quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

CALIMERO NÃO PASSA DE MODA



 "A primeira vez que o pequeno e infeliz pintainho negro apareceu na televisão portuguesa foi nos anos 1970. A série de desenhos animados estreou na RTP há quase 50 anos, uma década depois de ter surgido em Itália como conteúdo publicitário de um detergente que propunha tirar toda a sujidade ao pequeno pinto. Criada em 1963 por Nino Pagot, Toni Pagot e Ignazio Colnaghi, em cooperação com animadores japoneses, a história do pintainho teve tal sucesso, que gerou várias temporadas. Fosse com os diálogos em italiano, em inglês ou português, todos se renderam a Calimero, que encontrava sempre nos outros uma desculpa para a sua infelicidade.

Estamos em 2024 e, todas as semanas, continuamos a ouvir falar de pequenos Calimeros, infelizes da vida com tudo, encontrando culpados em cada esquina do futebol português. Seja por jogos adiados por greves policiais, seja pelo silêncio continuado acerca de perdões bancários e de arbitragem em seu favor, os Calimeros continuam a forjar um infelicidade que já não engana ninguém.
Ao contrário da personagem animada que se tornou ícone cultural, há pouco de inocência nos atuais pintainhos. O original não fingia, fazia parte da sua natureza. Os atuais movem influências nos meios de comunicação e invadem as redes sociais em busca de aceitação, de passar uma mensagem que os favoreça, afirmando-se 'diferentes'. De facto, são, na forma como são protegidos. Nem com o detergente dos desenhos animados vão conseguir limpar-se. Ou, como diria o Calimero original, 'sou tão infeliz, ninguém gosta de mim'."

Ricardo Santos, in O Benfica

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