"Com o Paços de Ferreira, fomos uma equipa mole, molinha, como sonhos de Natal. É normal, é a fruta da época, dir-me-ão, e ganhámos. Pois, é verdade, mas o adepto benfiquista tem de exigir mais ao Glorioso. Na Catedral, até jogámos um bom tempo ao ataque, a morder os calcanhares da baliza do guardião Felgueiras da Capital do Móvel, mas fizemos-lo sem demasiada convicção, sem aquele extra de urgência que empurra as bolas para as malhas. E, depois de marcarmos o golito, então aí é que nos desinteressámos quase por completo desse fenómeno chamado futebol.
Foi um golo bem jeitosinho, lá isso foi. Uma triangulação entre o nosso menino de ouro argentino, Franco Cervi, e o anti-herói 'prata da casa', André Almeida. Mesmo nesse momento feliz, a bola não parecia muito convencida de que devia dirigir-se para os interiores da baliza pacense. Gonçalo Guedes, o miúdo tuga que parece estar em todo o lado, aparecendo do nada a correr como aqueles ventos repentistas que atravessam as histórias do Faroeste, ainda teve oportunidades de chutar contra um jogador do Paços de Ferreira que para ali estava.
Mister Vitória bem gesticulava, pedindo mais bola, mais cabeça, mais alma à equipa, mas não havia maneira de a máquina engrenar. No ataque fazíamos belas trocas, desenhos rápidos, movimentos inesperados e sugestivos dignos da melhor dança contemporânea, mas, na hora agá do chuto, as chuteiras revelava-se cerimoniosas e mansinhas. (A propósito, o mínimo que se pode dizer é que Jiménez não acabou bem o ano). E, no meio-campo, continua a faltar um maestro. Um maestro de verdade, alguém que saiba gerir os tempos do colectivo - não um 'joker' interior como Pizzi (que, quinta-feira, ficou na bancada, castigado), nem um '8' em crescimento como Celis. Poderá ser André Horta esse maestro que nos falta?
E eis que chegamos às boas notícias do final de ano. Os regressos de Jonas e André Horta. O megacraque brasileiro jogou só uns minutinhos e no registo cuidadoso de quem regressa de uma longa travessia no deserto e, ainda assim - que diferença, que classe. Quando a bola passa por ele, passa realmente a poder chamar-se redondinha.
André Horta não fez nada de espectacular, mas traz para o relvado algo mais importante que técnica, táctica e tudo - amor à camisola. É por estas e por outras que entramos confiantes no futuro, não é verdade, amigos?"
Jacinto Lucas Pires, in O Jogo
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