"Vamos supor que não sei onde fica Alcochete. O mínimo é que o leitor me chame uma besta de 145 patas porque toda a gente sabe onde fica Alcochete. Tem toda a razão. Que cidadão português com o mínimo de noção de geografia não sabe onde fica Alcochete?
Só mesmo quem chumbou no jardim-escola. Por acaso passei em Alcochete alguns dos dias mais felizes da minha vida, em 2004. Não por acaso, houve algumas infelizes vítimas da violência mais bacoca e mais infame que passaram lá algumas das horas mais assustadoras e macabras das suas vidas.
Agora vamos supor que preciso de falar com um árbitro que vai dirigir um jogo importantíssimo do clube do qual sou presidente 48 horas antes de esse jogo começar e necessito de ter uma conversa com ele sobre as amantes do pai, que estão a pôr em causa a fidelíssima relação que tem com a senhora sua mãe.
Penso para com os meus botões: deixa-me convidar o mamífero para vir cá a casa tomar um cordial e cordialmente darmos à taramela sobre os desvios lúbricos do seu progenitor. De repente deparo-me com uma questão praticamente irresolúvel. Supostamente, vivo em Alcochete e não faço a mínima ideia onde diacho fica Alcochete. Problema do quilé, diria o meu velho mestre Assis Pacheco.
Estou completamente encalacrado enquanto tento explicar ao senhor árbitro, raladíssimo com a divergência paternal, a forma mais simples de aparecer no meu chalé. Que ideia a minha ter resolvido vir parar com os costados a Alcochete, esse lugar que nem figura no mapa da nação! Dou voltas ao bestunto.
Do alto desta inteligência vetusta, carregada de uma ironia a que só alguns iluminados têm acesso, grito “eureka!”, como Arquimedes na banheira. Faço de conta que Alcochete fica na Madalena, sítio abençoado, tão fácil de encontrar. “É sempre em frente! Sempre em frente, sr. árbitro!” À sorrelfa, a Judiciária escuta tudo. Mas talvez também não saiba onde fica Alcochete..."
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