Em 90 minutos, conseguiu o Benfica desfazer a maldição das bolas nos postes.
Pode parecer que não, mas, na realidade, houve aspetos muito positivos na última exibição do Benfica na Europa. O grego Samaris, por exemplo, esteve em campo no último quarto de hora do jogo e cumpriu com excelência a missão de que foi incumbido: não só não foi expulso como também impediu com o seu esforço que o "score" atingisse proporções que pusessem em risco o marco histórico registado em 1999 em Vigo. Com Samaris em campo em Basileia, o Benfica sofreu apenas 1 golo e a coisa ficou-se modestamente pelos 5-0. No entanto, esteve bem à vista a reabilitação moral da equipa que se viu trucidada na Galiza no derradeiro ano do velho século XX. Duas bolas nos postes de Júlio César e uma soberba intervenção do guarda-redes brasileiro a roubar o golo a Van Wolfswinkel nos minutos finais garantiram a Rui Vitória que o pior resultado de sempre da história europeia do Benfica continua a ser aquele que o seu colega Jupp Heynckes trouxe da funesta viagem aos Balaídos há 18 anos. Outro aspeto encorajador desta última viagem internacional dos tetracampeões nacionais é a certeza de que, para bem dos seus pecados, o Benfica não joga em 2017/2018 no campeonato suíço. É que o registo de confrontações com o poderio helvético começou a descambar logo na pré-temporada, com uma exótica goleada sofrida perante a equipa dos Young Boys de Berna. Somando esses 5-1 de julho a estes 5-0 de setembro, é caso para se dizer que não há como a velha neutralidade suíça para neutralizar por completo o estatuto e as ambições do maior emblema de Portugal. Mas há mais ilações positivas a tirar do jogo de quarta- -feira. A questão das bolas nos postes, por exemplo. Chegou o Benfica à Suíça detendo o inóspito recorde de ter atirado 10 bolas aos ferros nos primeiros 10 jogos oficiais da temporada. O presente transe resolveu-se a bem em Basileia, embora de um modo radical que pode não ter agradado a uma imensa maioria de adeptos. Em 90 minutos, conseguiu o Benfica desfazer a maldição dos postes limitando-se estrategicamente a não rematar uma única vez à baliza à guarda do simpático Vaclik e, assim, se deu por encerrado o assunto com eficácia e prontidão. Temos, portanto, um Benfica com zero pontos à segunda jornada do seu grupo da Liga dos Campeões e com a perspetiva de ter ainda de jogar duas vezes com o Man. United, de ter de ir a Moscovo e, mais difícil ainda, de ter de receber em sua casa o mesmo Basileia, esse portento helvético. E também aqui se vislumbra um repto positivo: a Liga Europa, uma provazinha mais à medida das nossas capacidades. O problema é lá chegar. Outras Histórias Só houve Benfica fora das quatro linhas A bater palmas aos adeptos esteve bem a equipa de Rui Vitória Verdade, verdadinha, em Basileia só houve Benfica fora das quatro linhas. E diga-se que a prestação dos dez mil benfiquistas nas bancadas do St. Jakob-Park foi de se lhe tirar o chapéu. A soma dos milhares de quilómetros que toda aquela gente percorreu até chegar ao seu lugar na bancada e a soma dos outros tantos milhares de quilómetros feitos no regresso a casa são a expressão máxima do amor e do querer dos adeptos que não olham a sacrifícios para comparecer onde a sua voz for precisa. E que voz. Aos 3-0, ouviam-se puxando pela equipa como se nada de catastrófico se estivesse a passar. E estava. Aos 5-0, continuavam a fazer ouvir-se, merecendo as atenções e a homenagem da realização da transmissão televisiva que lhes concedeu um merecidíssimo protagonismo pelo seu exemplo de fé nos instantes finais da coisa. No fim de tudo, viram-se aplaudidos pelo público da casa e pelos jogadores do Benfica. Aí, sim, a bater palmas aos adeptos esteve bem a equipa de Rui Vitória.
Leonor Pinhão, in Correio da Manhã
Excelente artigo. Ironia profunda sobre uma exibição cheia de nada.
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