pessoas dos clubes se entendam.»
E ainda a questão dos fundos
Depois há outro dado na equação, a intenção da FIFA e da UEFA de limitar a intervenção no futebol dos fundos de investimento e nomeadamente dos passes divididos com essas entidades.
António Samagaio admite que esse movimento obrigue os clubes a mudar a forma como fazem os negócios, ao mesmo tempo que lembra como os riscos de envolvimento dos fundos são essencialmente de verdade desportiva
«Estes fundos eram sempre vistos como formas de conseguir alavancar os clubes para chegar a determinados jogadores. Para mim a questão central por trás da intenção da FIFA e da UEFA, tem a ver com quem é verdadeiramente a entidade por trás do fundo. É relevante, porque pode criar muitas dúvidas do ponto de vista desportivo, e o futebol precisa de uma imagem de credibilidade», observa: «Quando há um jogador de quem o clube tem 90 por cento e o investidor 10, é claro que quem manda é o clube. Mas quando é detido em 75 por cento pelo investidor, este não quer ver o seu ativo parado. Podem criar-se problemas ao nível da gestão de um plantel. Pode haver alguma pressão do fundo no sentido de que os seus próprios jogadores têm de jogar.»
Na opinião de António Samagaio, a proibição da propriedade por terceiras partes (Third Party Ownership, em inglês), «vai originar que efetivamente os clubes tenham que iniciar um processo de adquirir os passes de forma faseada, vai obrigar os clubes a investir». «O Benfica já comprou os direitos do Benfica Stars Fund», nota, constatando ainda que «quem está com maior exposição» a esta situação «é o Sporting».
António Samagaio nota ainda que deverá haver um período de transição que permita mitigar os efeitos da decisão: «Se a UEFA der um período de 4, 5 anos há maior margem, se for apenas de seis meses é mais complicado.»
Principais indicadores das contas dos três grandes
Resultados consolidados
Benfica: 14,2 milhões de euros (prejuízo de 10,4 ME em 2012/13)
Sporting: 368 mil euros (prejuízo de 43.816 ME em 12/13)
FC Porto: 40.701 milhões de euros negativos (20.356 ME positivos em 2012/13)
Rendimentos operacionais (excluindo transações atletas)
Benfica: 105 ME (85.941 em 12/13)
FC Porto: 72.613 ME (78.441)
Sporting: 35.3 milhões ME (32 milhões)
Gastos operacionais
Benfica: 109.156 ME (92.573 em 12/13)
Sporting: 41.9 ME (66)
FC Porto: 95.175 ME (96.585)
Ativo consolidado
Benfica: 440.7 ME (mais 5.8%)
Sporting: 146.8 ME (139.5 em 12/13)
FC Porto: 200.4 ME (227.853)
Passivo consolidado
Benfica: 449,1 milhões ME (440.480)
Sporting: 264.7 ME (258.873)
FC Porto: 233.463 ME (220.225)
Receitas correntes:
UEFA
Benfica: 22.407 ME (21.708 em 12/13)
Sporting: Não teve (1.908 em 2012/13)
FC Porto: 9.552 ME (20.390)
Direitos TV
Benfica: 28.176 ME (8.175 em 2012/13)
Sporting: 15 ME (11,5 em 2012/13)
FC Porto: 15.928 ME (13.185)
Bilheteira
Benfica: 6.523 ME (8.462 em 12/13)
Sporting: 6.4 milhões ME (5 milhões em 2012/13)
FC Porto: 6.228 ME (6.521)
Patrocínios:
Benfica: 19.066 ME (16.920)
Sporting: 7 ME (8.9 em 2012/13) Item junta patrocínios, publicidade, merchandising e licenciamento
FC Porto: 13.594 ME (13.067) Item junta publicidade e sponsorização
Custos com pessoal
Benfica: 61.181 ME (50.431)
Sporting: 25.000 ME (42.000)
FC Porto: 48.885 ME (54.065)
Demonstrações financeiras:
Benfica
Sporting
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