"2018, agora a desvanecer-se, talvez possa ficar para sempre, na narrativa do Sport Lisboa e Benfica, como o Ano da Mulher. Pela primeira vez na sua história centenária, o nosso clube institucionalizou a actividade simultânea de equipas do género feminino nos respectivos escalões principais e de formação, nas cinco mais nobres 'modalidades colectivas de pavilhão' - hóquei em patins, voleibol, andebol, basquetebol e futsal, além de ter ainda iniciado a acção do futebol feminino e de manter a presença feminina no atletismo, no judo e no râguebi, assim como em todas as outras restantes modalidades escalões e especialidades que já tínhamos em exercício.
Podemos, pois, afirmar com inteiro sentido que, nesta época, a mulher ocupou o seu devido lugar - por fim, tornado indeclinável - nas estruturas representativas do Sport Lisboa e Benfica e no espaço competitivo do desporto, em Portugal.
O Benfica é um grande clube de futebol? Sim, é verdade. Mas, em pleno século XXI, tinha naturalmente de ser muito mais do que o clube de futebol que sempre disputa o primeiro lugar de todos os torneios masculinos. A sociedade portuguesa evoluiu. E também se transformou completamente, no sentido da partilha de géneros que hoje é patente e constante em todas as áreas de actividade. Há muito tempo que no desporto, com naturalidade, a mulher-adepta saltara da bancada para a pista, onde a mulher-atleta quis desenvolver o inequívoco mérito da performance competitiva. Tornava-se, então, imperioso que o Benfica reflectisse essa nova tendência social
Creio, pois, que os Benfiquistas terão presentes toda a importância que estas decisões da Direcção do Clube representam: ter tão determinadamente chegado ao presente patamar significou que o Benfica soube cumprir o passo decisivo para espelhar, de modo cada vez mais abrangente, a própria sociedade portuguesa em que sempre esteve tão profundamente inserido, e que, logo desde 1904, lhe determinara como gloriosa matriz de vida colectiva, a personalidade e o perfil conjuntivo.
No Sport Lisboa e Benfica, desde há quase duas décadas, estamos bem habituados aos sinais de grandeza do Clube. Já nem nos espanta termos sido capazes de nos havermos reerguido do grau zero em que estacionávamos no inicio do século. Quase nos esquecermos, hoje, de termos ousado desconstruir a velha Catedral, para construir um dos mais modernos complexos desportivos de alta competição da nova era, em todo o mundo, em poucos meses, e de o termos pago em poucos anos. Já nos parece natural termos sido capazes de levantar (do meio do nada) o Caixa Futebol Campus do Seixal e de, ainda agora, lhe termos acrescentado quase outro tanto, na dimensão e nos equipamentos, ao mesmo tempo que já projectamos outro centro de treino para o alto rendimento que irá potenciar a performance atlética dos nossos melhores desportistas de eleição.
Ora, é nestas circunstâncias que entendo que nunca será demais relevar que se trata de um esforço absolutamente ímpar do Benfica, tanto no contexto nacional como em termos internacionais: nenhum outro grande, pequeno ou médio clube português ou estrangeiro está a garantir, hoje em dia, esta diversidade de escolhas e, mais do que isso, a inigualável soma de condições de trabalho às mulheres atletas seniores, assim como aos respectivos escalões de formação. Nenhuma outra associação desportiva do nosso país ou de qualquer outro da União Europeia (ou do resto do mundo...) consegue empreender actualmente uma tenência desta dimensão.
E se é certo que quase tido devemos ao arrojo do espírito visionário do presidente Luís Filipe Vieira, também não deixaremos de reconhecer a persistência e a capacidade de gestão desportiva do vice-presidente Domingos Almeida Lima e a simultânea constância do vice-presidente Fernando Tavares: eles representam, nas cinco 'modalidades de pavilhão' e no futebol feminino e no Projecto Olímpico, a determinação com que em 2018 se cumpriu esse desígnio do novo Benfica Mulher."
José Nuno Martins, in O Benfica
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