terça-feira, 26 de setembro de 2017

NO FEJSA... NO FESTA


Há uma hipótese muito popular que explica as performances desportivas com a atitude das equipas. Para quem olha assim para o futebol, a semicrise do Benfica é explicável de forma simples: numas quantas partidas, os jogadores revelaram pouca garra. Não digo que a vontade de vencer não seja importante. Contudo, devemos partir do princípio que, em equipas de topo, os jogadores entram em campo todos os fins-de-semana com desejo de vitória e que as alternâncias de humor são mais consequência do que causa.

Como explicar, então, a boa exibição do Benfica face ao Paços de Ferreira? Não foi, certamente, por a equipa ter tido outra atitude e demonstrado maior vontade de vencer. Estou certo que esta nunca faltou.
Alternativamente, há muito quem atribua às individualidades um papel decisivo. Em parte, é verdade, mas o futebol é um desporto de equipa e, sem coletivo, não há talento individual que valha. É algures entre talento individual e processo coletivo que se encontra a chave do sucesso e por mais qualidade individual que exista, aquela, sem processo coletivo, de pouco serve.
Regressemos a sábado, ao Estádio da Luz. As entradas de Júlio César e Fejsa na equipa fizeram muita diferença: não apenas pelo que acrescentaram individualmente, mas, acima de tudo, pela forma como a sua participação foi determinante para o jogar do Benfica.
Júlio César teve o esperado efeito calmante sobre a defesa, dando uma tranquilidade que faltou nos jogos com Varela na baliza. Decisivo foi mesmo Fejsa.
Não surpreende. Com o sérvio em campo, o Benfica tem um registo que vale a pena recordar. Na temporada passada, Fejsa jogou 25 jogos para o campeonato e a equipa sofreu dez golos. Nas restantes nove partidas, o Benfica sofreu oito golos e empatou por cinco vezes.
Há um Benfica com e sem Fejsa por força do rigor científico que o centro campista revela nos movimentos sem bola, oferecendo uma cobertura notável a todas as movimentações da equipa. O Benfica equilibra-se, reage melhor à perda e recupera bolas em zonas mais avançadas. Mas, talvez, o mais importante nem passe pela inteligência do posicionamento defensivo: com Fejsa em campo o Benfica melhora a defender, mas melhora ainda mais a atacar.
No sempre muito interessante GoalPoint, Luís Cristóvão publicou este fim-de-semana dois mapas reveladores, comparando os movimentos em campo de Pizzi frente ao Boavista e Paços de Ferreira. As diferenças são notáveis: no Bessa, Pizzi tocou menos na bola, pisou terrenos mais recuados, esteve mais disperso pelo campo e, também, a presença na área adversária foi menor do que na Luz, este fim-de-semana. Ora como o ataque do Benfica depende da associação Pizzi/Jonas, porventura, o mais decisivo em Fejsa é a forma como, sem tocar na bola, permite a Pizzi aproximar-se de Jonas, libertando ofensivamente a equipa do Benfica.
Pedro Adão e Silva, in Record

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