"Aqui há semanas debatia-se um pouco por todo o país a "crise do Benfica". O clube tinha zero pontos na Liga dos Campeões, empatava com Casa Pia e Farense na Luz e já se faziam contas à rescisão de contrato do treinador Roger Schmidt. Como as coisas mudam, não é?
A verdade é que já com o Farense na Luz se tinha visto uma melhoria em campo (que não se traduziu no resultado) e aquele golo do Arthur Cabral ao Salzburgo no último minuto parece ter sido o momento que soltou o génio da lamparina. Ou o efeito ketchup de que falava Cristiano Ronaldo. Desde esse momento, que garantiu in extremis a continuação do Benfica além-fronteiras, a equipa elevou a sua dimensão e atingiu um nível de consistência que até então não tinha demonstrado. Basta reparar nos onzes de Schmidt: acabaram-se as alterações em todos os jogos, como quem atira com o barro à parede a ver o que cola, para percebermos que acertou o passo e já está na lógica do ano passado: só muda quando é obrigado.
Trubin cresceu imenso e já todos percebemos o imenso talento que ali está. Aursnes é aquele aluno super aplicado, que estuda imenso e começo a ficar convencido que se o pusessem a avançado passado uns jogos também começava a marcar golos. Kokcü também vai crescendo e João Neves é um craque. Agora até Arthur Cabral começa a dar um ar da sua graça, ao mesmo tempo que chegou novo avançado à Luz por 18 milhões de euros.
A equipa ainda tem algumas fragilidades (as laterais defensivas pedem também reforços de janeiro) e não é ainda certo que o Benfica tenha um goleador, como por exemplo o Sporting tem. Ao mesmo tempo que o Porto vem demonstrando fragilidades não habituais e o Braga fragilidades já habituais, começa a dar ideia deste campeonato ir ser uma luta entre Benfica e Sporting, tal como foi em 2015/16. Quase que diria que uma luta entre Benfica e Gyokeres, mas isso seria redutor para o bom trabalho de Rúben Amorim no lado "errado" da Segunda Circular. A confirmar-se essa luta a dois cavalos (o que é uma suposição, até porque o Porto é sempre um animal competitivo e o Braga tem uma equipa muito forte) a função do Benfica é a de não deixar o Sporting distanciar-se. Manter a pressão em cima e acreditar que naquela fase do "squeaky bum time", como dizia o Alex Ferguson, o clube da águia tem muito mais estofo para aguentar esse tremendo peso psicológico que é a luta nas jornadas finais. Temos que colocar os sportinguistas (adeptos e jogadores) a dormirem e a acordarem num Benfica sempre em cima deles na tabela classificativa. E quem sabe o título decide-se em Alvalade, como em 2016 quando Mitroglou e Bryan Ruiz foram os heróis da noite Benfiquista.
Entretanto o clube segue vivo na Europa e deve acreditar na Liga Europa. Tal como deve acreditar na Taça da Liga, de que será capaz de eliminar o Estoril nas 1/2 finais e Sporting ou Braga na final e também deve acreditar na Taça de Portugal. Está a 4 jogos de levantar um troféu que só venceu por 3 vezes nos últimos 26 anos! E recordar que já venceu a Supertaça Cândido de Oliveira. É muita fruta? Tem que ser esta a vida de um gigante como o Benfica. Almejar sempre às estrelas mais distantes, mesmo que no final da época acabe "só" no sol.
Termino a crónica com uma nota positiva e uma negativa: a positiva é a continuação das excelentes assistências na Luz, demonstrando que vivemos numa fase duradoura e maturada de público no maior estádio do país. Num país com estádios vazios, este é um fenómeno notável. A negativa é a notícia de que Sven Göran Eriksson tem um cancro e está a lutar pela vida. O sueco é um dos maiores treinadores da História do clube, tendo levado o Glorioso a duas finais europeias e conquistado 3 Campeonatos, 1 Taça de Portugal e 1 Supertaça. Além disso, mudou os processos de treino e mentalidades do "Tugão" nos anos 80, mantendo-se sempre um gentleman no meio de um futebol troglodita e retrógrado. O clube deve procurar homenageá-lo e em vida."
Sem comentários:
Enviar um comentário