sexta-feira, 4 de setembro de 2020

MAIS QUE FUTEBOL



 "Há mais numa bola que o poder do chuto e o certeiro do remate. Esse estranho objecto que parece, e é, de brincadeira tem o poder de nos elevar enquanto gente. E de que maneira... É a brincar que os primatas aprendem. E nós, somos primatas. Sabe quem estuda estas coisas do comportamento animal, os etólogos, que a interacção entre os seus pares invariavelmente pela comunicação, e a comunicação faz-se por sinais, sendo o sinal de play um dos mais importantes na aprendizagem e socialização entre os primatas. Esta interacção lúdica entre indivíduos duma mesma espécie, como os humanos, pode expressar-se pelo duplo sentido da tradução daquele termo inglês para 'brincar' e 'jogar'. Em ambos os casos, está envolvida uma abstracção importante, a representação de um ou mais papéis sociais, criando empatia em que cada um experimenta a pele do outro, ensaia novos voos, desafia vontades e testa limites em permanente interacção individual e grupal.

O recurso a elementos naturais e mesmo artefactos para a brincadeira ou jogo é conhecido na natureza e frequente nas sociedades humanas, desde as mais remotas e primitivas às mais actuais e evoluídas. Por isso, no devir da História, assistimos a um forte paralelismo entre a evolução tecnológica e o jogo, sendo raros os objectos que atravessam aos anos aos milhares, resistindo à complexificação e tornando-se companheiros da Humanidade na sua caminhada imemorial. De entre todos, destaca-se um, esférico, perfeito, simples, intemporal e universal. A Bola! Esta será, talvez, uma das principais razões por que o desporto com bola, em particular o futebol, assume tal centralidade na vida humana que possui, como poucas coisas mais, a capacidade de arrastar multidões, de juntar diferentes e de afirmar pertenças. E claro, o futebol tem todos os condimentos para isso, tem os seus símbolos, heróis e memórias colectivas à mistura com memórias individuais e momentos marcantes que interceptam as histórias de vida e familiares de milhões e milhões de pessoas. Os Clubes materializam-no junto das comunidades, trazem a pertença à porta de cada um e encrustam o Futebol nas realidades quotidianas e nos momentos de celebração e superação, a todos agregando no sucesso. Quanto maiores, mais vitoriosos e vibrantes melhor e o nosso Benfica está aí mesmo, nesse lugar cimeiro. Por isso, junto com outros grandes do futebol europeu, abraça de corpo e coração, com verdade na alma e consequência na acção, esta máxima que, para nós, é mística: 'Mais que Futebol'."

Jorge Miranda, in O Benfica

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