sábado, 25 de maio de 2019

O HOMEM É COMUM E É DE FERRO


O que Bruno Lage fez é sensacional em qualquer parte do mundo. Se tudo lhe correr bem na profissão, e é possível que corra, Lage até poderá vir a ser conhecido como o homem que chegou para acabar com os «mind games» no futebol. Os famosos «mind games» que, por sua vez, foram elevados ao estado de arte suprema por outro treinador português, José Mourinho. Ambos são de Setúbal. Da personalidade de Mourinho sabe-se muito, da personalidade de Bruno Lage sabe-se ainda pouco. Lage, por exemplo, não é lacónico nem é um zelota nem, muito menos, é um tipo envergonhado a falar. Então é o quê? "Sou um homem comum", disse o treinador do Benfica aos jornalistas que o aguardavam à entrada do edifício da Câmara de Lisboa, onde a equipa campeã foi receber as homenagens da cidade que também traz no nome. "Sou apenas um homem comum que acha que devemos dar outro sentido à nossa sociedade", e disse-o, encolhendo os ombros, num tom descontraído de quem se limita a fazer um exercício público de bom senso e que, naturalmente, se espanta por evidências destas para ele - a de ser um homem comum e a de ter preocupações sociais - não serem evidências igualmente límpidas, claríssimas para outros. Mas o que Bruno Lage fez de mais sensacional foi ter levado o Benfica a conquistar o 37º título de campeão da sua História. Iniciada nos primeiros dias de janeiro, esta caminhada triunfal do Benfica com Lage e com recurso a reforços oriundos das equipas B e de juniores, tem merecido variadas tentativas de explicação racional. Adeptos, analistas, comentadores, matemáticos e até filósofos têm-se esmifrado por encontrar a chave deste sucesso sendo que a chave é para todos, obviamente, Lage. Mas como conseguiu o que conseguiu? Mas porquê ele? E como não soçobrou Lage e o Benfica de Lage depois daquele empate ridículo na Luz com o Belenenses que se seguiu à vitória conquistada no Porto e que, num repente, chegou a parecer inútil? A explicação está na imagem que acompanha a crónica. 

Observem-na. Trata-se do momento em que Luís Filipe Vieira anuncia no balneário dos novos campeões que lhes vai dobrar a todos, sem exceção, o valor do prémio pela conquista do título. Na imagem, à direita, podem ver Salvio e Florentino aos pulos de alegria e, à esquerda, podem ver Gabriel, João Félix e Rúben Dias aos saltos de entusiasmo. . No centro está o presidente, de braços abertos de felicidade (e de generosidade) e atrás de Luís Filipe Vieira vemos Bruno Lage tranquilo, impassível, de braços cruzados, sem sequer esboçar um gesto de satisfação tendo em conta que, nesta coisa de prémios a dobrar, não houve maior beneficiado do que ele próprio.  Pois nem mexeu um músculo. Nada o abala. O homem é comum e é de ferro. E foi assim que o Benfica, o emblema da gente comum, foi mais uma vez campeão.

Leonor Pinhão

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