terça-feira, 9 de março de 2021

LINHA DE ESFEROVITE



 "Depois de uma 1.ª parte que revelou uma apatia impressionante, o Benfica conseguiu descobrir o ouro na etapa complementar. Com mais 45 minutos em cima que só revelaram aquela falta de ritmo habitual, as águias haveriam de aproveitar a tímida tentativa do Belenenses em tentar tirar mais de um jogo que, até então, não mostrava grande ameaça por parte dos de Jorge Jesus. Aliás, quem tivesse de apontar algo sobre a parte inicial deste jogo ficaria grato por estar a salvar a floresta – visto que pouco papel teve de gastar para escrever em relação à tal nova mostra de apatia, de falta de ritmo dominador com e sem bola de uma equipa da qual muitos esperavam que ganhasse a Liga. Uma chegada à área de Pizzi (num excelente movimento para desequilibrar uma linha defensiva de cinco baixa no terreno) e uma cabeçada que saiu torta de Seferovic, não pareciam indicar que na 2.ª metade o Benfica iria recuperar um capítulo que muito lhe tem faltado esta época.



Grimaldo a conduzir para dentro, com Everton e Seferovic a tentarem atrair fora, Pizzi chega à área na movimentação mais interessante do Benfica na 1.ª parte – também aquela que gerou a melhor ocasião nos primeiros 45′.

Fazendo flashback até àqueles Benficas que, não há muito tempo, fizeram sair os adeptos em direção ao Marquês, encontramos vários pontos em comum. E se um deles é o tal ritmo que agora parece faltar, outro deles é o golo fácil mesmo em momentos em que a equipa não aparece tão bem no jogo. Foram fornadas e fornadas de avançados que, nesta década, foram mantendo o registo ajudando o Benfica a estar sempre nas contas mais importantes da classificação final. Assim de repente, lembramo-nos de Cardozo, de Lima, de Rodrigo, de Jonas, de Mitroglou, de Jiménez (que era impressionante a sair do banco para resolver) e até de João Félix (que nos seis meses como sénior revelou-se importantíssimo também a concretizar). Em oposição directa aos craques mencionados acima teremos de mencionar, e não esconder, que as alternativas que chegaram quando estes foram saíndo não cumpriram. Ferreyra, Castillo, RdT e, até agora, Darwin Nuñez estão a anos-luz daquele golo fácil que dava a tranquilidade à equipa de saber que as vitórias não fugiam mesmo que as exibições não estivessem a ser conseguidas. Algo que, por ironia, acontece agora com… o Sporting explicando em parte a diferença de rendimento dos leões desta para essas épocas.



Com o espaço à frente da linha defensiva a descoberto, a melhor ocasião do Belenenses surge num 2×2 entre avançados azuis e centrais encarnados. Lucão vai com um e abre espaço para um confronto que só por falta de finalização não saiu caro a Otamendi

E no meio de todos estes eficazes, e ineficazes, avançados, encontramos um que anda num limbo. Já esteve no céu e já desceu ao inferno, sendo um misto deste yin-yang de finalizadores. Não muito completo a combinar e com um grau de acerto na finalização a fazer lembrar as ondas de uma montanha-russa, Seferovic destacou-se por ganhar habilmente o espaço nas costas das defesas adversárias. Alturas houve em que bola na profundidade era sempre ganha pelo suíço, num registo que foi baixando paralelamente à quebra acentuada na finalização, até ficarmos só com um avançado que não toma as melhores decisões na maior parte das vezes, que não vai no um-para-um, que não combina e que acerta quase sempre fora. Algo que até seria perdoável se, como nesta noite, Seferovic voltasse a mostrar o seu (talvez único) superskill, o de ganhar a profundidade.

O momento em que o cruzamento sai mostra já a posição felina de Seferovic para atacar o espaço – algo que será sempre difícil para um defesa acompanhar. A redução desse espaço, a ser feita neste exacto momento, dificultou imenso a vida de Tomás Ribeiro & cia

Algo que foi importantíssimo para um Benfica que revela algo de preocupante. Numa Liga onde as equipas não se destacam pelo ritmo que impõem nas partidas, outra das coisas que fazia destacar esses Benfica dos quais falámos acima era, isso mesmo, o ritmo avassalador que impunham. Tanto que seria normal que na Luz, por exemplo, a maioria das partidas para a Liga chegassem à meia-hora com um resultado já descansado para Jorge Jesus, Rui Vitória ou Bruno Lage. Noutro exemplo, lembrem-se de uma deslocação a Paços, a Moreira de Cónegos ou a Barcelos. Puxem pela memória até encontrarem uma primeira-parte morna, sem fibra de campeão. Vejam a equipa a regressar do balneário e a atacar na direção de uma bancada (na maioria das vezes amovível) pintada de vermelho. E meçam o ritmo com o que se vê hoje! Meçam a pata em cima do jogo que o Benfica metia e comparem com uma equipa que, na maioria dos seus jogos, não tem mais ritmo que equipas que formam uma Liga que nunca se destacou por isso. Preocupante?

Seferovic a ler novamente o lance primeiro que a linha defensiva. Parte detrás e chega primeiro a um espaço que estando tanto tempo desprotegido é presa fácil para o suíço. Note-se que o passe ainda não tinha saído e já Sef mostra embalo superior aos demais. Algo que, novamente, a ser feito nesta altura garante vantagem ao avançado.

Talvez nesta noite de segunda-feira até não o tenha sido [preocupante] porque o Benfica achou o ouro na profundidade. O Belenenses subiu a sua linha, quis mais de um jogo em que o Benfica pareceu estar à mercê, e acabou por pagar o preço ao deixar desprotegidas as costas da linha defensiva. E aí emergiu Seferovic. Na primeira com a bola a ir de Everton para Grimaldo e com Seferovic a acompanhar o movimento do espanhol e a ser mais lesto que o adversário. E algo que poderia ser um pormenor pontual revelou mesmo não sê-lo quando Diogo Gonçalves descobriu, de novo, o suíço três minutos depois. E com os dois golos de vantagem a equipa soltou-se, combinou melhor, e até aumentou o ritmo. Facto determinante na combinação que deu o terceiro da noite (primeiro de Lucão Veríssimo com a camisola das águias) novamente a revelar o espaço fundamental para uma vitória gorda que faz passar o aspecto preocupante para segundo plano. Mas que ele está lá, está, bem à vista. Tanto que até se mostra bem corrigível. Daí não ser um elefante na sala até porque, sabe-se, já foi mencionado também pelo líder da equipa. E mesmo que não o fizesse, a diferença de ritmo da 1.ª parte com o Rio Ave para a 2.ª mostra bem que há preocupação com isso. O porquê do padrão constante ser mais letargia que ritmo agressivo e dominante também já teve resposta oficial. Resta então esperar pela vacina.

Benfica demonstrou ter a lição bem estudada em relação à profundidade, espaço que o Belenenses revelou maior apatia a proteger do que o Benfica a atacar."

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