"Inquietante, no mínimo, o alerta deixado pelo vice-presidente do Benfica e administrador da SAD de futebol do clube, Luís Mendes, acerca das previsões de aumento de receita dos clubes com a centralização dos direitos televisivos. "Apresentam-nos 300 milhões de euros para dividir e eu não percebo como é que lá chegam", afirmou.
Todas as questões levantadas anteriormente acerca da medida tornaram-se irrelevantes desde a imposição governamental de se proceder à centralização dos direitos. Por exemplo, no estudo encomendado pela Liga, é afirmado que a "centralização do processo de comercialização dos direitos audiovisuais foi um fator crítico de sucesso para que as principais ligas europeias de futebol atingissem níveis competitivos elevados e conseguissem cavar o fosso para as restantes", escamoteando-se que as restantes ligas, à exceção da portuguesa, também centralizam os direitos e, além da neerlandesa, agora, todas se situam abaixo da portuguesa no ranking europeu. O tema está ultrapassado.
O que importa no presente é discutir a estruturação da oferta e a distribuição das receitas. No fundo, tratar do telhado, já que a construção da casa (a qualidade do produto) corre a conta-gotas. Estima-se, no tal estudo, 275 a 325 milhões de euros de receitas por ano, bem acima dos atuais 180 milhões. Muito apelativo, sem dúvida, mas julgo que excessivamente otimista, talvez reflexo da minha má vontade. Só que, desta feita, é um responsável do maior clube português, mais conhecedor e informado sobre o tema, que, enquanto assume a concordância com a redistribuição e a subsequente diminuição do gap para os clubes que menos recebem, torna pública a mesma perceção.
Espero que não estejamos perante um daqueles casos, comuns em consultoria, em que, sendo um dos principais propósitos de um estudo municiar o cliente de uma ferramenta para influenciar a decisão de outrem, se analise, proponha e defenda um caminho em função do que o cliente entende ser a melhor solução."
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