sábado, 26 de janeiro de 2019

FILME DE PIRATAS


"A detenção do hacker em Budapeste gerou calafrios em algumas espinhas ali acima de Gaia.
O nervosismo é evidente, e muito mal disfarçado. Com esta não contavam eles - aquilo que parecia o crime perfeito acaba, como no cinema, por falhar num ou noutro detalhe, e expor os bandidos à justiça.
Agora somos nós a sentarmos-nos numa cadeirinha, e a pedir pipocas para assistir às cenas dos próximos capítulos. E tanto que elas prometem... Independentemente do natural curso das investigações, os dados disponíveis são já mais do que suficientes para compreendermos o que se passou. Temos então um delinquente que violou a correspondência privada de várias entidades ligadas ao futebol; temos um funcionário do FC Porto que divulgou na TV e-mails roubados ao Benfica, e escreveu um livro sobre eles; temos um colega de faculdade do delinquente convidado para esses programas o co-autor do livro; e tivemos, uns dias antes da divulgação, uma reunião secreta entre os staffs de comunicação de FC Porto e Sporting.
Roubada a correspondência, havia que seleccionar meia dúzia de conversas confidenciais mais ou menos inócuas mas susceptíveis de aguçar a curiosidade mediática, e contar com uns quantos jornalistas amigalhaços, com blogues criados para o efeito, com a gula dos adeptos, e com a luta pelas audiências televisivas, para amplificar o assunto até à náusea.


Não é preciso fazer um desenho. Nem chamar o Sherlock Holmes. Os factos são, eles próprios, bastante ilustrativos. O Benfica foi vítima de um crime em larga escala, e alguém terá de pagar por ele. Começa a perceber-se quem. Só não se sabe quando."



Luís Fialho, in O Benfica

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