quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

NA MEIA-FINAL DA TAÇA DE PORTUGAL



Foi um jogo interessante, até pela irreverência arsenalista, com vitória, por números que deviam ter sido mais expressivos, de quem apresentou melhores argumentos. Minhotos só assustaram num lance de bola parada...
Ao derrotar o SC Braga, pela margem mínima, mas de forma clara, o Benfica deu um passo de gigante para chegar à final da Taça de Portugal, que já não vence desde 2017. Nesta altura, entre os encarnados e o Jamor, encontra-se o Tirsense, a primeira equipa do quarto escalão do nosso futebol (9.º da Serie A do Campeonato de Portugal) a atingir as meias-finais da prova rainha. E, atenção, os jesuítas têm história na Taça, ou não tivessem eliminado o Sporting dos Violinos (em dia em que Cândido de Oliveira fez poupanças a pensar na final da Taça Latina, com o Barcelona) por 2-1, a 17 de abril de 1949.
Assim, como só a pescada antes de o ser já o era, os encarnados não podem, nem devem, dar nada por garantido, por respeito ao Tirsense, e também por saberem que no futebol ninguém ganha nada antes do jogo acabar. Mas essas serão contas de outro rosário, para já importa saber de que forma o Benfica fez na Taça aquilo que não tinha conseguido na Liga: derrotar a equipa de Carlos Carvalhal. De então para cá, muita água correu debaixo das pontes, os arsenalistas estabilizaram e passaram a ser mais regulares, e o Benfica tornou-se numa equipa mais solidária, mais compacta e mais eficaz, independentemente de terem estado ausentes dois jogadores que normalmente funcionam como cola entre setores, Florentino e Manu. E talvez seja interessante começar precisamente pela transformação verificada na equipa de Bruno Lage, que perdeu em arte aquilo que ganhou em pragmatismo, prefere correr menos riscos desnecessários nas saídas de bola, e defende, com todos, de forma compacta e organizada.
Tanto isto é verdade quanto o SC Braga, que foi à Luz, desinibido, para discutir o jogo, apenas por uma vez, na sequência de um canto, por Racic (23), colocou em risco as redes à guarda de Samuel Soares (grande tranquilidade e excelente jogo com os pés). No mais, o futebol de bom quilate que saia dos pés de Ricardo Horta, Roger e depois Gharbi, foi neutralizado pela solidariedade e entreajuda benfiquistas. Com uma equipa montada em 4x2x3x1, Carlos Carvalhal teve em Racic um ‘joker’, que procurou jogar entre linhas, à frente de Moutinho e Gorby e atrás de El Ouazzani.
á o Benfica, começa a mostrar, ao longo dos 90 minutos, algumas variantes muito interessantes, que aparentam estar sistematizadas: a equipa é capaz de jogar em 4x3x3, com Kokçu como elemento mais recuado, destinado a pautar jogo no trio de meio-campo; como passa para 5x4x1 com a integração de Dahl como lateral esquerdo e a passagem de Carreras para defesa central; como ainda adota um 4x4x2 puro, como aconteceu quando teve Pavlidis e Belotti em campo em simultâneo; e mostra também capacidade para se transformar num 4x3x2x1.

O que têm todas estas variantes do 4x3x3 inicial em comum? O pouco espaços entre setores, e a agressividade no momento da perda da bola. Foi isso que maiores dificuldades criou ao Sporting de Braga, e Carvalhal percebeu-o bem, preferindo que a sua equipa saísse a jogar com futebol direto; porém, quis o destino que numa das raras vezes em que procurou iniciar a jogada de trás, Paulo Oliveira teve um mau passe que Dahl intercetou, servindo de imediato Pavlidis que assinou um golo de bandeira. A vantagem do Benfica, que já tinha atirado uma bola ao poste por Akturkoglu (6) e vira Bruma (37) rematar de mira levantada sobre a baliza do muito promissor Hornicek, era mais do que justificada, e só não foi ampliada antes do intervalo porque aos 45+2 um cruzamento de Carreras não foi aproveitado nem por Kokçu, nem por Bruma.
DANÇA DOS BANCOS
Na segunda parte, Carvalhal não mexeu na estrutura, mas alterou peças, chamando a jogo Fran Navarro e Bambu. Mas o sinal mais, em termos de oportunidades continuou a ser do Benfica, que viu Bruma (54) e Pavlidis (57), muito perto de aumentar o ‘score’. Foi então que Carvalhal, sagaz, decidiu ‘partir’ o jogo, tirando Moutinho e fazendo entrar o excelente Gharbi para a esquerda, e passando Horta para as costas de Navarro.
Bruno Lage percebeu que o xadrez minhoto estava alterar-se e, aos 67 minutos, assumiu um 4x4x2 de inspiração nórdica, com as linhas recuadas e juntas: Belotti foi para o lado de Pavlidis, e Aursnes passou para defesa direito, entrando Barreiro para o meio-campo. Mas o SC Braga aumentou a pressão, passou a defender mais alto e Bruno Lage teve de corrigir a correção, passe a redundância: aos 79 minutos colocou o Benfica a jogar em 4x2x3x1, tirando Pavlidis, situando Amdouni nas costas de Belotti, e refrescando a ala esquerda com Schelderup na vez de Dahl.
O Benfica retomou o controlo da partida e não mais o perdeu, não obstante as entradas, nos minhotos, e Diego e Gabri, mais vocacionados para o ataque. O jogo chegaria ao fim com o Benfica a afirmar-se como justo vencedor, e o SC Braga, que não fez mais porque os donos da casa não deixaram, a explicar a razão de ter os mesmos pontos do FC Porto. Daqui para a frente, mesmo quando regressar Di María, o Benfica irá manter esta dinâmica coletiva, que defende e ataca, e se mostra altamente competitiva? Esta é uma questão que terá resposta na forma como Bruno Lage quiser aproveitar as qualidades do astro argentino, sem ser penalizado pelas suas insuficiências. Para já, do ponto de vista coletivo, na movimentação e na entrega, esta versão do Benfica é a que mais se assemelha à equipa encarnada que foi campeã com Bruno Lage.
Grego foi Vangelis e compôs a banda sonora da passagem às 'meias' da prova rainha. Otamendi no papel de 'El Patrón', intratável a defender. Akturkoglu e Bruma desperdiçaram na hora de avolumar o resultado.
O melhor em campo: Pavlidis (7)
Longe vão os tempos em que Pavlidis parecia peixe fora de água no entrosamento com os colegas e na hora de finalizar. O patinho feio da fase inicial da temporada deu lugar a um cisne na frente de ataque, agora acutilante a servir os companheiros — como mostrou ontem logo aos 6, em passe a desmarcar Akturkoglu para remate ao poste direito de Hornicek — e muito mais incisivo (e decisivo) na hora de alvejar a baliza adversária. Mostrou-o no remate (17') à malha lateral de ângulo apertado, mas ainda mais no golo que decidiria o jogo, aos 39', quando com uma primorosa receção de bola tirou de imediato Arrey-Mbi da frente (e do lance), para disparar forte e colocado junto ao poste direito de Hornicek. Podia ter bisado aos 57', a passe de Akturkoglu, mas foi surpreendido pela inesperada falha de Bambu e não acertou na bola.
SAMUEL SOARES (6) — Não foi testado com o Boavista e ontem também não. Ainda apanhou susto (24') com cabeceamento de Racic a rasar o poste esquerdo, mas no resto foram 45' tranquilos até ao intervalo, que só deram para mostrar jogo de pés, ao qual teve de recorrer várias vezes após o descanso. Mas defesas para fazer foram... zero — só teve de usar as mãos para amarrar cruzamento (74') de Chissumba e sacudir um canto (90+6') ao cair do pano.
TOMÁS ARAÚJO (6) — Com pouco trabalho defensivo até ao apito para o descanso e sem se projetar muito ofensivamente, ajudou ao equilíbrio na transição defensiva. Mais afoito no segundo tempo, aos 64', sem ninguém pela frente, subiu e tentou remate à entrada da área, que passou ao lado do poste. Foi rendido logo depois.
ANTÓNIO SILVA (6) — Estava com Racic, que cabeceou (24') muito perto do poste, no lance mais perigoso do SC Braga em todo o jogo. Mas no resto, em termos defensivos, cumpriu a missão a preceito. Não arriscou na hora de tirar a bola da zona de perigo.
OTAMENDI (7) — Controlou a primeira parte na linha defensiva encarnada e foi um autêntico patrão na segunda parte, sobretudo quando o SC Braga apertou mais em termos ofensivos, em busca do empate: grande corte na área aos 85', excelente antecipação aos 87' e outra varridela crucial aos 90', a matar as esperanças dos bracarenses em levar o jogo para prolongamento.
CARRERAS (6) — Muitos duelos com Roger não o impediram de carrilar jogo ofensivo, num vai-e-vem estonteante, mas sem o melhor acerto nos cruzamentos. Teve um, absolutamente venenoso, mas talvez demasiado tenso, aos 45+2', mas nem Bruma nem Kokçu conseguiram emendar para dentro da baliza.
AURSNES (6) — Independentemente da posição e dos terrenos que pisa, é sempre um faz-tudo, uma formiguinha trabalhadora, e percebe-se que é a jogar no meio-campo que tem a praia ideal. Com a saída (65') de Tomás Araújo foi para lateral-direito e foi apertado por Gharby nos minutos finais, deixando-o fugir aos 85', também por falta de apoio de Akturkoglu, que, ao contrário do norueguês, já estava nas lonas.
KOKÇU (6) — Serviu passe magistral para Akturkoglu aos 31', mas Hornicek evitou o que seria o 1-0. Algumas vezes em inferioridade numérica no meio-campo, cerrou os dentes e ganhou as bolas.
DAHL (6) — Aproveitou da melhor forma má receção de Paulo Oliveira para ficar com a bola, levantar a cabeça e descobrir Pavlidis à entrada da área, para remate que deu o 1-0. Fê-lo com toda a serenidade que o anda a caracterizar, apesar de ter apenas 21 anos.
AKTURKOGLU (6) — Entrou a todo o gás e estremeceu o poste direito de Hornicek logo aos 6', a passe de Pavlidis, e aos 31' recebeu grande passe de Kokçu para remate à meia volta parado pelo keeper bracarense. Não se entendeu bem com Bruma nalguns momentos.
BRUMA (6) — Não faltaram oportunidades para marcar no reencontro com a antiga equipa (só o fez em posição irregular, aos 26'). Teve o 2-0 nos pés aos 54', mas Hornicek impediu a traição.
LEANDRO BARREIRO (5) — Entrou aos 65' para meter gelo no ímpeto bracarense e fazer a bola circular.
BELOTTI (5) — Substituiu Bruma aos 66', foi apanhado em fora de jogo aos 71' e amarelou Bambu aos 90+1'.
AMDOUNI (5) — Discreto no ataque, com pouca bola, adensou a muralha encarnada nos minutos finais.
SCHJELDERUP (6) — Rematou forte aos 84' para defesa de Hornicek e entreteve as bancadas com grande lance aos 88', a tirar Victor Gómez e Paulo Oliveira da frente mas a rematar à figura.

JOÃO REGO (-) — Colecionou mais uns minutitos. 

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