"Depois de ganhar a Bola de Ouro, em 2019, Megan Rapinoe aproveitou os holofotes para lançar o desafio aos jogadores masculinos: que usassem o palco mediático e todas as plataformas de que dispõem para defenderem e promoverem a igualdade. E chamou-os pelos nomes: «Cristiano, Messi, Zlatan [Ibrahimovic], ajudem-me!». A norte-americana, consagrada então como a melhor jogadora do mundo, queria que as vozes dos homens se juntassem à sua, contra o sexismo no desporto, a homofobia, o racismo.
Até hoje, o que conseguiu? Rubiales beijou Hermoso sem consentimento e só Isco e Borja Iglesias apoiaram de imediato a jogadora espanhola. Josh Cavallo, Jake Daniels e Jakub Jankto assumiram a sua homossexualidade: um australiano, outro numa segunda divisão, o último com uma carreira despercebida na Europa. Atos de valentia individuais, sem repercussão ou apoio da tão poderosa máquina desportiva, que, citando Valdano, acabam por envergonhar o futebol masculino por ainda estar nesta fase. E Vinícius Jr., recém-vencedor do Prémio Sócrates, não se cala perante os insultos racistas que ouve, levando a que finalmente estes comecem a ter consequências.
Rapinoe explicou uma vez porque considerava que o futebol feminino estava muito à frente nestas questões: as mulheres que jogam futebol sentem mais a desigualdade, no salário, nas condições, no machismo, e daí protestarem mais contra isso. Os melhores futebolistas do mundo podiam fazer mais do que tirar fotografias com as colegas de seleção ou vencedoras da Bola de Ouro e entrar em campanhas genéricas? Sim, mas mais do que isso ainda parece perigoso para um jogador (que o digam os que andam a ter problemas nos clubes por apoiarem a Palestina). Porquê? Curiosamente, Megan deu parte da resposta em 2019: «Têm medo de perder tudo? Eles acreditam nisso, mas não é verdade. Quem iria apagar Messi e Ronaldo da história do futebol mundial por uma declaração contra o racismo ou o sexismo?». Da história do futebol nunca, mas pelos vistos os melhores de sempre ainda valem mais (dinheiro, patrocínios, seguidores nas redes sociais...) em silêncio."
Quando se fala de salários, as mulheres futebolistas quererem o mesmo salário que os homens seria o mesmo que os jogadores da liga do Burundi quererem o mesmo salário que os da Premier league. O problema não é o sexo, é a visibilidade da competição. O que o Ronaldo e o Messi podiam fazer, e que seria de valor, era estarem presentes nalguns jogos de futebol feminino. Falarem contra o sexismo apenas faria a maior parte das pessoas revirarem os olhos.
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