quinta-feira, 27 de junho de 2019

COM MUITO DINHEIRO GRANDES RESPONSABILIDADES


O Benfica terá feito um negócio notável com a venda do passe de João Félix. Escrevo no condicional pois há apenas uma declaração de intenção do Atlético de Madrid e, até à comunicação oficial, há alguma informação incerta e, por vezes, contraditória. Mas, se se confirmar uma venda pela cláusula de rescisão de , estamos perante um dos  120 milhões de euros, estamos perante um dos melhores negócios da história do futebol. João Félix jogou  uns breves 3.022 minutos com a camisola da equipa A do Benfica. Em 43 jogos, confirmou que é um jogador diferenciado, com golo, muita qualidade na decisão e um potencial imenso. Só que, sendo óbvio que um Benfica europeu precisa de ser capaz de reter talento da formação, há também limites para a capacidade de resistência de um clube de um campeonato periférico como o nosso: 120 milhões por um jogador que ainda há oito meses tinha uma cláusula de 60 milhões está bem para além desses limites. Aliás, vender jogadores por valores exorbitantes (é mesmo disso que estamos a falar) é coerente com a aposta estratégica na formação. No entanto, com muito dinheiro vem também grandes responsabilidades. E o negóio da venda de João Félix, pelo valor, pelo clube de destino e pela intermediação de Jorge Mendes precisa de todo o escrutínio e atenção dos sócios do Benfica. Um bom princípio é, por exemplo, olhar para o que aconteceu com os nossos adversários depois de se encontrarem em situações como a que hoje vive o Benfica. Se recuarmos década e meia, o FC Porto, pela mão do mesmo empresário, acumulava vendas exorbitantes, juntando ao sucesso desportivo receitas financeiras com poucos paralelos. Hoje, está intervencionado pela UEFA e com dificuldade em financiar o investimento. É disparatado  criticar à partida um negócio  com os contornos do que o Benfica vai fazer com o Atlético de Madrid, esquecendo, por exemplo, que foi também desde que Jorge Mendes passou a ser parceiro estratégico do clube que iniciou uma senda vitoriosa mas é igualmente um erro ter postura acrítica. Há perguntas que têm de ter respostas e, no essencial, temos de estar alerta em relação ao futuro próximo. Desde logo, há que seguir o dinheiro,. O Benfica não só pode como deve continuar a fazer negócios com a intermediação de Jorge Mendes, o que não devia é, por força da receita que vai fazer com  João Félix, adquirir jogadores sem currículo, apenas porque são agenciados pela Gestifute. Se o fizer, fica sugerido que o que entra como receita, logo sai como despesa. Há momentos em que é prudente e avisado seguir a máxima de que não basta ser sério, é preciso parecer. Depois do que se tem passado no último par de anos com o Benfica, este é um desses momentos.

Pedro Adão e Silva, in Record

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