"Na homenagem a Álvaro Gaspar e Francisco Stromp reinou a boa disposição entre antigas glórias do futebol português
O público acorreu numeroso ao Campo das Amoreiras, a 1 de Maio de 1936. A causa era nobre, pois as receitas revertiam para a construção dos mausoléus de Álvaro Gaspar (Benfica) e de Francisco Stromp (Sporting). O ambiente era de camaradagem e de solidariedade desportiva, mas também de saudade.
A atracção principal do programa era um desafio entre a 'Selecção de Portugal (1921)' - composta pelos elementos do 'grupo representativo de Portugal, que em 17 de Dezembro de 1921 disputou em Madrid o I Portugal - Espanha, jogo que serviu para o nosso baptismo internacional' - e o 'Resto', formado por jogadores da mesma época. Cosme Damião seria o árbitro, António Couto e Dionísio Hipólito os juízes de linha.
No momento em que entraram no rectângulo de jogo, os ases de outros tempos foram ovacionados e alinharam-se de frente para as bancadas. Os antigos internacionais estavam equipados com as cores da selecção nacional de então, 'camisola preta e calção branco', enquanto os seus opositores envergaram as cores do Benfica.
Do camarote central, o presidente do Comité Olímpico Português, José Pontes, pronunciou, emocionado, um discurso de forma inusitada, mas notável. O 'seu discurso era para ser transmitido pelos auto-falants do «camion» da Companhia dos Telefones, mas a corrente eléctrica não servia. Pôs-se de parte a ideia. O infatigável orador encontrou a solução, - heróica: «Falarei ao público do camarote; com silêncio absoluto a minha voz dominará o campo»'. E assim fez, até a voz ficar rouca. A seguir, a assistência fez um 'respeitoso e comovente silêncio', em homenagem a Álvaro Gaspar e Francisco Stromp.
Guilherme Pinto Basto deu o pontapé de saída, deixando-se ficar estático por uns momentos, como quem desejava também participar na partida. Apesar da passagem do tempo ter deixado as suas marcas nos jogadores, pois o aspecto geral de 'barrigudos... Quási todos os componentes apresentam anfractuosidade no ventre... Por cima disto, uma calva luzida...', pôde-se verificar que 'muitos dos «velhos» ainda seriam capazes de botar figura em confronto com alguns novos se os não atraiçoasse o fôlego'.
A 'multidão dispensa-lhes palmas - hoje de simpatia e amizade - antigamente de grande fervor clubista. «Penalty» contra os «internacionais», por infracção de Pinho. Cobra-o Jaime Gonçalves, o «terror dos guarda-rêdes», e bate Carlos Guimarães. A pontaria ainda não falhou...'. Vítor Gonçalves empatou o desafio, ao converter, também, um penálti. A equipa do 'Resto' voltou a ficar em vantagem, com um golo de Simões, mas Crespo, com um golpe de cabeça, obteve pela segunda vez o empate, fechando o marcador. Cosme Damião 'dirigiu admiravelmente' este 'original «match»' que decorreu sempre num ambiente de confortante e sadia alegria'.
Pode ver a camisola da selecção nacional de 1921 na área 15 -No Caminho do Tempo do Museu Benfica - Cosme Damião'."
Lídia Jorge, in O Benfica
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