segunda-feira, 28 de agosto de 2017

DO SORTEIO DAS LIGAS A VILA DO CONDE


"Pela minha parte não dou para este 'novo peditório' que faz as delícias de alguns e suscita a hipocrisia de outros.

1. Estão definidos os grupos e os confrontos da Liga dos Campeões e da Liga Europa. Lisboa, Porto, Braga e Guimarães vão receber, entre Setembro e Dezembro, milhares de adeptos-turistas. Ingleses e franceses, espanhóis e turcos, alemães e gregos, suíços e russos, austríacos e búlgaros calharam em sorte às cinco equipas portuguesas envolvidas nestas duas competições europeias. E nos cinco estádios portugueses serão recebidos, com muito calor humano, treinadores e jogadores que marcaram presença, com muito relevo, e em diferentes momentos e circunstâncias, nos respectivos relvados. A partir de meio de Setembro começam estas competições onde importa somar pontos para que a nossa Liga suba no ranking da UEFA. Cada ponto é quase ouro. Numa época em que tudo muda. Em que os mais fortes serão, no final e afinal, mais fortes. Mas o que sabemos, e é deveras significativo, é que o futebol português em oitenta participantes tem cinco emblemas nestas duas competições. Ou seja 6%. E na Liga dos Campeões a percentagem sobe para cerca de 10% (em rigor 9,4%) já que são trinta e duas as equipas presentes nesta competição que, por vitória, proporcionada um milhão e meio de euros de receita. E, também, e como é óbvio, três pontos! Estes números e percentagens são impressionantes tendo em conta a dimensão de Portugal e os orçamentos dos nossos clubes. Na verdade, ao olharmos para esta Liga dos milhões constatamos que estão representadas dezassete ligas mas que cinco delas atingem mais de cinquenta por cento (53%) das participações. Lá estão a Inglaterra (com cinco clubes em razão da conquista do Manchester da Liga Europa), a Espanha (4), a Alemanha (3), a Itália (3) e a França (com PSG e Mónaco). E só a Rússia também envolve duas equipas (CSKA e Spartak), já que as restantes Ligas apenas estão representadas por um emblema, o seu campeão nacional. A grande novidade é o extraordinário percurso da equipa campeã do Azerbaijão, o Qarabag, que vai defrontar o Chelsea, a Roma e o Atlético de Madrid. Na verdade não joga na sua cidade e representa a guerra, a dor, o sofrimento. O clube é originário da cidade de Agdam, que foi conquistada pelas Forças Armadas da Arménia, na sequência daquele que é conhecido - e por vezes esquecido - pelo conflito de Nagorno Karabaj. Joga, agora, em Baku e é mais um clube que sofre as consequências de rivalidades nesta Europa que só o futebol de vez em quanto, permite compreender. Este Qarabag é conhecido, também em razão das suas conquistas consecutivas (quatro Ligas e três Taças), como o Barcelona do Cáucaso. E para ele esta Liga dos Campeões é o máximo! Máximo pela presença e máximo, decerto, pela visita a Baku de grande nomes do futebol europeu. E acredito que cada ponto conquistado será efusivamente comemorado. Pelo menos já está no mapa da Europa do futebol!

2. Vamos viver cinco dias alucinantes. Nesta Europa do futebol vai circular muito dinheiro e vão concretizar-se algumas transferências e muitos empréstimos de jogadores. Vai haver a recomposição de alguns plantéis e vão ocorrer mudanças inesperadas. Nomes que julgávamos certos em algumas equipas vão sair para desgosto público de adeptos e privado de treinadores e a crescente intermediação de jogadores vai viver dias loucos mas com lucros bem interessantes. E muito relevantes. Não sei se o PSG fará uma nova loucura. Mas o que sei é que o ex-tenista, vive-presidente da Federação Asiática de Ténis, Presidente do PSG é, também, Ministro sem pasta do Governo do Qatar e membro do Comité Organizador do Mundial-2022. Talvez seja útil conhecer o terceiro homem mais poderoso do Qatar nesta semana em que começaremos a conhecer, em razão de mais uma dupla jornada de selecções, alguns dos Estados que conquistam, por direito próprio, o acesso ao Mundial da Rússia do próximo ano. Também por esta razão é importante que muitos jogadores se mostrem aos respectivos seleccionadores e daí que estes próximos cinco dias sejam muito interessantes. Há jogadores que estarão em estágios de selecções e vão mudar de clube. Para alegria das tesourarias de alguns clubes e para satisfação dos seus empresários. É, aqui, um mundo bem especial que está a crescer todos os anos. Dirão com uma bolha emergente. Eu direi que o combate de boxe da última madrugada atingiu números de outro mundo. Mesmo do outro mundo! Foram mil milhões de dólares!

3. Ontem o Benfica e o Rio Ave perderam os primeiros pontos nesta Liga. O Rio Ave mostrou que tem uma equipa bem organizada e mostrou as razões de estar nos lugares cimeiros. O Benfica evidenciou algumas dificuldades que importa analisar com inteligência. Principalmente na primeira parte. E o jogo do Benfica perante um Rio Ave que não se encolheu exige que se tirem as devidas ilações. Também em razão de uma equipa que integrou o pote 1 do sorteio desta edição da Liga dos Campeões! Mas ao longo da semana assistimos ao linchamento de Eliseu. Foi quase um saco de boxe. Teve uma entrada dura, é indiscutível. O árbitro não a sancionou sob o ponto de vista disciplinar. E o novo VAR, que de verdade, importa reconhecer, é uma decisão política, não corrigindo o árbitro. Depois, e perante o ruído de uma agenda mediática desportiva, Eliseu quase que já foi sancionado. Ele que, por sinal, envergou, pela primeira vez, a camisola do Benfica frente ao Rio Ave em Agosto de 2014, numa Supertaça, e que se concretizou no seu primeiro título com uma camisola que já vestiu, com muito orgulho, regularidade e consistência, mais de cem vezes. De repente Eliseu, dedicado e empenhado, sentiu o que é ser o mau da fita.
Pela minha parte não dou para este novo peditório que faz as delícias de alguns e suscita a hipocrisia de outros. Que estão em determinados palcos e são os justiceiros deste tempo e sem que tenham memória para uma viagem do seu tempo! Nem, assumo-o, acompanho a concretizada sanção exemplar a Jorge Sousa. Também cometeu um erro. Certo. Mas três jogos é de mais. O problema é quando a justiça tem medo da opinião pública ou publicada. Ou, então, do que se diz ou pode dizer... de nós... E há gente que tem alguns telhados de vidro... Mesmo alguns... Sabemos, desde Guerra Junqueiro, que «a vida é um calvário. Sobe-se ao amor pela dor, à redenção pelo sofrimento»! É isso. É essa a viagem no tempo que se está a fazer! Agora com uma pausa para os jogos das selecções nacionais!"

Fernando Seara, in A Bola

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