quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O DOUTOR TAMBÉM SE CONVENCEU


"Vieira está para os benfiquistas, como Marcelo para os portugueses"

Rui Rangel, antigo candidato à presidência do Benfica, em 2012, escreve esta quinta-feira um artigo de opinião a convite do Notícias ao Minuto, versando sobre as eleições do Benfica e o percurso de Luís Filipe Vieira à frente do clube da Luz.

O Benfica teve dois passados: um glorioso e grandioso que o catapultou aos grandes palcos europeus e mundiais, num tempo que não era fácil.
Teve, com grandes lideranças, por mérito e qualidade, durante largos anos, a hegemonia do futebol português. Passeava classe e categoria pelos relvados. A sua mística era inconfundível.
O outro passado, de muito má memória, para todos os benfiquistas, fez o Benfica cair num buraco negro. Tudo foi posto em causa, quer em termos desportivos, quer em termos financeiros. O Benfica perdeu dignidade, honra e esteve às portas de desaparecer como grande instituição.
Com início em Manuel Vilarinho, seguido depois por Luís Filipe Vieira, com grande trabalho, esforço e dedicação destes, ao clube, foi possível devolver aos benfiquistas o passado bom do Benfica, expurgando para o inferno, o passado mau, recuperando os valores, a grandeza histórica, a vida e essência que marcaram o Sport Lisboa e Benfica.
Mas tudo isto não foi feito com um estalar dos dedos.
A imagem financeira, a confiança e a responsabilidade foram resgatadas. Tardavam as vitórias… O caminho estava a ser trilhado rumo às vitórias e à liderança no campeonato. Era preciso inverter o ciclo e a hegemonia do Porto no campeonato. De vez em quando tocávamos o céu, ganhando, e, depois ficávamos anos, na terra, sem ver o sol.
Tudo ficava nublado para os lados da Luz
Luís Filipe Vieira, com uma liderança forte, dinâmica e agregadora, trouxe, de forma consistente, esse Sol, para o presente do Benfica, ganhando, três campeonatos seguidos, com mérito e sem espinhas, o que era coisa rara.
Mas trouxe mais: uma política desportiva vencedora; excelentes participações nas competições europeias; um centro de estágios e de formação de jogadores, que é um exemplo lá fora seguido por grandes clubes europeus; a entrada de jovens jogadores portugueses, da formação, na equipe principal; e uma gestão financeira e patrimonial controlada, garantindo a sustentabilidade do modelo financeiro.
É verdade que nenhum dos grandes respira uma excelente saúde financeira. O Benfica tem, ainda, um passivo preocupante, que precisa de ser reduzido. Contudo, ninguém pode dormir à conta dos êxitos.
O trabalho é permanente e árduo, é de todos os dias. Sei que o nosso Presidente não dorme e quer sempre mais.
O grande desafio do futuro é tentar harmonizar a consolidação das contas, reduzindo os custos operacionais e desportivos, designadamente com jogadores, daí a formação ser decisiva, baixando o passivo para níveis suportáveis, com os êxitos desportivos, que nos levem até ao Tetra e, a seguir, ao Penta.
É necessário garantir de forma sólida e consistente um modelo financeiro sustentável, optimizar a estrutura de custos actual e potenciar proveitos através da excelência desportiva. Reduzir os compromissos financeiros do clube, com soluções inovadoras para gerir a dívida.
Continuo a acreditar que a aposta na centralização dos direitos televisivos, após fim do contrato com as operadores de comunicação, feita de forma equilibrada, adequada e proporcional, é um ganho para todos, permitindo ao Benfica, que nunca esteve contra esta medida, arrecadar maiores receitas.
Ser um exemplo na defesa intransigente dos valores da verdade desportiva e pugnar por fazer baixar o excesso de ruído nas questões à volta do futebol, com prejuízos evidentes para o negócio. O sucesso continuado na Liga dos Campeões, face ao retorno financeiro que gera tem que ser, a par do campeonato, uma prioridade. Precisamos sempre de uma equipa competitiva.
Por isso os desafios do futuro não são fáceis e, poderão, ainda, complicar-se mais, se for criada, como tudo indica, uma liga europeia, em substituição da “Champions League”, com os clubes europeus milionários.
Luís Filipe Vieira é, hoje, um líder carismático. Está para a nação benfiquista, como Marcelo Rebelo de Sousa está para os portugueses.
A sua sorte e a nossa dependem, também, muito da bola entrar ou bater na barra. Pode ficar no Benfica o tempo que quiser. Fez muito bem em se recandidatar, bem sei, com esforço seu e de família. Se o não fizesse estaria a trair os benfiquistas.
O Benfica de hoje só é viável com a liderança de Luís Filipe Vieira.
Todos sabemos que as cadeiras do poder geram um fascínio que cega. Cegueira, essa, responsável, na história, por grandes tragédias pessoais e, sobretudo, institucionais.
E tudo na vida tem um tempo: o tempo de entrar e o tempo de saber sair. Os grandes líderes devem saber sair, no tempo certo e saber preparar a sua sucessão. O dia em que Luís Filipe Vieira quiser sair merece sair pela Porta Grande.
Que os Deuses estejam com ele,
Rui Rangel

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