quinta-feira, 6 de junho de 2019

QUEM DECIDE OS EQUIPAMENTOS?


Costuma dizer-se que "gostos não se discutam". Mas é um erro: afinal, se não discutimos gostos, discutimos exatamente o quê? Pois, uma vez mais, o equipamento alternativo do Benfica para a próxima temporada não se limita ao mau gosto, é mesmo pavoroso. No próximo ano, o Benfica, sempre que não envergar o manto sagrado, no vermelho tradicional, vai regressar ao cinzento (a recordar o "pijama" com que fomos esmagados em Basileia), desta feita pincelado e com laivos de um vermelho rosado. esteticamente, a opção é incompreensível, mas a questão é mais profunda. Hoje em dia, todos os clubes se transformaram em vítimas das opções de marketing, estando muitas vezes capturados por opções de marketing, estando muitas vezes capturados por decisões das marcas que os patrocinam. Claro que há adeptos que irão comprar o novo equipamento, mas a identidade de um clube não pode ser flexível ao ponto de permitir toda a variação cromática. Cada vez mais, a única coisa que perdura num clube é o amor dos adeptos às camisolas, pelo que convém que não se mudem radicalmente as camisolas todos os anos. O equipamento é uma parte estruturante da identidade de um clube e alguém tem de garantir a sua preservação. No caso do Glorioso, a defesa de identidade deveria assentar num princípio simples: equipamento principal vermelho, equipamento alternativo branco. Há possibilidades suficientes de variação dentro dentro destas duas opções (e até a criação de um terceiro equipamento) para satisfazer o marketing e nada justifica a escolha de outras cores. A questão não se circunscreve às opções de gosto duvidoso. O que tem sido feito com os equipamentos viola o que está disposto nos regulamentos do Benfica aprovados em assembleia geral pelos sócios (que deveriam mandar mais que a Adidas). Como, se já não fosse suficiente o "restyling" do emblema, em 1998 - que colocou a águia com as garras no aro da roda de bicicleta, quando deveria estar agarrada na faixa onde se lê a nossa divisa, "E Pluribus Unum", de forma a elevá-la - a opção, de novo, por um emblema monocromático não é regulamentar. E esta violação dos regulamentos está longe de ser uma questão estética. O regulamento não estabelece que "os símbolos do clube, escolhidos para figuração dos seus ideais e da sua mística e já enriquecidos pela tradição e pela História do Sport Lisboa e Benfica não podem ser alterados na sua composição". Ou seja, os regulamentos obrigam à fidelidade aos símbolos e fazem radicar esse dever na própria ideia em que se funda o Glorioso. Proteger essa identidade - em particular face ao expectro de um futebol totalmente corporate - é imperioso. Se, numa matéria simbólica, não são os órgãos sociais a fazê-lo, deixando que a Adidas decida os equipamentos por nós, quem é que nos garante que noutras matérias os interesses do nosso Benfica estão defendidos?

Pedro Adão e Silva

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