"“Algarve, Europe’s most famous secret” é uma das frases publicitárias mais bem conseguidas da região que habito e pode-se aplicar aqui também. Penso que, por já ter falado nisto tantas vezes, a minha inabilidade para a prática do futebol já é um segredo bem famoso entre quem me lê. Juntando a essa falta de talento, um físico atarracado e a posição que ocupava em campo, é possível que eu não só tenha sido o guarda redes mais pequeno dos campeonatos distritais no escalão de juvenil a nível nacional, como também o pior dos guarda redes baixinhos. E isto não é um acto de auto comiseração para fins humorísticos. Quem viu sabe que é verdade. Tinha aliás um colega de turma e de equipa que várias vezes me dizia “a minha mãe queixa-se que lá de fora, não te consegue ver na baliza”, que tanto podia querer dizer “és muito pequeno e ao longe és imperceptível”, como podia significar “tudo o que vai à baliza é golo, parece que não está lá ninguém”.
terça-feira, 3 de novembro de 2020
AZIA!
Apesar dos defeitos evidentes, por falta de alternativas, no primeiro ano de juvenil ainda fiz muitos jogos e claro, sofri muitos golos, ressalvando aqui que fui suplente num fabuloso empate 6-6 em Monchique, em que o nosso treinador adjunto foi fiscal de linha ou bandeirinha (atenção ao PS1 no fundo do texto), porque os árbitros assistentes ainda não tinham sido inventados. Das peladinhas que joguei, a que melhor recordo foi uma derrota em casa por 0-4 contra o Alvor e ficou-me na memória pelas piores razões: foi um poker de frangalhadas, incluindo um canto directo ao primeiro poste. Lembro-me bem, também porque no final do jogo chorei no balneário e enquanto os colegas me olhavam com cara complacente de “chora aí palhaço, perdemos por tua causa”, o treinador disse algo que não mais esqueci “é bom sinal estar a chorar. Quer dizer que se preocupa com isto”.
A azia incontrolável é o choro do adepto adulto. É aquele sinal de que preocupa com o Clube. Tem a vantagem em relação à lágrima, de ser mais expansiva e libertadora. Enquanto barafustamos com presidente, treinador e jogadores soltamos a tempestade da frustração que temos cá dentro. A azia é bem melhor do que o choro. Sei disto porque já chorei 1,5 vezes pelo SLBenfica. Na primeira vez ainda era miúdo e foi nos penaltis de Estugarda. Na meia vez foi no golo do Kelvin. Na primeira vez ninguém me segurou. Na meia vez pude contar com o “então pah, estás parvo” da minha esposa para me poupar à humilhação. É que uma coisa é abrir as comportas por um Van Breukelen (atenção ao PS2 no fundo do texto), outra é não aguentar a corrente por um Kelvin.
Para que conste definitivamente: a derrota de ontem doeu muito (venham de lá essas piadas com o "doeu" porque o sentimento é mesmo esse). Como já não doía há uns bons meses deste ano atípico. Confesso que a azia que sinto desde ontem é reconfortante. Assim sei que ainda me preocupo com o SL Benfica como um Benfiquista se deve preocupar. Isto também acontece porque o grau de exigência este ano aumentou bastante. Entenda-se que uma coisa é levar 3 no Bessa com Miguelitos e Manús no 11 titular e o Fernando Santos no banco. Outra bem diferente é enfardar 3 secos com 100 milhões a saírem da conta em campo e 6 milhões a voarem todos os anos no banco. A conversa do “são 11 contra 11” não funciona este ano, porque nunca funciona quando levamos 4 e 5 batatas nas competições europeias de equipas que gastam mais 80 ou 90 milhões do que nós em reforços. Convenhamos, que não me recordo de enfaixarmos 3 bolachas numa dessas equipas, com a limpeza que levamos ontem. Aziar, barafustar e ficar fodido com o resultado de ontem, não é ser “dragarto”, “noronhista” ou “desunir a Nação”. Quem está como eu estou desde o segundo golo boavisteiro, é Benfiquista. Agravada por 3ª e 4ª feira serem dias de Liga dos Campeões e nós só jogarmos 5ª feira.
PS1 - a frase que se dizia nos anos 80/90 “o Bandeirinha é do FC Porto”, só raramente se referia ao jogador homónimo que fazia parte do plantel deles.
PS2 - num Natal ou aniversário, os meus pais ofereceram-me umas luvas “de marca” (talvez Uhlsport, talvez Reusch, por aí). A parte de trás da embalagem era um cartão com fotos “tipo Panini” de guarda redes que usavam essa marca de luvas. Entre os míticos Preud’homme (à Bélgica), Bento, Shilton, Dassaev ou Zoff, estava Van Breukelen. Guardei religiosamente essa folha de cartão, mas antes recortei a figura do holandês e deitei-a fora. Devia-a ter dado a uma feiticeira haitiana."
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