"De repente, aqui há umas semanas, com o furacão que se abateu sobre o eixo Campo Grande - Alcochete, o que era 'verde-erva' passou a ser preto-escuro. De súbito, os debates e as redacções dos jornais, das TV e das rádios dedicados ao futebol pareciam ter ficado todos baralhados: no plano pessoal e, sobretudo, nos campos institucionais, durante uns diazinhos, tudo o que era opiniões e tomadas de posição firmes e irrevogáveis de ex-indefectíveis deixou de o ser e, num ápice, transformou-se no seu contrário.
Logo nos primeiros dias das escandaleiras de cor de verde, instalava-se a mais generalizada e acabada traquibérnia nas discussões, deixando às escâncaras a perplexidade, a ruborisada gaguez ou, até, uma farisaica indignação dos que, ainda dias antes, se mostravam como os mais prolixos e intransigentes apóstolos evangelistas de um deus menor e maluco.
O certo é que, a pouco e pouco, com falas mansas e muita esperteza, o insano - agora ainda mais agarrado à tripeça em que, por mais de uma vez, o puseram sentado, eleito e assentado - já volta a baralhar tudo e todos e embrulhou mesmo, num saco de papel-manteiga, os pobres desgraçados que (pelo menos institucionalmente) têm de lhe ir fazendo frente num combate inglório, sem tino, sem regra, sem lei nem esperança, enquanto já parece também voltar a arrastar no seu rojão os mesmíssimos repórteres comentadores, editores, chefes de redacção e directores das mesmas televisões, rádios e jornais que, como dantes, não se importam de continuar a fazer o papel de marionetas. Tarde piaram, os deploráveis ingénuos que agora chamam por polícias e bombeiros...
Quando, há muitos meses atrás, em muitas reiteradas ocasiões, o menor bom senso comum já recomendava precaução e sentido de responsabilidade, tudo 'aquilo' era um mundo de ilusão e de euforia irresponsável, em que andavam todos aos pulos, nos abraços e aos beijos, numa festa permanente, de jantaradas, casamentos e baptizados, como nos velhos filmes do cinema português com António Silva, Vasco Santana e Óscar Acúrcio... Hoje, é tarde demais. E só por um milagre se poderão ver livres do inferno em que se meteram, de boa vontade e culpas próprias. Seria para rir, se não fosse verdadeiramente dramático. Para eles todos.
Quanto a nós, vamos ganhando, vamos perdendo também, e às vezes empatamos. Mas não nos desviaremos do rumo traçado há quinze anos e continuaremos a fazer o nosso caminho, a crescer e a blindar o nosso querido Benfica relativamente a todas as aventuras e a todos os aventureiros que cada vez mais olham para nós com cobiça e com complexos."
José Nuno Martins, in O Benfica
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