"Faltam seis jornadas para se encontrar o campeão, agora praticamente limitado aos suspeitos do costume: Benfica e FC Porto.
A águia Vitória voltou à Luz. Sem condições. Depois de ter esvoaçado misteriosamente no sábado passado, soube-se agora que tinha aproveitado um voucher turístico para ir ao Restelo saborear uns sempre palatáveis pastéis de Belém.
Regressou bem e vitoriosa, mas sempre cautelosa. Faltam seis finais para se encontrar o campeão nacional desta época, agora praticamente limitado aos suspeitos do costume, Benfica e Porto. Ambos dependem apenas de si próprios, ainda que para isso se tenham de defrontar dentro de poucos dias no Estádio da Luz. O vencedor deste encontro será certamente o campeão.
Já o Sporting claudicou, dezasseis anos volvidos, contra o meu segundo clube do coração, o Belenenses. Assim, o Benfica que, finalmente, tinha sido líder à condição durante 48 horas, foi fiel ao bom idioma português e abandonou aquela indigente expressão e passou a ser líder sem qualquer outra condição.
Já o Sporting evidenciou a síndrome de não vencer o campeonato há muitos anos, falhando em momentos decisivos, com bons jogadores, mas sem a cultura de campeões. O presidente do clube, com alguns méritos no relançamento da alma sportinguista, não vem contribuindo para a serenidade e estabilidade que se exigem nos momentos decisivos.
À 28.ª jornada, o meu clube é quem tem mais pontos, menos derrotas (uma), mais vitórias (em igualdade com o FCP), mais golos marcados, menos golos sofridos (em igualdade com o FCP), mais pontos fora de casa, mais pontos em casa (em igualdade com o FCP), o melhor marcador. Depois do que os nossos adversários vêm sistematicamente dizendo desde o início da época, não será coisa de somenos.
É elucidativo comparar a primeira volta com as até aqui realizadas 11 jornadas da segunda volta.
1.ª Volta - (17 jornadas)
Benfica: V(12); E(4); D(1); G(40-15); P(40); 78%
Porto: V(14); E(3); D(0); G(45-9); P(45); 88%
Sporting: V(13); E(3), D(0); G(38-10); P(43); 84%
Braga: V(12); E(1); D(4); G(34-15); P(37); 73%
2.ª volta - (11 jornadas)
Benfica: V(10); E(1); D(0); G(33-5); P(31); 94%
Porto: V(8); E(1); D(2); G(25-7); P(25); 76%
Sporting: V(7); E(1); D(3); G(15-8); P(22); 67%
Braga: V(9); E(0); D(2); G(29-9); P(27); 82%
Como se constata pelo quadro, o Benfica tem, na 2.ª volta, mais 9 pontos do que o Sporting e 6 do que o Porto, sendo, neste mesmo período, o segundo lugar ocupado pelo Sporting de Braga. Uma palavra mais do que merecida para o clube minhoto, que tem feito uma campanha de grande gabarito, com um colectivo superior à soma das partes e com um jovem treinador que sabe bem o que faz.
Se retiramos os jogos entre os chamados grandes e os que o Sp. Braga com eles disputou (4 derrotas sofridas contra o Benfica e Porto e um empate e uma vitória contra o Sporting), os arsenalistas obtiveram 20 vitórias e apenas 2 derrotas, desperdiçando apenas 6 pontos, à frente do Benfica (9 pontos perdidos), Porto e Sporting (10 pontos perdidos). Impressionante!
Tempo útil de jogo
Ouvi as declarações de Rui Vitória numa recente palestra em Braga. Falou de um tema sempre presente e sempre por resolver. Refiro-me ao tempo útil dos jogos de futebol. Entenda-se por útil, o jogo com a bola a correr, ainda que mesmo assim, muitas vezes o útil seja completamente inútil.
Disse Vitória que, segundo estudo recente, o futebol jogado no nosso país é o que tem menos tempo de jogo jogado. Qualquer coisa como 49 minutos, o que considerando um total de 95 minutos de relógio, dá uma paupérrima percentagem de 51,8%! Entretanto, pude constatar a diferença muito substancial que nos separa das provas da UEFA e de outros campeonatos. Na Champions, o valor é de 60 minutos úteis (mais 22% do que por cá!) e nos principais campeonatos oscila entre os 57 minutos de Itália, os 56 de Inglaterra e Alemanha e os 54 de Espanha. O curioso é que na Champions e Liga Europa, os clubes portugueses não se aventuram em peripécias contumazes de perda de tempo nos jogos. Percebe-se porquê, evidentemente, mas é triste constatar esta diferença.
Os organismos mundiais e europeus que mandam nas regras do futebol continuam a ser exageradamente conservadores. Muito se tem falado em diversas vias para resolver a tendência para um futebol manhoso, falso e anti-desportivo e que vai afastando as pessoas dos jogos, a não ser por militância clubista.
Em Portugal, há de tudo. Guarda-redes que começam a queimar tempo no primeiro pontapé de baliza, que se deitam aparentemente lesionados uma série de vezes ainda que denunciados pelas câmaras de televisão que nada evidenciam como sua causa, lançamentos de linha lateral que demoram uma eternidade, essa tonta moda de substituições em série nos últimos minutos e descontos, manhas de jogadores mais experimentados e até (embora menos) conluio com os chamados apanha-bolas.
Perde o futebol, enfraquece e espectáculo e, não raro, desvirtua-se a verdade desportiva. E, em função dos jogos e dos contextos, nenhuma equipa foge a esta regra quase endogâmica. Claro que os clubes menos fortes fazem do desperdício do tempo um elemento substantivo táctico, aliás, incentivado muitas vezes pelos técnicos. Por isso, seria interessante ver declarações de treinadores que passaram por clubes mais modestos e depois são alcandorados a clubes mais fortes a proclamarem uma coisa e o seu contrário.
Os árbitros, numa atitude naturalmente defensiva sobretudo quando se trata de lesões reais ou simuladas (eles não são médicos), continuam a ser muito coniventes com a perda de tempo, sobretudo com os guarda-redes que depois de 10 ou mais retardamentos no reatar das partidas são admoestados com um singelo cartão amarelo aos 90 minutos! Não me lembro, aliás, de alguma vez um keeper ter sido expulso por esta prática anti-desportiva. Como não me lembro de, em Portugal, se penalizar com um livre indirecto quando o guardião demora mais de 6 segundos a repor a bola em jogo.
Tem vindo a falar-se em muitas ideias para privilegiar o tempo útil. Admito que não seja adequado para o espectáculo que nos 90 minutos conte apenas o tempo útil, como se fez em modalidades de pavilhão (hóquei em patins, basquetebol ou futsal). Também creio que é discutível o sistema usado no andebol em que a interrupção do tempo útil depende das circunstâncias e da decisão do árbitro caso a caso.
Talvez se pudesse começar por soluções experimentais ou mistas, evoluindo-se gradualmente para uma via que absorvesse os seus resultados positivos ou negativos. Por exemplo: 1) tempo útil obrigatório nos últimos 10 minutos e tempo de compensação; 2) regras estritas de tempo para efectuar os pontapés de baliza, cantos e lançamentos laterais, sob a pena de serem assinaladas faltas; 3) paragem do relógio (através do controlo do 4.ª árbitro) entre o tempo que o árbitro interrompe o jogo por lesão de um ou mais jogadores e o seu reatamento.
Aliás, creio que a chegada ao tempo de contagem do tempo útil acontecerá. Apenas ainda não se sabe quando. Por isso, começar mais cedo é resolver melhor o problema.
Contraluz
- Música: Raúl Jiménez com a sua 'rabona'
Para o golo de Jonas. Foi uma soberba jogada musical: letra do mexicano, música do brasileiro e com dos adeptos. Notável!
- Previsível: Não há árbitros portugueses no Mundial da Rússia
Depois de sucessivas presenças em Mundiais e Europeus, com algum brilho, a ausência da arbitragem portuguesa reflecte a degradação ambiental e as polémicas constantes no nosso futebol.
Número:
Ao que julgo, nas estatísticas do Benfica - Vitória Sport Clube, a equipa da Luz cometeu a primeira falta apenas aos 5 minutos da 2.ª parte, ou seja, 50 minutos sem qualquer penalização. Não me lembro de alguma vez isto se ter verificado!"
Bagão Félix, in A Bola
Sem comentários:
Enviar um comentário