Argentino fez muita falta na eliminatória com o Barcelona, até porque não houve Bruma. Uma escolha de Lage que se revelou um erro.
O Benfica caiu nos oitavos de final da UEFA Champions League. Natural desde o dia em que o sorteio colocou o Barcelona no caminho dos encarnados e previsível, digo eu, a partir do momento em que tivemos conhecimento que Di María não estaria disponível para a eliminatória com os catalães, devido a lesão.
Considero o argentino um verdadeiro craque. Daqueles de classe extra, apesar dos 37 anos, que, claro, têm cada vez mais peso no seu futebol. O campeão do mundo já não voa, como quando chegou à Luz há 18 anos. Então já era um predestinado e, naturalmente, não demorou a dar o salto para a elite do futebol europeu. Ao currículo acrescentou só Real Madrid, Manchester United, PSG e Juventus!
Há dois anos não resistiu aos apelos ao coração e voltou ao Benfica. Para fazer a diferença. O regresso só não teve mais impacto porque se lhe deparou um fenómeno chamado Gyokeres, o melhor jogador do campeonato. No transato e no atual. Mas depois do goleador do Sporting segue-se… Di María. E como senti a falta dele ao ver os encarnados jogarem no Olímpico de Montjuic.
O extremo é daqueles que faz a diferença a cada momento. A cada drible, a cada cruzamento, a cada remate. Ou mesmo sem nada disto. Basta ter a bola para intimidar o adversário. Bola no pé esquerdo de Di María são segundos, preciosos, para toda a equipa. Para subir no terreno, para se posicionar corretamente. Para ganhar confiança. O argentino é um líder natural, daqueles que contagiam todos os companheiros. Para mim, é claro que há um Benfica com Di María e um Benfica sem Di María. Arrisco mesmo a dizer que o Benfica vale metade sem Di María.
Infelizmente para os encarnados, o argentino lesionou-se num momento de extrema importância para o clube, que sonhava com uma grande época europeia, em regressar aos anos gloriosos. Os astros até se alinharam no jogo da primeira mão desta eliminatória, com a expulsão de Cubarsí logo aos 20 minutos, e logo nesse momento senti a falta de… Di María. Eu e, não tenho dúvidas, Bruno Lage. Tanto assim foi que mesmo a jogar em superioridade numérica o treinador só praticamente a meia hora do fim fez a primeira substituição, fazendo entrar… Samuel Dahl. Um lateral/médio/extremo-esquerdo muito útil, mas longe de ser um desequilibrador. E como o Benfica necessitava de quem fizesse a diferença…
Perdeu na Luz e logo a eliminatória ficou como que hipotecada, pois a partir desse momento era preciso ganhar em Barcelona. O que, obviamente, não era impossível, mas todos sabíamos que era muito, muito difícil, até porque os catalães têm uma grande equipa, recheada de craques, da defesa ao fantástico trio de ataque. O mesmo será dizer que com Raphinha, Lewandowski e Yamal o Barcelona raramente fica em branco, o que só complicava as contas, porque para os encarnados manterem o sonho vivo um golo não chegaria — como não chegou.
Mesmo tendo começado a perder e chegado ao empate em Montjuic, o Benfica nunca deu a sensação de poder discutir a eliminatória. Pedri, um monstro de 22 anos, marcou todos os ritmos no meio-campo das águias, como se Florentino, Kokçu e Aursnes não existissem, e quase durante todo o jogo fiquei na dúvida sobre quem era o defesa e quem era o extremo no duelo entre Baldé e Akturkoglu, tal a diferença de andamento entre o espanhol e o turco! E só me lembrava de… Di María.
A propósito, recordei-me também de… Bruma. Devo confessar que fiquei surpreendido com as escolhas de Bruno Lage no momento de eleger os nomes para as três inscrições permitidas pela UEFA para a fase a eliminar da Champions. Na reabertura do mercado, em janeiro, o Benfica contratou Samuel Dahl, Manu Silva, Bruma e Belotti e o treinador teve de optar por três dos quatro reforços. Prescindiu do ex-bracarense e percebi a decisão, já que estava impossibilitado de disputar o play-off, uma vez que tinha dois jogos de castigo por cumprir, o que o teria impossibilitado de defrontar o Mónaco.
Percebi, mas não concordei. Nestas situações, faço sempre o mesmo exercício: colocar-me no papel de quem tem de decidir.
Sempre pensei que a contratação de Belotti estivesse relacionada com a saída de Arthur Cabral. O brasileiro deixava a Luz e o italiano ficava como substituto de Pavlidis. Só que ficou e a partir desse momento o meu preterido era Belotti. Porque teria Arthur Cabral, que custou 20 milhões de euros…, como alternativa ao grego e porque estava também a potenciar os ativos do clube. O ponta de lança italiano está emprestado pelo Como e tem 31 anos. Samuel Dahl — uma agradável surpresa para mim, que não o conhecia bem e pensava que era apenas lateral-esquerdo e ainda em afirmação; o sueco, afinal, é um jogador versátil, muito bom tecnicamente e com uma cultura tática acima da média, que vai, certamente, dar muito jeito nesta fase decisiva da temporada —, também está cedido, pela Roma, mas tem apenas 22 anos e uma opção de compra bem apelativa: 8 milhões de euros.
Claro que Manu Silva, entretanto vítima de grave lesão, não entra nestas contas. Infortúnio do destino à parte, o ex-vimaranense seria sempre inscrito. Eu teria arriscado na inscrição de Bruma, não só por ter custado €6,5 milhões, mas principalmente por ser um desequilibrador. Um daqueles que decidem jogos e que tem uma característica que muito aprecio: o transporte de bola.
O internacional português teria dado muito jeito frente ao Barcelona, e falo apenas do jogo da Catalunha, porque teria a capacidade de esticar o jogo das águias, que se apresentaram sempre com a manta muita curta. A qualidade coletiva e individual do Barcelona obrigava a baixar o bloco e depois não havia quem conseguisse ligar o jogo com o ataque.
Teria sido muito útil neste jogo, como tem sido no campeonato, principalmente nesta fase sem… Di María.
Hugo do Carmo, in a Bola
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