"Olhar para os êxitos dos miúdos pode ser uma solução, mas tem custos desportivos que poucos parecem capazes de pagar
O Benfica perdeu de forma justa contra o Zenit, em São Petersburgo. Sem rodeios, nem meias palavras o Benfica não jogou bem, não passa uma boa fase de exibições e reconhecer a realidade é a única forma de a alterar. Procurar num ou noutro erro individual o problema do futebol encarnado é não perceber aquilo que nos acontece nesta fase da época.
No início do jogo, no Dia do Anjo da Guarda, os adeptos russos fizeram subir numa ela coreografia uma enorme tarja que traduzido dizia «Iluminai este grande clube», num apelo ao Anjo da Guarda. Foi uma solução russa com êxito evidente, embora nunca seja demonstrável o nexo de causalidade entre o pedido e o resultado. Ao Benfica, por muitas evocações que façam os seus mais crentes, sugeria o trabalho, o talento, a determinação e a vontade como forma de inverter este momento exibicional.
Já no passado sábado obtivemos uma vitória justa, que devia ter sido bem mais tranquila e com menos sobressaltos. Mesmo com uma arbitragem irritante, que intranquiliza qualquer um, o Benfica podia ter feito mais frente ao modesto Vitória de Setúbal.
Esta fase é menos boa e vem em bom tempo esta paragem de vinte dias. Bruno Lage já o reconheceu e será nele que os benfiquistas depositam a confiança para melhorar rumo aos objectivos que continuam todos ao alcance.
Cova da Piedade é o passo que se segue. Ditada assim a sorte na Taça de Portugal segue-se a última hipótese de haver alguma Europa no nosso horizonte frente ao Lyon.
Uma reflexão global sobre o futebol português de clubes, que vá para além das rivalidades e piadas de café, mostra um panorama bem mais longe da glória. O Benfica perdeu com uma equipa de segunda linha europeia, o FC Porto foi derrotado por uma de terceira, o Sporting quase não ganhava a uma de quarta linha e as duas presenças minhotas também não melhoram o panorama nacional.
Melhoramos todos nas piadas sobre os outros, mas estamos cada vez mais longe de fazer alguma coisa. Portugal está mais pobre e o nosso futebol também. Portugal está mais periférico e o nosso futebol também.
Olhar para os êxitos dos miúdos pode ser uma solução, mas tem custos desportivos que poucos parecem capazes de pagar. Acredito que se encontre esse equilíbrio no Benfica e se rume às vitórias de imediato."
Sílvio Cervan, in A Bola
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