"O que vale é o talento de um jogador, a firmeza de uma SAD e a sagacidade de um agente reconhecida nesta atractiva indústria do futebol
1. Terminei o artigo do passado domingo falando de David Banda, um dos filhos de Madonna. E que leva a Mãe a «não deixar Lisboa». Por jogar no Benfica e aproveitar a excelência da Academia do Seixal. Início o artigo deste domingo falando de João Félix que, em razão da eficiência, eficácia e sagacidade da mesma Academia, vai deixar o Benfica e a troco da efectivação de uma fantástica cláusula de rescisão vai rumar a Madrid e, em concreto, ao Atlético de Madrid. O que lemos é que o Atlético quer o jogador, o seu dinâmico treinador o aceita e, decerto, o deseja, e o clube de Madrid só espera receber alguns milhões de transferências já concretizadas e de outras cláusulas de rescisão já anunciadas para entregar a João Félix a verba contratualizada, ser notificada a nossa CMVM - a Comissão de Mercados - e o Benfica ter, em definitivo, consciência da rescisão unilateral de contrato. Sem prejuízo de sabermos que o jogador já esteve em Madrid, já fez exames médicos e ao que se diz, todo o merchandising do Atlético estar pronto para, mal ocorra a apresentação, começar a facturar, e acredita que bastante bem. Sempre são 120 milhões de euros por um talento jovem - e que talento! - e de dezanove anos. Por mim fico contente pelo valor que Benfica arrecada e também pelas contrapartidas financeiras que João Félix irá receber. Também reconheço a capacidade e sedução negociais de Jorge Mendes - e um negócio, qualquer negócio, tem de ser bom para as partes envolvidas! - e acompanhando, aqui, uma efectiva e substancial revolução no plantel que ocorre no Atlético de Madrid e num momento em que os grandes da Europa não ignoram, cá como lá, as mudanças significativas que se vão concretizar nas competições europeias de clubes. Direi, tão só, com a ousadia de ter opinião - e só os homens (ou mulheres) calados é que não erram - que gostaria que o João Félix ficasse mais uma época na Luz e no Seixal e que fosse um elemento importante na reconquista europeia que este concreto Benfica ambiciona e pode (deve) potenciar. Mesmo, renovo a ousadia, que a parcela destinada a Jorge Mendes fosse, naturalmente, diferente. Já que, em razão da visibilidade, daquela sonhada reconquista, o valor de João Félix seria um pouco (bem) superior. Mas recordando Martin Luther King, nestas como em outras matérias, digo que «o que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio do bons»! E, nestes dias, há tantos e tantos gritos. Que vão de inveja (e até ciúme) à extrema desconfiança. Mas o que vale é o talento de um jogador, a firmeza de uma SAD e a sagacidade de um agente que é reconhecido nesta atractiva e sugestiva indústria do futebol. Onde a intermediação é uma realidade. Como em todas as outras actividades, importa não ignorar ou até fingir que se minimiza ou, mesmo, desconhece!
2. Li que a equipa feminina do Stuart (Carvalhais) Hóquei Clube de Massamá, actual vice campeã nacional, não vai participar no próximo Nacional. Conheci o arranque desta experiência rica e única e, nela, a concretização do sonho do Professor João Campelo. Ultrapassou dificuldades e vicissitudes e a escola, com a especificidade da utilização pavilhão, que dá e deu nome ao clube passou a ser uma referência no hóquei feminino português. Agora com a chegada das grandes marcas do desporto nacional às diferentes modalidades, e também no âmbito feminino, estes clubes perdem treinadoras e jogadoras. Agora foi o Sporting fazer uma verdadeira OPA - operação privada de aquisição sobre jogadoras da equipa principal da Stuart e, também, sobre quatro jogadoras sub-17. Como, é justo dizer, o Benfica e o Campo Ourique contrataram respectivamente a Sofia Contreiras e a Adriana Costa. Acredito que este clube vai continuar a formar jogadoras e que o espírito inicial - onde os Pais tiveram um papel importante - se vai continuar a afirmar. Mas este ataque mostra que importa reflectir acerca dos clubes de formação, na necessidade de mecanismos de apoio e suporte e, também, assumo-o de uma reflexão, no topo e nas grandes marcas, acerca desta tirania de títulos que perturba e afecta o tecido associativo português. O que fica, aqui, é o registo de um clube que construiu e se constituiu como uma referência no hóquei de patins feminino em Portugal.
3. Arrancaram ontem na capital da Bielorússia, Minsk, os segundos Jogos Europeus. A primeira edição decorreu, quase ao lado, em Baku há quatro anos. Esta nova competição, para além dos recentes Jogos do Mediterrâneo, continua a seduzir muitos atletas e daí que, apesar das especificidades de algumas modalidades - como o atletismo -, todos os países participantes integram as suas principais referências, como acontece com Portugal. Na canoagem e no futebol de praia, no judo e no ténis de mesa, no tiro, nos trampolins ou na ginástica artística estão os principais nomes da respectiva Federação. Mas importa não ignorar a lucidez do Presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino, que nos avisa, face à criação por algumas modalidades dos Campeonatos Europeus - concorrentes destes Jogos Europeus! - que há, em diferentes realidades internacionais, uma clara tensão que «tem a ver com interesses que, antes de serem desportivos, são comerciais e com os direitos sobre um produto e a forma de o repartir!» Palavras lúcidas e que ajudarão a perceber as razões da natação não ir a Minsk e o voleibol viver uma atractiva Liga das Nações!
4. Na verdade esta nova competição do voleibol - a VNL - é um verdadeiro Campeonato do Mundo. Sucede à denominada Liga Mundial e obriga a viagens intercontinentais e a 15 jogos num mês! Hoje Portugal joga no Irão - em Ardabil - e no fim da semana - entre 28 e 30 de Junho - estará na Alemanha, em Leipzig. E já esteve na Argentina - em Mendonza - no arranque deste mês, seguiu para a Rússia e na semana passada, como vimos e lemos, jogou em Gondomar. É uma competição exigente e cada vitória proporciona nove mil dólares por vitória e quatro mil em caso de derrota. Também nas modalidades o quatro competitivo está a mudar. E a exclusividade - e a unicidade - das competições federativas a ser posta em causa. Como se sente e pressente na natação. Daí que importe acompanhar estas novas realidades como bem adverte o Presidente do Comité Olímpico de Portugal!
5. Vivemos nos últimos dias momentos singulares. Intensos e vibrantes. Não dão audiências, dirão alguns gestores, angustiados, de certas televisões. Mas os momentos de fair play no final da final de futsal - entre Benfica e Sporting - e no final da final de basquetebol entre Benfica e a Oliveirense deveriam ter sido repetidos em alguns programas de desporto que certos canais de informação diariamente produzem e emitem. Grandes momentos e instantes intensos. Como deveriam mostrar - uma e outra vez - a página inteira de publicidade que os Golden Stade Warriors, a equipa vencida na final da NBA, publicou no jornal Toronto Star, um dos jornais de referência da cidade da equipa não americana - os Toronto Raptors - que, pela primeira vez, conquistou uma das competições emblemáticas desta aldeia global desportiva. Recordo, no final destas notas soltas, Winston Churchill: «No desporto, na coragem e à vista do céu, todos os homens se encontraram em termos de igualdade»!
6. Hoje o Estádio Nacional a final do Campeonato de Portugal. Vilafranquense e Casa Pia disputam o troféu mas com a alegria de terem conquistado, em diferentes relvados, o acesso às competições profissionais. Sentido, agora, dificuldades acrescidas. E obrigando a jogarem fora dos respectivos estádios, seja em Rio Maior seja em Mafra! E percebendo todos nós que estes clubes, que tiveram uma vitória desportiva, merecem uma compensação financeira imediata por tal conquista. E esta compensação deve ter um impulso da Liga e da sua nova estrutura directiva. Não pode ser apenas para os que descem da primeira à segunda liga. Deve ser para aqueles dois que sobem da competição federativa à competição profissional. Também aqui «todos os homens se encontram em temos de igualdade»!"
Fernando Seara, in A Bola
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