quarta-feira, 9 de abril de 2025

1-4 X2: A LIÇÃO DO PROFESSOR LAGE


"O BENFICA
Longe vai a noite de 25 de janeiro, necessariamente fria para os corações benfiquistas. Depois da derrota em Rio Maior, na visita ao competente Casa Pia, Bruno Lage deu a cara, fez um pedido e uma promessa.
«Ajudem, vou resolver esta m****.»
O treinador cumpriu. Com ou sem a ajuda dos adeptos a quem falou, Lage foi capaz de juntar os cacos e devolver o Benfica aos níveis que a dimensão do emblema exige.
Nove vitórias consecutivas no campeonato, uma eliminatória perdida mas bem discutida contra o Barcelona, o futebol mais estável e convincente em Portugal.
A visita ao Dragão, terreno historicamente inclemente para o Benfica, levantava naturais e fundadas preocupações.
Ora, o melhor elogio que se pode fazer a Bruno Lage é este: o treinador setubalense foi professor e mestre, deu uma lição de organização e boas ideias ao perdido Anselmi, e regressou a Lisboa justamente aclamado e respeitado pelo mundo encarnado.
Lage injetou a exata capacidade de luta, de guerra, e acertou em todas as peças. Mesmo Tomás Araújo, visivelmente limitado, foi capaz de aguentar até ao limiar das dores.
Não fossem duas perdas de bola infantis e perigosas de António Silva e Florentino, nos primeiros 25 minutos, e o FC Porto estaria até agora à procura dos caminhos para a baliza de Trubin.
Otamendi esteve fantástico, Álvaro Carreras meteu nos bolsos o imberbe João Mário e mais quem lhe apareceu, Kokçu exibiu a melhor versão, Aursnes foi um gigante e Di María meteu a bola onde só ele conseguiria meter para o 0-3.
E Vangelis Pavlidis? Soberbo, perfeito. Frio, cirúrgico e tecnicamente superior. Pobres centraizinhos do FC Porto e pobres portistas. O grego é um ponta-de-lança tremendo, uma contratação excelente.
Atravessou um período duro entre novembro e janeiro (três golos em três meses), susteve críticas, ouviu bocas, aguentou o que tinha de aguentar. Em abril é uma unidade fundamental, um goleador extraordinário. Fez na casa do FC Porto o que nenhum monstro sagrado na história do Benfica foi capaz de fazer.
4-1 na Luz, 1-4 no Dragão, 8-2 ao FC Porto na Liga 24/25. Mérito total ao professor Lage.

O FC PORTO
O FC Porto perdia 0-2 ao intervalo. Em casa, frente ao maior rival, num estádio magnífico e pintado de azul e branco.
O que fez a equipa no regresso para a segunda parte? A questão é simples e a resposta, para quem não viu o jogo, seria mais ou menos esta: «Foi com tudo para cima do Benfica».
Num FC Porto normal, num FC Porto até razoável, teria sido assim. Mas este é um FC Porto miserável sempre que o nível de dificuldade sobe. É fraco e desalmado.
Os dragões entregaram a bola, desligaram-se do jogo, receberam mais três avisos sérios e lá sofreram o mais do que justo e lógico terceiro golo das águias.
Uma equipa sem nada. Um vazio total. Uma falta de respeito pela história, pelos adeptos, por quem sabe o que é o FC Porto. Uma equipa falhada.
André Villas-Boas tem, pelo menos, duas encruzilhadas pela frente.
Se a sua intenção for, como acredito, devolver o FC Porto ao domínio nacional e à competência na Liga dos Campeões, o presidente terá de se libertar de muitos destes jogadores. Não têm, simplesmente, qualidade para vestir a camisola azul e branca.
A garantir dada sobre a continuidade de Martín Anselmi deixa-o amarrado às ideias deste treinador. São interessantes? Sim. Ricas? Aparentemente. Boas? Só se funcionarem. E com estes jogadores está mais do que visto que não funcionam. E não será por mera teimosia que isso vai mudar.

PS1: nos últimos 47 anos (1978 – 2025), o Benfica venceu seis vezes na casa do FC Porto para o campeonato – cinco deles nos 20 anos mais recentes. Em 1991 houve a tarde de César Brito, em 2005 a noite de Nuno Gomes e em 2014 a glória de Lima. Pavlidis passa a ter também o seu Clássico, por direito próprio.

PS2: «No caso do Neuhén temos uma opção de ativar essa compra e estamos muito interessados em fazê-lo.» AVB revelou através do JN/O Jogo a intenção de adquirir em definitivo o passe do central argentino. Nehuén mereceu um investimento de quatro milhões pelo empréstimo e custará 13,3 milhões se Villas-Boas cumprir essa intenção. Será um dos piores negócios do FC Porto de que tenho memória. Neuhén é banal em tudo: no ar, na marcação, na leitura, na agressividade, na velocidade, na construção. Na primeira parte do Clássico tentou, sem oposição, fazer três passes longos da direita para a esquerda. Todos errados. Anselmi perdeu a paciência e proibiu-o de repetir a brincadeira. Não tem condições para um FC Porto de elite, como não têm Otávio, João Mário, André Franco, Gonçalo Borges, Zaidu, Grujic…

PS3: o Benfica jogou o Clássico com três animais competitivos – Otamendi, Aursnes e Di María. O FC Porto não tem um único desta estirpe no plantel. Otávio (o bom), Pepe e Chico Conceição fazem muita falta." 

Pedro Jorge da Cunha, in ZeroZero

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