"O futebol português tem vários problemas. E um deles é haver tanta gente com responsabilidade a assobiar para o lado.
O presidente do Sindicato dos Jogadores vai levar alguns capitães de algumas equipas de Liga e Liga 2 para discutirem com a Liga, a Federação Portuguesa de Futebol e o Governo para discutirem o momento do futebol português, em especial o ambiente criado aos seus profissionais com as tão na moda denúncias anónimas, um novo mal inventado por uma indústria que, em Portugal, parece sentir uma irresistível tentação pela lama. A medida é boa, como boas são todas as medidas que visem tentar alterar o estado das coisas. Mas podia Joaquim Evangelista, antes de mais, falar com os capitães dos três grandes (estarão nas reuniões?) e pedir-lhe primeiro para falarem com os seus presidentes, exigindo-lhes bom senso e respeito - a eles e a todos os que, em nome deles, falam nos canais, oficiais ou não oficiais, dos clubes - pelos seus companheiros de emblemas mais pequenos, usados como carne para canhão numa guerra com a qual não têm nada a ver.
Porque é preciso perceber uma coisa: por serem anónimas as denúncias são órfãs de pai e mãe. Mas têm sempre, um objectivo concreto, pensado por mentes mais ou menos perversas para quem os fins justificam os meios. Não lhes interessa quem atingem pelo caminho, desde que esse caminho os deixe mais perto de ganhar. É triste, mas é a realidade a que chegou o futebol português. Por isso, claro, fale-se e discutam-se formas de acabar com este ambiente. Mesmo que já não vamos lá só com conversa. Mas enfim, pode ser que se trate só de um primeiro passo.
Marcelo Rebelo de Sousa pediu, na Gala das Quinas de Ouro organizada pelo Federação Portuguesa de Futebol, «elevação e grandeza» aos responsáveis pelo futebol português. Mesmo tratando-se do Presidente da República, há um risco (muito elevado, até) de também este apelo cair em saco roto, engolido por essa máquina trituradora em que todos conseguimos transformar algo que devia, de facto, estar acima de tudo e todos. Por ter esperança de que alguns possam, tendo ouvido as palavras da maior figura de Estado, não saber bem o que quis dizer, aqui fica, com a ajuda do Dicionário, a definição das duas palavras.
Elevação: «1. Acto de elevar; ascensão. 2. Distância desde o solo, ou a partir de um ponto dado; altura. 3. Lugar que fica sobranceiro; eminência; outeiro, colina. 4. Aumento. 5. Exaltação a uma dignidade. 6. Grandeza, nobreza; distinção».
Grandeza: «1. Qualidade de grande; tamanho; extensão; a altura; comprimento. 2 (Figurado) Excelência (em coragem, magnanimidade, etc.). 3. Fausto, pompa, opulência. 4. Nobreza. 5. Dignidade, hierarquia. 6. Título honorífico de grande do reino».
Pode ser que ajude...
António Costa, o primeiro-ministro, não quis ficar atrás e falou, em entrevista à Visão, do momento do futebol português. Entre várias palavras de circunstância, foi-lhe perguntado se em Portugal havia alguma hipótese de o Governo fazer o que se fez na Grécia, onde o governo suspendeu o campeonato. «Na Grécia um dirigente entrou com uma arma em campo. Ainda não chegámos a esse ponto», atirou o primeiro-ministro. Tem razão António Costa: não chegámos a esse ponto. Ou melhor: AINDA não chegámos a esse ponto. Mas não estamos livres disso. Porque se há coisa que já aprendemos é que não há limite para aquilo que podemos esperar do futebol português. Até o que nos parece impossível é, afinal, possível. É bom, portanto, que o Governo se deixe de palavras bonitas, descruze os braços e deixe de fazer de conta que não há um problema. Porque há. Vários, até. E um deles é haver tanta gente com responsabilidade a assobiar para o lado."
Ricardo Quaresma, in A Bola
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