Se a tendência de janeiro continuar na Premier League, as coisas podem ser muito diferentes daquilo que estamos habituados.
Obviamente, Roberto Martínez nunca iria apontar publicamente defeitos a um jogador que está na lista para o Europeu; obviamente, que os colegas de equipa ou seleção têm por norma ser elogiosos para com os seus pares.
E se o selecionador arrisca menos vezes para não se comprometer, também é verdade que Roberto Martinez sempre tratou publicamente João Neves com distinção, em todas as intervenções. Fê-lo, por exemplo, em janeiro em entrevista em A BOLA e fê-lo, agora, num podcast com Rio Ferdinand para toda a Premier League ouvir.
Já Bernardo Silva nunca teve problemas em dizer o que pensa, seja sobre vir a ser um treinador diferente dos portugueses, seja sobre as eleições do Benfica ou olhar para a ida de João Félix para o Atlético de Madrid.
A Figura do Ano de 2023 de A BOLA não hesitou em dizer que levava João Neves para o ManCity, enquanto o selecionador diz que o médio do Benfica tem capacidade para jogar no Manchester United. Parece, assim, indiscutível pela voz de outros a qualidade de João Neves. Usando as palavras de Bernardo…«Não vai ser um jogador muito barato, calculo que não seja fácil entrar na corrida por ele. Que tome a melhor decisão para ele, tem futuro muito bom pela frente.»
Em duas orações, Bernardo Silva disse quase tudo. Quase.
O mercado de transferências tem complexidade, e se os clubes portugueses necessitam de ser mais criativos que outros, podem vir a enfrentar dificuldades acrescidas. A Premier League costumava ser a dona disto tudo, mas como se viu em janeiro, o incumprimento do Profit and Sustainability Rules – o regulamento de sustentabilidade financeira – levou a um desinvestimento brutal. O mercado de verão é sempre maior, mas os sinais que vêm de Inglaterra são de que mais emblemas podem vir a sofrer consequências por incumprimento de regras financeiras e, com isso, haverá então algum refreio no investimento? Em teoria, é possível. O que, a suceder, torna as coisas mais complicadas para todos.
O fenómeno da Arábia Saudita deu uma oportunidade aos ingleses, na medida em que permitiu a que os clubes da Premier League conseguissem encaixar dinheiro com futebolistas cujos ordenados seriam altos para Bundesliga, La Liga, Ligue 1 ou Serie A. Ou seja, mais difíceis de vender. Portanto, perante o receio do PSR, alguma parte dos ingleses pode ter de pensar mais em vender bem do que comprar. Com os ordenados praticados pela Velha Albion, esse será sempre um desafio. No fundo, o que antes se dava quase como adquirido – que a Inglaterra iria comprar muito e por mais, até porque está a um ano de entrar no novo acordo televisivo já negociado e essa, em vez da inflação, é a verdadeira razão dos preços de transferências aumentarem – ficou em dúvida.
Ainda estamos muito no início do mercado de transferências, mas se a quantidade de negócios baixar e, sobretudo, a tendência de janeiro de contenção em Inglaterra permanecer, pode ser fundamental aos grandes portugueses olhar para o mercado através de uma só grande venda, em vez de várias que deem um valente somatório.
É neste contexto que o Benfica – outros igualmente - precisará também pensar quando o tema se trata de João Neves. Inevitavelmente, o médio será o jogador mais cobiçado dos encarnados e, portanto, a maior possibilidade de encaixe. As águias farão tudo para obter o melhor preço e acenarem com a cláusula de rescisão, ideia poucas vezes entendida pelos adeptos como estratégica e quase sempre como condição única para o negócio.
Porém, se o cenário acima se verificar, as contas poderão ser feitas de outra forma, mesmo que, como Bernardo disse, Neves não venha a ser um jogador barato, nem venha a ser fácil entrar na corrida por ele. Depois, claro, há a segunda sentença do canhoto do Manchester City. Que Neves tome a melhor decisão para ele. Imaginemos que o Manchester Utd bate 120 milhões de euros. Agora imaginemos que o Real Madrid oferece 90. Quem é que vai dizer a João Neves que ele não pode ser o substituto de Toni Kroos?
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