segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

ZÉ PEDRO


"«A morte é uma vitória, e quando se viveu bem o caixão é um arco de triunfo»

1. Partiu o Zé Pedro. Deixou-nos na passada quinta-feira e com ele também foi uma guitarra, um lenço, umas pulseiras e certas tatuagens que não esqueceremos. Já lá iremos. Mas este artigo não o esquece. E envia um abraço de sentidos pêsames a sua Família e, em particular, a sua dedicada Mulher.

2. O futebol vive de paixão e emoção. De controvérsias e de discussão. A relativa simplicidade das suas regras permite que diferentes gerações - tenham opinião acerca da falta e da grande penalidade, do amarelo exibido e do fora-de-jogo assinalado, do vermelho perdoado ou da mão não vista. Logo bem ou mal ignorada consoante, em certos casos, as cores de cada um dos olhos. Dos nossos olhos sempre coloridos. Acredito que em tempo experimental do VAR - do videoárbitro - muitos acreditavam que seria a solução tecnológica que limitava a polémica e diminuía a discussão apaixonada. É inequívoca que a linha de golo é uma imensa conquista para a verdade desportiva. É indiscutível que o VAR permite reverter situações que as claras imagens desportivas legitimam e, até, exigem. E o conjunto das reversões já concretizadas na nossa Liga permitem constatar que é uma ajuda relevante para a correcção de situações. Logo que ampliam a verdade do jogo, ou seja, e em tese, a denominada verdade desportiva. Permitem-me a ousadia de dizer que o VAR também amplia a discussão acerca dos momentos mais controversos de cada jogo. O VAR não elimina o erro humano Diminui-o. O VAR é uma câmara complementar mas não é a salvação para todas as circunstâncias do jogo, de cada jogo. O VAR está, naturalmente, num processo de crescimento. O protocolo existente para a nossa Liga sofrerá as necessárias evoluções tendo em conta erros que estão a ser detectados e situações que importa afinar. O que é determinante é ter a ousadia de proclamar que o VAR é um relevante passo para corrigir erros claros. Para aumentar o concreto conceito de verdade desportiva. Sabendo todos com Jean Cocteau que «a verdade é muito crua, não excita os homens». Salvo em certos dias...

3. O jogo do Estádio do Dragão na passada sexta-feira, para além das suas múltiplas incidências e das contínuas discussões que necessária e legitimamente motiva, permitiu que o Benfica olhe para este mês de Dezembro com acrescida esperança. Este Benfica não europeu - apenas nesta época! - sabe que tem de concentrar toda as suas atenção e total disponibilidade nos três competições domésticas. Tendo consciência que alguns desejavam que estivesse a oito pontos e está, somente, a três! Tem de se concentrar desde logo na Liga NOS tendo em conta a sua vontade de conquista do singular penta. Mas também sabendo a importância da Taça de Portugal e da Taça da Liga. E neste mês de Dezembro, e após o Dragão, o Benfica de Rui Vitória - que chegou em 81 jogos aos 200 pontos na nossa Liga o que é de vivamente enaltecer! - tem de ultrapassar todos os diferentes e complexos adversários - do Estoril ao Tondela, do Rio Ave ao Portimonense e terminando, mesmo no final do mês, com um novo confronto com o Vitória de Setúbal - para agarrar logo o inicio de 2018 com entusiasmo e sentido de conquista. Com esperança e confiança. Com força e vontade. Com moral e com fé. Com fome de vitórias e com alma imensa. Que é ambição e, também, chama. Intensa e imensa. E antes do Dia de Reis, e na larga noite de 3 de Janeiro, o Benfica recebe o Sporting. Com a sua paixão e emoção. Sabendo que «tudo o que não é paixão tem um fundo de aborrecimento». E sabendo todos que este nosso futebol, e o seu específico ambiente, o que não gera mesmo é aborrecimento! Não gera mesmo! Mas recordando William Shakespeare importa assumir que as «as paixões ensinaram a razão aos homens»! Ensinaram e ensinarão. Como veremos a prazo curto...

4. Na noite da próxima quinta-feira - vésperas de mais um feriado revertido - saberemos as equipas que marcarão presença nos oitavos de final da Liga dos Campeões ou nos dezasseis avos de final da Liga Europa. Com o Braga a um passo do sonho e o Guimarães a ter de fazer muitas contas para agarrar um lugar naqueles dezasseis avos de final. O que sabemos é que há na Liga dos Campeões seis equipas já fora de todas as contas europeias: Benfica, Mónaco, Feyenoord, Maribor, Qarabag e Olympiakos. E que há oito equipas que já garantiram a presença no sorteio de 11 de Dezembro, ou seja, nos oitavos de final e que ambicionam estar presentes na final desta atractiva competição. E que assim olham com muita esperança para o dia 26 de Maio de 2018 em Kiev. E as oito são: Barcelona, Real de Madrid, Manchester City, Chelsea, Totenham, PSG, Bayern de Munique e Besiktas. A luta pelo acesso aos oitavos centra-se em catorze equipas e, nelas, estão, - o que vivamente se sublinha e evidencia - o Futebol Clube do Porto e o Sporting. Com a equipa de Sérgio Conceição a depender apenas dela própria para esse desígnio e o Sporting de Jorge Jesus a ter de ultrapassar o Barcelona e de ter todos os ouvidos no resultado de Juventus. Que, por sinal, este fim de semana venceu fora o Nápoles enquanto a equipa de Messi empatou, em casa, e com surpresa, com o Celta de Vigo. E desejando que o Benfica conquiste os primeiros pontos - e, logo, também os primeiros euros - na próxima terça-feira frente ao Basileia. Por uma questão de várias contas...

5. Na próxima semana arranca nos Emiratos Árabes Unidos mais uma edição do Mundial de Clubes. Onde em 2014 marcou presença como árbitro o Pedro Proença. Lá estará uma vez mais o Real de Madrid, o campeão em título. Mais o Grémio de Porto Alegre e o Wydad, o campeão marroquino com expressão do continente africano. A que se juntam o mexicano Pachuca e o japonês Urawa. E desta vez com uma outra presença portuguesa, a de Artur Soares Dias. Como VAR. Ou seja, como videoárbitro. O que significa que a FIFA valoriza a experiência portuguesa. Por cá tem dias. Ou melhor noites!!!

6. Sabemos já as selecções que vamos defrontar no Mundial da Rússia. Em que Itália e EUA não marcam presença e com consequências para a não participação de certos patrocinadores e, logo, para as receitas da FIFA. Espanha, Marrocos e Irão serão os nossos adversários. Num jornal de referência do nosso vizinho, o El País, lemos Cristiano Ronaldo nunca marcou a Espanha e que esse é um dos seus complexos. Veremos em Sochi em 1 de Junho de 2018... Mas permitem-me evidenciar a liderança, complexa e ousada, de Carlos Queiroz no Irão. Acaba de dizer que a selecção iraquiana precisa de uma «preparação especial para o Mundial» Os jogadores e os milhões de adeptos da selecção. E como dizia na Roma Antiga Públio Siro «quem tem coragem para enfrentar os perigos, vence-os antes que eles o ameacem»!

7. Regressemos ao Zé Pedro. Deixou-nos. Com ele foi uma parte bem especial do rock'n'rool português. Éramos, como uma vez simpaticamente me disse, da mesma colheita, de 1956. Viveu estes anos, estes sessenta e um anos, com verdadeira intensidade, uma intensa generosidade. Com ele foi um pouco da nosso memória musical. Letras que nos embalam e sons que nos amparam. Gostava, como me confessou um dia, de futebol. Mas, acima de tudo, nós gostávamos dele. Muito. Mesmo muito. E já temos saudades. Nós que somos da colheita de 56! O ano em que Elvis Presley apresenta 'Heartbreak Hotel', o Real de Madrid conquista a sua primeira Taça dos Clubes Campeões Europeus, são inaugurados os Estádios de Alvalade e do Restelo e em que o Futebol Clube do Porto se sagra, após renhida disputa com o Benfica, campeão nacional. Mas para o Zé Pedro são verdade as palavras de José Marti: «A morte é uma vitória, e quando se viveu bem o caixão é um arco do triunfo»!"

Fernando Seara, in A Bola

Sem comentários:

Enviar um comentário