"Águias têm seis Centro de Formação e Treino fora de Lisboa; João Neves e António Silva são produtos de um projeto iniciado em 2008
De Lisboa a Aveiro, de Braga a Faro, de Viseu a Vila Real, e, desde esta época, a Leiria, são mais de 400 os jogadores da iniciação do Benfica, identificados e recrutados para iniciar um caminho que, só em poucos casos, acaba na equipa principal. O projeto, pensado e executado pelo clube a partir de 2008, e com forte envolvimento de Rodrigo Magalhães, coordenador técnico da iniciação, está consolidado e continua em expansão.
«Nós, muitas vezes, temos de procurar o talento por onde ele anda. Não estando centralizado em Lisboa, tem vários locais de nascimento. E a prova disso é que, historicamente, temos jogadores oriundos de diversos pontos do país.»
António Silva e João Neves são, neste momento, os produtos mais distintos, por jogarem na equipa principal e terem chegado à Seleção Nacional, de uma abordagem ao início da competição «inovadora e impulsionadora do futebol até a nível nacional», por ter beneficiado «não só o Benfica como outros clubes e outras associações de futebol e, mais tarde as seleções nacionais jovens», dispara Rodrigo Magalhães. Está a falar de um projeto que lhe é visivelmente especial, o dos Centros de Formação e Treino (CFT), que permite aos encarnados, para lá da deteção e desenvolvimento local, oferecer aos jogadores recrutados, perto da casa deles, a metodologia do clube.
Quando chegou ao Benfica, em 2005, era «prática corrente», assinala Rodrigo Magalhães, um jogador de Aveiro, Braga ou Faro «deslocar-se uma ou duas vezes para treinar-se em Lisboa e ter uma atividade ou um jogo de campeonato ao fim de semana». Havia, naturalmente, um investimento financeiro «bastante grande» dos encarregados de educação e, acima de tudo, «um desgaste que mais tarde se refletia na atividade académica dos jovens praticantes e no pouco descanso que tinham». «Temos relatos de jogadores que faziam as refeições e estudavam durante as viagens», recorda.
Inversão do processo
Essas circunstâncias levaram a uma reflexão e, posteriormente, à conclusão de que a abordagem teria de ser diferente, ou seja, que teria de haver «uma inversão do processo» — ultrapassar as fronteiras de Lisboa e chegar a todo o país. Para tal, foi necessário, em vários Distritos, encontrar condições, através de protocolos com as Casas do Benfica (permitiu a inscrição das equipas nas associações distritais e a utilização da camisola oficial do clube) e com parceiros estratégicos locais. «Isso permitiu-nos ter infraestruturas para podermos treinar e jogar, com treinadores selecionados por nós e com capacidade para implementar a metodologia do Benfica. E dentro do habitat natural onde os jogadores se desenvolvem», acrescenta Rodrigo Magalhães. «O talento não está apenas nos grandes centros urbanos. O mundo não anda para trás, não vamos desconstruir prédios, deitar abaixo a selva de betão, não vão crescer árvores, as atividades motrizes da nossa infância estão em vias de extinção, até pelo quotidiano bastante preenchido dos encarregados de educação e dos jovens praticantes», alerta Rodrigo Magalhães, para justificar a expansão dos encarnados pelo país: «Nós, muitas vezes, temos de procurar o talento por onde ele anda. Não estando centralizado em Lisboa, tem vários locais de nascimento. E a prova disso é que, historicamente, temos jogadores oriundos de diversos pontos do país. Então, desenvolvemos os nossos CFT, com implementação, numa primeira fase, em quatro distritos: Braga, Aveiro, Viseu e Faro. E tudo foi evoluindo. Começámos com uma equipa em cada CFT, atualmente temos seis em diferentes zonas geográficas: Braga, Aveiro, Viseu, Faro, abrimos em Vila Real e o mais recente, com início nesta época desportiva, em Leiria. Temos quatro equipas em Aveiro, quatro em Faro, quatro em Braga, duas em Viseu, duas em Vila Real e duas em Leiria. Temos cerca de 220 jogadores em 18 equipas.»
Recuos e avanços
A transição para o Benfica Campus faz-se aos 13 anos, «numa idade em que os jogadores começam a conseguir suportar a ausência dos pais». Nem sempre, porém, é tudo tão simples como as palavras. Ferro, por exemplo, foi um dos primeiros a chegar ao Seixal dos CFT, no caso dele de Aveiro. E teve de voltar a casa. O mesmo aconteceu, por exemplo, com António Silva. «Ferro e António Silva foram para o Seixal e, por um ou outro motivo, a adaptação não estava a ser a desejável, muito provavelmente, pelos dados que tínhamos, eram jogadores com um desenvolvimento maturacional mais lento. Acabaram por ser acompanhados à distância, Ferro no Tabueira, o António no Viseu United. Regressaram mais tarde ao Benfica e chegaram à equipa A», revela Rodrigo Magalhães.
Diogo Gonçalves, Gonçalo Ramos ou João Neves são outros que chegaram à equipa principal depois de começar nos CFT. E depois a prospeção A essência do projeto dos CFT «é permitir a jogadores que estão distantes da zona da grande Lisboa usufruam da metodologia do Benfica». Não podia, naturalmente, esgotar-se nisso. Para o sucesso «contribuiu, de forma determinante, o departamento de prospeção». Ajuda a «recrutar os melhores jogadores nos distritos de implementação e nos distritos adjacentes». «É o departamento nuclear para o sucesso do futebol de formação do clube» «Isso permite-nos ter uma cobertura nacional. É um modelo mais favorável ao encarregado de educação, permite ter o seu educando todos os dias em casa, junto da família, dos colegas, em tenra idade, contribuindo para o desenvolvimento desportivo, académico e social e, como sabemos, a construção do caráter e personalidade advém do meio social e da educação. Daí a importância de mantermos esse modus operandi até aos 12 anos», rematou.
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«Paciência é uma das palavras mais importantes»
Pedro Mil-Homens, diretor geral da formação, faz questão de sublinhar que o projeto dos CFT foi iniciado em 2008 e, como tal, «foi preciso esperar muitos anos para ter jogadores do CFT na equipa principal. Ferro, defesa-central agora no Hajduk Split, foi o primeiro, estreou-se em 2019. «Paciência é uma das palavras mais importantes no futebol de formação. Tem aqui o reflexo. Está provado que é preciso paciência. Qualquer investimento que tenha sido feito nos CFT, com estes jogadores mencionados [Gonçalo Ramos, António Silva, João Neves, Ferro], está completamente pago. Podemos fazer mais, mas é preciso ter paciência. Não se pode abrir em 2008 e colher frutos em 2010, 2011 e 2012. O ciclo de formação é de 10 anos. E tem de haver recrutamento aos sete. Dos sete aos 17 muita coisa pode acontecer, não sabemos se vai dar ou não jogador, pode haver um pai com expectativas exageradas, o miúdo pode ter uma companhia menos positiva ou uma namorada que o desencaminhou. E isto só são fatores externos. Não podemos ter certezas. Antes de se completar 10 anos, não se pode dizer se um projeto está a correr bem ou mal», argumentou."
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